Artigo: Confiança, apesar de tudo

Por ETCO
09/04/2012

Por Roberto Abdenur

Temos alertado com frequência sobre o grave problema da corrupção no País. Só se multiplicam as notícias sobre escândalos envolvendo personagens de todos os setores. Multiplicam-se também atitudes e ações que primam pela falta de ética.

Desvio de verbas, nepotismo, favorecimento, prevaricação, sonegação, falsificação e contrabando. Essas palavras rondam o noticiário sobre a sociedade brasileira em todas as suas esferas.

A questão chegou a tal nível que leva a população a perder a confiança em boa parte das pessoas que podem ser representantes da sociedade em um ou outro palco. O ceticismo se dissemina com a mesma celeridade que as ações não éticas daqueles que são escolhidos para defender os interesses da sociedade como um todo.

Tendemos, assim, a generalizar a situação e nos convencer de que ninguém merece nossa confiança, porque todos, cedo ou tarde, acabam por se locupletar. Esse sentimento, porém, deve ser repudiado desde logo.

A história do consumidor que ia à padaria da esquina de sua casa toda manhã para comprar pão é um exemplo singelo, mas significativo. Acompanhado de um amigo, em uma dessas manhãs, ele surpreendeu a este com sua calma ao ser praticamente destratado pelo balconista. “Como você aceita ser tratado assim e ainda o trata bem?” A resposta foi rápida: “Não é porque ele é mal-educado que eu também serei. Eu sou bem-educado e é isso que me importa.”

Não é porque uma autoridade age de maneira contrária aos princípios da ética que vamos fazer isso também. Ao contrário, devemos mostrar o quanto rejeitamos essa postura, fazendo o que está ao nosso alcance. Há pessoas que se envolvem em causas, organizações não governamentais, grupos e partidos políticos. Outras não.

O importante é agir sempre em consonância com a ética. Por exemplo, não devemos adquirir produtos sem nota fiscal. Ela é a segurança de que os impostos relativos ao produto serão recolhidos. E também serve de garantia de qualidade do produto para o consumidor. Se não há nota fiscal, o produto pode ser fruto de contrabando, falsificação e até mesmo roubo.

O Brasil é um exemplo de vanguarda e pioneirismo em muitas de suas leis. O Código de Defesa do Consumidor é um exemplo. Por que desprezar o esforço de tantos para desenvolver esse processo de proteção e adquirir produtos sem origem comprovada e sem pagamento de impostos? Não faz sentido.

Se o imposto vai ter o destino que deve ter é outra história. Para isso, o melhor meio em uma democracia é escolher com cuidado os representantes que vamos eleger. O exercício de delegar poder começa na escola, quando escolhemos representantes de classe ou integrantes de alguma comissão. Continua no trabalho, na rua, no bairro, e, finalmente, ganha a dimensão da representação política.

Com o argumento da desconfiança quanto à aplicação correta dos tributos, muitos deixam de pagar impostos, ou fazem malabarismos questionáveis para reduzir seu valor. Isso também é um equívoco, porque pode ter consequências pessoais: evasão fiscal é crime tributário.

A carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo. Aproxima-se de 40% do PIB. Pior, os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os mais ricos. Apesar disso, devemos pagar nossos tributos, delegar aos nossos representantes a função de modernizar o sistema tributário e fiscalizar se eles estão mesmo fazendo isso.

De novo, não é porque outro age errado que vamos agir assim também. Cada vez que agirmos de forma ética no particular estaremos influenciando o geral. Se cada um agir corretamente, o todo será a atuação correta. Pode ser que isso leve tempo, mas não podemos pensar no curto prazo apenas. Esse será o legado para nossos filhos e netos. O legado de transformar um país que já foi pobre e caótico em um Estado com cidadãos respeitando-se mutuamente em todas as circunstâncias.

Para qualquer país, a pior crise que existe é a de confiança. Não podemos sucumbir à sua força destrutiva. Se nos convencermos de que nada poderá ser feito, não teremos como consertar este país. Por fim, temos que ter líderes corajosos o suficiente para nos mostrar o rumo. Eles existem. Fazem trabalho sério e colocam o interesse geral muito acima do interesse pessoal. São os exemplos a serem seguidos para o Brasil cumprir o seu destino.