Economistas criticam medidas de estímulo anunciadas pelo governo

Por ETCO
30/05/2012

Fonte: O Globo Online (Rio de Janeiro – RJ) – 21/05/2012

Eles dizem que cortes têm efeitos limitados e de curto prazo e defendem reformas mais profundas

As medidas de incentivo à economia anunciadas na noite desta segunda-feira pelo Ministério da Fazenda – redução de IPI para automóveis e de juros para algumas linhas de financiamento do BNDES – podem não gerar o impacto esperado, segundo economistas. Para eles, o governo pode até gerar alguma melhoria de curto prazo, mas isso não será duradouro e pode, inclusive, aumentar o risco de aumento da inadimplência no futuro.

O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que, dado os fracos números da atividade econômica, o governo acerta em propor estímulos à economia. Ele, contudo, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir a eficácia esperada:

– Acredito que estamos perto da exaustão de um modelo que teve grande sucesso entre 2005 e 2010, com o incetivo ao consumo baseado no aumento do financiamento. As famílias estão muito endividadas. Este modelo pode gerar problemas futuros de inadimplência, que já está preocupante mesmo com emprego e renda e alta. O governo precisava se perguntar o motivo da economia continuar patinando, mesmo com juros tão baixos, e rever o modelo, buscar uma forma de se incentivar o investimento – afirmou o professor.

Ele acredita que medidas mais horizontais, como redução na burocracia e de impostos de forma mais linear, poderiam surtir mais efeitos. Castelar questiona, inclusive, a redução de juros do BNDES:

– Essa redução impacta mais as grandes empresas. E os empresários não lamentam a falta de financiamento, mas a burocracia, problemas tributários e trabalhistas. O governo precisa melhorar o ambiente de negócios. Os resultados podem demorar um pouco mais, mas é algo mais duradouro – disse.

Carlos Langoni, professor de economia da FGV e ex-presidente do BC, concorda que as medidas poderão gerar algum alívio de curto prazo, mas que isso não será suficiente. Em sua opinião, o governo deveria aproveitar o momento para retomar uma agenda de reforma audaciosa, focada principalmente na reforma tributária.

– O governo está usando incentivos pontuais e seletivos, que têm efeito positivo, porém limitado. Além disso, o esforço total do governo tem sido na redução dos juros. Eu não acho que o problema esteja na demanda, mas na oferta. O governo precisa incentivar o investimento, mas o Brasil atualmente pune o investimento, a poupança e o emprego formal. O governo poderia aproveitar o momento da economia mundial, de uma longa estagnação das economias desenvolvidas e de uma forte desaceleração dos grandes emergentes, como a China, para votar a reforma tributária, o que teria grande apoio da sociedade – disse.

O professor Fábio Kanzuc, da USP, afirma que o impacto positivo destas medidas que se repetem são cada vez menores:

– A população está muito endividada, medidas como esta ficam cada vez mais ineficientes. E, além do limite do endividamento das famílias, há o limite das cidades, que já estão lotadas de carros – disse.