Crimes sanitários são mais lucrativos para criminosos
Organizações criminosas que antes atuavam no tráfico de drogas, armas e outras modalidades ilícitas estão migrando agora para a prática do crime sanitário, mais especificamente na falsificação e contrabando de remédios. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a cada 10 apreensões de armas e drogas, em pelo menos uma são encontrados medicamentos de origem ilegal. Em Mato Grosso, uma quadrilha especializada na fabricação de remédios fitoterápicos, o popular “Gotas do Zeca”, continua atuando e distribuindo o medicamento para todo o país.
Em maio do ano passado, durante a operação “Drágea”, a Polícia Federal junto com representantes da Anvisa, Vigilância Sanitária Estadual e Ministérios Público Federal e Estadual, fechou uma fábrica do medicamento em Cuiabá. Na ocasião, constatou-se a fabricação de embalagens, bem como o envasamento e a distribuição do fitoterápico, comercializado nas feiras livres de todo o país. Mais de 200 mil frascos foram apreendidos, assim como os equipamentos.
Segundo o chefe do setor de inteligência da Anvisa, Adílson Batista Bezerra, a troca do entorpecente por remédios, que é feita pelas organizações criminosas, tem apenas uma explicação: o lucro. Enquanto 1 quilo de heroína rende cerca de US$ 3 mil dólares de lucro, 1 quilo de remédio de alto custo falsificado dá o retorno de US$ 75 mil dólares, segundo estimativas da Interpol.
Mato Grosso, além de funcionar como centro distribuidor do fitoterápico “Gotas do Zeca”, é a porta de entrada para demais medicamentos falsificados. O contrabando é feito principalmente por meio das fronteiras com a Bolívia e o Paraguai.
Os remédios que mais são falsificados, de acordo com Bezerra, são os voltados para problemas de ereção, anabolizantes e emagrecedores, respectivamente. O cenário é o mesmo em todo país.
“A maioria, cerca de 95%, é encontrada dentro de farmácias clandestinas, que não possuem alvará de funcionamento, nem farmacêutico responsável”.
RISCOS À SAÚDE – As “Gotas do Zeca” contêm apenas xarope de sacarose (água com açúcar) e extrato de plantas, segundo análise laboratorial da Anvisa. Mas promete, de acordo com o rótulo, ser a solução para todas as “moléstias do intestino, estômago e fígado”. Se ingerido em grandes quantidades por um diabético, por exemplo, pode matar. Outro problema é que, sem registro não há fiscalização, sequer da água usada como princípio ativo básico do produto, que pode estar contaminada com fezes.
A pena para quem for pego pelo crime de falsificação de medicamentos varia de 10 a 15 anos de prisão.
A Gazeta – Cuiabá/MT – CIDADE – 12/03/2010