Gentil advertência

Por ETCO


Por Nelson Vasconcelos, O Globo (Pirataria S/A) – 21/10/2004


O Brazil-U.S. Business Council está divulgando seu mais recente levantamento sobre o mercado pirata no Brasil. Além de apresentar números, sugere veementemente que o governo brasileiro invista num banco de dados sobre essas atividades ilícitas. Diz que isso permitiria melhor compreensão de todos sobre os impactos econômicos da pirataria sobre a economia do país.


Um relatório desse tipo bem serve de gentil advertência às autoridades competentes. O Brazil-U.S. Business Council é uma organização privada dedicada a promover o fluxo de comércio ? e investimentos ? entre Brasil e EUA. Entre suas atribuições, representa boa parte dos investidores americanos presentes no país. Ou seja: tem seu peso e pode influenciar o governo americano, que reiteradas vezes tem ameaçado endurecer as relações comerciais com o Brasil, na conta da pirataria.


Se produtos brasileiros forem retiradas do Sistema Geral de Preferência (SGP) por causa da pirataria, as perdas diretas, logo de cara, já chegarão a uns US$ 2,5 bilhões. A partir daí, é ladeira abaixo. Pessimismo? Não. Isso faz parte da política americana de maldades protecionistas etc. Eles que mandam ? pelo menos, por enquanto.


O relatório assume que existem várias limitações para fazer uma pesquisa profunda a respeito. Afinal, piratas não divulgam números oficiais… Essa clandestinidade, no entanto, não impede estimativas sobre as perdas dos vários setores da economia.


Assim, a pesquisa estima a perda de cerca de US$ 1,6 bilhão em vendas anuais em setores como indústria de software, fonográfica, tabaco e brinquedos, entre outros.


Para quem compra gravata pirata no Largo da Carioca nem parece, mas isso custa empregos. A indústria de brinquedos, por exemplo, fechou 80 mil vagas nos últimos anos (12% do mercado é composto por brinquedos falsos, impróprio para menores…). O relatório estima em 1,5 milhão o número de Barbies falsificadas vendidas a cada ano no país.


Já a indústria fonográfica dispensou 55 mil trabalhadores em cinco anos, com o fechamento de duas mil lojas em todo o país. Cerca de 40% de todos os CDs vendidos são falsificados. Com tendência de alta.


O estrago se faz também em mercados menos visíveis. É o caso da indústria óptica, que fechou 102 empresas e oito mil postos de trabalho em dez anos. Cerca de 70% de todos os óculos vendidos no país são falsificados.


Na chamada indústria de direitos autorais, as perdas chegariam a
cerca de US$ 800 milhões a cada ano, ainda de acordo com o relatório. No mercado livreiro, por exemplo, seriam US$ 14 milhões de perdas anuais, enquanto a indústria fonográfica alega perder US$ 339 milhões, com nível de pirataria chegando a 52% de todo o seu mercado. Se podemos falar em boa conseqüência disso, é que gravadoras estão estudando e investindo em novos caminhos para vender seus produtos de entretenimento. Diga-se que está longe de ser problema exclusivamente brasileiro ? ainda assim, pode servir de pressão para as autoridades americanas.


A pesquisa mostra ainda que a pirataria atinge 55% de toda a indústria de software, o que faz com que deixem de ser arrecadados cerca de US$ 187 milhões em impostos. Estima-se que dez pontos percentuais de queda na pirataria do setor gerariam US$ 335 milhões em impostos e 13.400 empregos diretos. É outro problema global: a Business Software Alliance (BSA) anunciou semana passada que 23% das empresas americanas usam algum software não licenciado.



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No fim das contas, já que a economia não cresce ou cresce menos do que deveria, boa parte do povo que perde o emprego tende a tornar-se pirata e consumidor de pirataria. É um poço sem fundo, círculo vicioso sem perspectivas de melhora.
Não faltam estimativas, enfim. O que falta, diz o Brazil-U.S. Business Council, é um grade banco que reúna toda a informação a respeito desse mercado. Dá trabalho, mas deve valer a pena.