Preço menor leva paulistano a optar por produto pirata

Por ETCO


Por Paula Alface, Diário de S. Paulo – 10/06/2005


Cerca de 70% dos paulistanos que compraram produtos piratas nos últimos 12 meses sabiam que estavam levando para casa uma falsificação. Essa foi uma das principais constatações de uma pesquisa realizada pelo Ibope na cidade de São Paulo e divulgada ontem pelo Instituto Dannemann Siemsen de Estudos de Propriedade Intelectual. O instituto ouviu 602 pessoas, de todas as classes sociais, entre os dias 7 e 13 de abril deste ano. A margem de erro é de 3,9 pontos percentuais para mais ou menos. O objetivo do levantamento era conhecer melhor quem é o consumidor de pirataria no maior centro de comércio e distribuição de cópias e contrabando em todo o país. E na primeira pergunta veio a surpresa: 60% das pessoas ouvidas assumiram já ter comprado um produto ilegal pelo menos uma vez. ?Na primeira pergunta da pesquisa já encontramos um dado alarmante?, comentou Silvia Cervellini, coordenadora da pesquisa.


A principal motivação do consumo é a economia na bolso. A maior parte dos consumidores acredita economizar mais da metade do preço original ao adquirir uma cópia. E isso vale para todas as classes sociais. Foram ouvidos consumidores das classes A, B, C, D e E e em todas elas o consumo existe. A única diferença é o tipo de produto. Entre os mais ricos, jogos eletrônicos e brinquedos piratas são os campeões de vendas. Entre os mais pobres, a preferência é por roupas e calçados. ?É o que chamamos de consumo homogêneo?, explicou a coordenadora do estudo.

10 setores


A pesquisa concentrou os dados em 10 setores: roupas, brinquedos, tênis, relógios, óculos, bolsas, canetas, perfumes, jogos eletrônicos e  artigos de papelaria. Quando questionados sobre o consumo desses  produtos nos últimos 12 meses, os consumidores responderam ter adquirido um média de 10 unidades de artigos de papelaria piratas nos últimos 12 meses, a maior incidência. O segundo lugar ficou com os jogos eletrônicos, com nove unidades,e o terceiro com roupas, com oito unidades.


Raio X da pirataria (Ibope/Instituto Dannemann Siemsen)


Nem sempre a economia é tão significativa. Nos produtos de papelaria, por exemplo, a média de gasto é de R$ 5,60. Muito diferente do ganho financeiro conseguido com a compra de tênis, por exemplo, setor em que o gasto médio com a falsificação é de R$ 42,03 e o preços dos originais oscila entre R$ 200 e R$ 300. Se no bolso do comprador as vantagens nem sempre são grandes, nos cofres públicos e no caixa das empresas o efeito é, muita vezes, devastador. Projeções realizadas pela Câmara Americana de Comércio, entidade que representa multinacionais norte-americanas no país, mostra que, se no lugar de produtos ilegais, os paulistanos consumissem os originais, a indústria paulista faturaria R$ 1,8 bilhão a mais e a União, o Estado e a Prefeitura arrecadariam R$ 720 milhões mais em impostos ? números incluem o consumo das 10 categorias de produtos citados. ?Mostrar isso à população é a melhor maneira de reverter esse quadro?, acredita Marcus Macedo, representante da Warner no Brasil.



Saiba mais


A Receita Federal e entidades da sociedade civil também discutiram a pirataria e seus impactos ontem, em seminário realizado em Foz do Iguaçu. O evento teve como foco a discussão dos impactos sociais que a falsificação traz na economia da cidade paranaense.


Levantamento feito por Sérgio Santos, delegado regional do Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita Federal (Sindireceita), detectou que 61 mil pessoas economicamente ativas da cidade têm o contrabando e a falsificação como fonte de renda. O trabalho formal é o ganha-pão de 41 mil pessoas de Foz do Iguaçu.


?Cerca de 60% da nossa economia é sustentada pela falsificação. O combate está sendo feito, mas precisamos agora estudar formas de minimizar esse impacto para a população?, explica Sérgio.


Ele alerta que o mesmodeve começar a ser discutido na cidade de São Paulo, maior centro de comércio e distribuição de artigos copiados. ?O impacto social é enorme e é preciso buscar saídas?, alerta o técnico da Receita Federal.


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