UE ameaça barrar produtos chineses

Por ETCO


Estado de S. Paulo, 25/04/2005


Reuters e AP


O comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, ameaça impor barreiras contra a importação de têxteis da China, caso o governo chinês não restrinja suas exportações. Mandelson anunciou que a UE vai abrir hoje uma investigação sobre a importação de nove categorias de produtos têxteis e de vestuário da China. A importação de alguns têxteis cresceu mais de 500% desde o fim do regime de cotas, em dezembro de 2004, que limitava a compra desses produtos.


“A Europa não pode simplesmente ficar parada, assistindo a esses acontecimentos. Chegou a hora de agir”, disse Mandelson, enquanto anunciava a abertura da investigação. “Se os fatos justificarem, vamos adotar salvaguardas.” Após a comissão executiva iniciar a investigação recomendada por Mandelson, a UE poderá impor barreiras formais aos produtos chineses em 150 dias.


Mas grandes produtores de têxteis, entre eles França, Portugal e Itália, afirmaram que a medida proposta por Mandelson é insuficiente. Eles querem que mais de 20 categorias de produtos sejam investigadas. Segundo as regras do acordo de entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, os países podem limitar as importações de têxteis e artigos de vestuário da China até 2008, desde que demonstrem dano a suas indústrias.


A China detinha 17% do mercado mundial de têxteis e vestuário em 2003, mas a OMC prevê que a participação chinesa suba para 50% nos próximos três anos.


Mandelson quer uma investigação minuciosa sobre o aumento de importações de camisetas, pulôveres, calças, sutiãs, meias, mantôs femininos, fio de linho e tecidos. Dados da UE mostram que no primeiro trimestre a importação de camisetas cresceu 164%, a de pulôveres subiu 534% e a de calças masculinas, 413%.


Muitos países não estão satisfeitos. “Deveríamos ir mais rápido nas medidas”, disse o ministro do Comércio da França, François Loos, depois de encontrar Mandelson ontem, em Luxemburgo, onde se realizaria uma sessão ministerial com os países da UE.


O ministro da Economia de Portugal, Manuel Pinho, disse que um grupo de 12 países europeus produtores de têxteis identificaram 20 categorias de produtos que devem ser investigados. “Pode ser que leve até nove meses, e, diante da seriedade da situação, queremos um procedimento de emergência”, disse Pinho, após encontro com Mandelson.


Mas outros empresários afirmam que os consumidores sairiam ganhando com o aumento da concorrência entre roupas importadas e qualquer medida para barrar produtos seria protecionista. “A indústria têxtil teve dez anos para se preparar para o fim das cotas. Não vemos motivos para impor barreiras agora”, disse Lars-Olof Lindgren, secretário do Comércio da Suécia.


A China havia imposto a si própria limitações às exportações desde janeiro, para evitar o temor de invasão. Mas Mandelson quer que o país faça mais. “Peço à China que reveja as medidas que impôs para limitar suas exportações e verificar se pode fazer mais do que isso.”