REVISTA ETCO – EDIÇÃO 27
DEZEMBRO, 2021
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“A ética submete meios e fins ao crivo do aceitável”

Hamilton Dias de Souza, mestre em Direito Tributário e Financeiro, é membro do Conselho do Instituto dos Advogados de São Paulo e da Academia Brasileira de Direito Tributário. Foi professor de Direito Tributário na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Hamilton Dias de Souza, membro do Conselho Consultivo do ETCO
Por Hamilton Dias de Souza
24/11/2021

Ética diz respeito aos limites para a ação humana e à identificação, num conjunto de possibilidades, das que são corretas. Não se trata de contemplação, mas de vida prática. Ela submete meios e fins ao crivo do aceitável. Por isso, na atualidade, ela adquire o papel de abalizar a estruturação do desenvolvimento, para manter a economia saudável e viabilizar a realização das escolhas políticas da sociedade.

Já a ética concorrencial tem o papel não só de distinguir atividades lícitas, ilícitas ou indesejáveis e coibir a concorrência desleal. Ela também norteia (ou deveria nortear) a forma como o Estado faz a “mediação” das forças de mercado.

Combate aos devedores contumazes

Em 33 anos de Constituição, muito se falou sobre corrigir desequilíbrios e direcionar a atividade econômica. Mas como lidar com um sistema tributário irracional e extorsivo, que leva alguns a lucrarem com base na inadimplência contumaz, em prejuízo dos concorrentes e consumidores? O que dizer de “reformas” que nada corrigem e apenas servem de pretexto para aumentar impostos?

Desde sua criação, o ETCO tem prestado contribuições concretas nessas questões. Devo recordar que o art. 146-A da Constituição (Emenda Constitucional 42/03) foi concebido por proposta do Instituto, que, hoje, atua pela aprovação, no Congresso, de Lei Complementar que regulamente o dispositivo. Grandes avanços no combate aos devedores contumazes não teriam sido possíveis sem o ETCO. Sem mencionar os aportes da instituição à reforma da tributação do consumo.

Reforma do Estado brasileiro

Pelo que já foi dito, muitos problemas tipicamente brasileiros são, no fundo, problemas éticos. Não é razoável que o Estado agigantado e a corrupção que grassa em alguns setores prejudiquem a economia, empobreçam o País e arruínem o bem-estar coletivo. Também há interesses particulares dos detentores do poder que, muitas vezes, se sobrepõem aos interesses públicos. Isso torna o aparato estatal ineficiente, gera gastos desnecessários e bloqueia a agenda de reformas. Daí ser tão complicado fazer o País voltar a crescer. Espero testemunhar uma reforma não apenas tributária, mas do Estado brasileiro, que seja ampla, bem concebida e que corrija esses problemas.

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