“Experiência cotidiana comprova que as pessoas são influenciadas pelo meio”
Luiz Fernando Furlan, empresário, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003-2007), conselheiro da BRF e da Vivo, conselheiro pro bono de várias organizações sociais, ambientais e de fomento à tecnologia. É graduado em Administração e Engenharia Química
Há atitudes que são fortemente condenadas e combatidas em outros países e no Brasil acabam sendo culturalmente toleradas. Não pagar corretamente os impostos, por exemplo. Muita gente faz isso sob o argumento de que usará o dinheiro melhor do que o governo usaria. Trata-se de um problema atávico brasileiro, que precisa de tempo para ser solucionado, pois exige, de um lado, uma mudança cultural e, de outro, o chamado enforcement – ou seja, o conjunto de procedimentos governamentais para assegurar o cumprimento das leis.
Todos sabemos, pela experiência cotidiana, o quanto as pessoas são influenciadas pelo meio. Basta lembrar de situações como o uso do cinto de segurança – que, diante da combinação entre campanhas de conscientização e risco de multas, virou hábito e hoje ninguém mais contesta.
Resultados da conscientização
O ETCO surgiu como um grande motivador da mudança cultural que o Brasil precisava em termos de ética concorrencial, com o propósito de combater procedimentos muitas vezes considerados “aceitáveis” no plano empresarial. Quando o Instituto foi criado, falava-se muito mais abertamente e sem constrangimentos em dar desconto para serviços prestados sem nota fiscal, por exemplo.
O contrabando, objeto de campanhas memoráveis do ETCO, era outra dessas práticas consideradas socialmente aceitáveis. Acredito que o quadro geral tenha evoluído bastante desde então. Já não existe o mesmo nível de tolerância com esse tipo de atitude, evidência de que o trabalho de conscientização e de vigilância do Instituto vem dando resultado.
Antagonismo é prejudicial
O país teria muito a ganhar com a simplificação tributária. As empresas gastam muito dinheiro e esforço com toda a estrutura que precisam ter para lidar com a burocracia e com o contencioso, tanto em relação a impostos quanto às questões trabalhistas.
É fundamental reduzir esse antagonismo que se construiu entre os órgãos arrecadadores e os contribuintes, e também entre os colaboradores e as empresas. No final das contas, estamos todos do mesmo lado, o lado de quem quer ver o Brasil crescer.