REVISTA ETCO – EDIÇÃO 27
DEZEMBRO, 2021
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FHC participa de reunião do Conselho Consultivo do ETCO

Ex-presidente foi homenageado por seus 90 anos de idade e sua contribuição ao Brasil, falou sobre a reconstrução do País após a pandemia e respondeu a perguntas dos conselheiros

FHC e alguns dos conselheiros que participaram da live e fizeram perguntas a ele

Por ETCO
23/11/2021

As reuniões do Conselho Consultivo do ETCO costumam ter sempre um convidado ilustre para compartilhar seus conhecimentos e sua visão de futuro com os conselheiros do Instituto. O encontro de julho de 2021 teve uma presença mais do que especial: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um mês depois de completar 90 anos de idade, ele foi homenageado pelo ETCO por sua longa história de contribuição ao Brasil como intelectual, político e presidente da República por dois mandatos. Em seguida, falou sobre suas expectativas em relação ao País após o fim da pandemia e respondeu a perguntas de conselheiros do Instituto.

Na abertura do encontro, o presidente do Conselho Consultivo, Everardo Maciel, lembrou do trabalho ao lado de FHC como secretário da Receita Federal durante seus dois mandatos. “Para mim foi uma honra muito grande servir no seu governo”, afirmou. Em seguida, o presidente executivo do ETCO, Edson Vismona, leu o texto da placa comemorativa assinada por ele, por Everardo Maciel e pelo presidente do Conselho de Administração do ETCO, Delcio Sandi, enviada a FHC:

“Nossa gratidão por sua profunda colaboração para o desenvolvimento político, econômico e social do país. A postura democrática, tolerante e a disseminação de sabedoria ao longo dos seus 90 anos nos inspiram e são um verdadeiro exemplo para todos os brasileiros.”

Em sua fala, FHC sublinhou a gravidade da crise sanitária que o mundo vem atravessando desde o início de 2020. “Em toda a minha vida, nunca vivi uma crise assim”, disse. Ele lamentou as vidas perdidas e os impactos negativos na economia e no emprego. “Os efeitos econômicos podem durar algum tempo”, previu. Mas em algum momento, segundo ele, o mundo retomará a normalidade: “O ser humano tem essa capacidade de persistir e sobreviver. Uma das faculdades que o ser humano tem é a de esquecer”.

Navio com força para superar as ondas

O ex-presidente destacou a necessidade de que o processo de recuperação do País seja protagonizado por líderes que tenham capacidade de demonstrar confiança no futuro e inspirar as pessoas nesse sentido. “Isso depende de termos no Brasil líderes capazes de expressar um sentimento que leve o País adiante”, resumiu.

Segundo FHC, pessoas assim fazem falta no momento. “Hoje, tenho a sensação de que estamos num navio com as máquinas meio lentas. Parece que a gente tem medo da onda. Temos que voltar à normalidade no sentido de que, sim, tem a onda, ela vai continuar a existir, mas o navio tem força e vai em frente”, explicou.

Na sessão de perguntas, o conselheiro Luiz Fernando Furlan quis saber se FHC sentia falta de grandes lideranças políticas nos tempos atuais. O ex-presidente respondeu que sim e lembrou da importância que nomes como Ulisses Guimarães, Mário Covas e Franco Montoro tiveram no passado. “Falta gente que tenha capacidade de criar um futuro para todos nós”, afirmou.

O conselheiro Marcílio Marques Moreira perguntou a opinião de FHC sobre a proposta que circulava em Brasília de se adotar no Brasil um regime de governo híbrido entre o presidencialismo e o parlamentarismo. “Fui muito partidário do parlamentarismo, mas hoje sou mais cético”, ele respondeu. “Não existem no Brasil partidos com força. O nosso sistema está muito baseado na confiança em pessoas.” O ex-presidente expressou dúvidas sobre a capacidade do Congresso Nacional de liderar um país com a diversidade do Brasil.

O conselheiro João Grandino Rodas lembrou da importância de FHC também como ministro das Relações Exteriores, pouco antes de assumir o Ministério da Economia e lançar o Plano Real. Aristides Junqueira, ex-Procurador-Geral da República, elogiou a postura de respeito que o ex-presidente sempre demonstrou em relação ao Ministério Público Federal.

Mandato para ministro do STF

Ellen Gracie Northfleet, que foi ministra do STF por indicação de FHC e se aposentou ao completar onze anos no cargo, por decisão própria, quis saber a opinião do ex-presidente sobre a adoção de mandatos na Suprema Corte, em vez do modelo atual que estabelece aposentadoria compulsória apenas aos 75 anos de idade. Na opinião dela, o período não deveria ser superior a dez, doze anos. “É o suficiente para qualquer um fazer a sua jurisprudência, deixar uma marca na casa”, justificou a ex-ministra.

FHC disse concordar com a proposta: “Depois de muito tempo, cansa, as pessoas se repetem. Tem que abrir espaço. Você não pode ocupar por muito tempo uma função. Você se fossiliza e impede que outros apareçam. Dez anos no Supremo está bom”.

O conselheiro André Franco Montoro Filho elogiou o papel de FHC no fortalecimento das instituições democráticas no País, especialmente na elaboração da Constituição de 1988 e em seus oito anos como presidente. FHC agradeceu e lembrou a importância que Franco Montoro, pai de André, teve para a sua formação como político e para o País.

No encerramento da reunião do Conselho Consultivo, o presidente executivo do ETCO salientou uma qualidade comum a grandes homens públicos como FHC: a defesa do interesse nacional. “Precisamos reviver isso neste país”, afirmou.

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