De acordo com estudo do ETCO e do FGV/Ibre, estabilidade na informalidade este ano é reflexo da retomada econômica

Depois de crescer por dois anos consecutivos, a economia subterrânea se estabilizou em 2017 e voltou a representar 16,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O cálculo é do Índice de Economia Subterrânea (IES), estudo realizado em parceria pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).

A informalidade no País movimentou, nos 12 meses encerrados em julho, o equivalente a R$ 1,077 trilhão.  O número representa o PIB de países como Colômbia e África do Sul. A economia subterrânea é a produção de bens e serviços não reportada ao governo deliberadamente, com o objetivo de sonegar impostos, evadir  contribuições para a seguridade social, driblar o cumprimento de leis e regulamentações trabalhistas e evitar custos decorrentes da observância às normas aplicáveis a cada atividade.

O IES é realizado desde 2003 e, até 2014, registrava melhora constante no nível de formalização dos negócios no Brasil. Nesse período, a economia subterrânea caiu de 21% para 16,1% do PIB. Em 2015, o índice sofreu seu primeiro revés desde o início da série histórica, situação que se agravou no ano passado.

GRAFICO IESTamanho da economia subterrânea

Um ponto importante para que a retomada da economia formal ocorra, e se mantenha nos próximos anos, é a reforma trabalhista. “A expectativa do ETCO é que as novas regras da CLT tragam um ambiente mais seguro para empregadores e trabalhadores. Como consequência, a judicialização dos contratos tende a diminuir e haverá mais estímulos para aumento dos funcionários com carteira assinada”, afirma o presidente executivo do ETCO, Edson Vismona.

Apesar da perspectiva de melhora futura, Vismona ressalta que o País não pode se contentar em apenas recuperar o que foi perdido nos últimos dois anos, sem maiores avanços. “Um país que pretende e precisa atrair investimentos para se desenvolver não pode aceitar conviver com níveis tão altos de informalidade”, completa.

De acordo com Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da FGV/Ibre, o mercado informal parou de crescer com o fim da recessão, mas não isso foi suficiente para inverter a trajetória de queda do índice. “Com a perspectiva de crescimento do PIB em mais de 2,5% para 2018, a tendência é que a economia melhore como um todo e impacte positivamente na formalização dos negócios no Brasil”, destaca.

 

Sobre o Índice de Economia Subterrânea 

O ETCO acredita que conhecer o tamanho do problema é fundamental para combatê-lo. Muito se fala, mas pouco se conhece, sobre informalidade, pirataria e sonegação, pois, como atividades ilegais, são elas de difícil mensuração. O ETCO, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), divulga desde 2007 o Índice de Economia Subterrânea, um estudo que estima os valores de atividades deliberadamente não declaradas aos poderes públicos, com o objetivo de sonegar impostos, e daquelas de quem se encontra na informalidade por força da tributação e burocracia excessivas.

Economia Subterrânea para de diminuir pela primeira vez em 12 anos

Estudo do ETCO e da FGV/IBRE revela que, após longo período de retração, mercado informal estanca e movimenta o equivalente a 16,1% do PIB brasileiro

São Paulo, 30 de novembro de 2015 –  O Índice de Economia Subterrânea (IES), divulgado hoje (25) pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), mostrou que o mercado informal movimentou R$ 932 bilhões em 2015. Esse valor representa 16,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, exatamente o mesmo porcentual obtido em 2014. É a primeira vez, desde 2003, primeiro ano de estimativa do índice, em que não houve redução porcentual do mercado informal.

grafico-indice-economia-subterranea-2015

A conclusão é que a estagnação nos índices de informalidade decorre do quadro de recessão econômica e instabilidade política. “Muito além do que um indicador, o número apresenta uma tendência do mercado. A previsão para os próximos anos é de uma mudança no cenário com crescimento do mercado informal. Indicadores como o aumento da inflação e do desemprego e a dificuldade de acesso ao crédito prejudicam a redução deste mercado.”, analisa Samuel Pessoa, pesquisador do FGV/IBRE.

Em valores absolutos e preços atualizados, a economia subterrânea movimentou R$ 932 bilhões em 2015. No ano passado, esse valor somou R$ 889 bilhões. Esse montante corresponde a toda a produção de bens e serviços não reportados deliberadamente ao governo, a qual, portanto, não consta no PIB nacional.

Nos últimos 12 anos, o índice caiu 4,9 pontos porcentuais, e com exceção de 2009, ano em que o País também se encontrava em recessão, houve quedas de 0,7 p.p. de 2006 até 2011, período de tempo no qual o IES passou de 20,2% para 17%. Entre 2012 e 2014 se iniciou a desaceleração, consequência direta do recuo acentuado no número das contratações formais pela indústria e do crescimento no setor de serviços, que tem níveis de informalidade maiores do que a indústria. Este é o primeiro ano em que não há alterações no porcentual de informalidade – o índice mantém os 16,1% apresentados em 2014.

Tabela IES2015

“O papel do ETCO é fortalecer medidas que reforçam a ética concorrencial e que auxiliam na previsibilidade do ambiente de negócios. O Instituto tem como foco combater as transgressões que assolam a economia e a atividade empresarial, decorrentes principalmente das questões tributárias e da atividade regulatória.” afirma Evandro Guimarães, Presidente Executivo do ETCO.

Certo é que a informalidade traz prejuízos diretos para a sociedade, cria  ambiente de transgressão, estimula o comportamento econômico oportunista, com queda na qualidade do investimento e redução do potencial de crescimento da economia brasileira. Além disso, provoca a redução de recursos governamentais destinados a programas sociais e a investimentos em infraestrutura.

Sobre o Índice de Economia Subterrânea 

O ETCO acredita que conhecer o tamanho do problema é fundamental para combatê-lo. Muito se fala, mas pouco se conhece, sobre informalidade, pirataria e sonegação, pois, como atividades ilegais, são elas de difícil mensuração. O ETCO, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), divulga desde 2007 o Índice de Economia Subterrânea, um estudo que estima os valores de atividades deliberadamente não declaradas aos poderes públicos, com o objetivo de sonegar impostos, e daquelas de quem se encontra na informalidade por força da tributação e burocracia excessivas.

 

 

Microempresas enfrentam uma missão quase impossível

Está cada vez mais difícil para as microempresas manter a contabilidade em dia e escapar das autuações da Receita

As autuações da Receita Federal aumentaram 39,7% no primeiro semestre de 2015 em comparação ao mesmo período do ano passado. Números divulgados pelo Fisco mostram que as dívidas dos contribuintes lançadas, referentes a impostos, multas e juros, chegaram a R$ 75,13 bilhões entre janeiro e junho. No mesmo período de 2014, o valor havia ficado em R$ 53,7 bilhões. Em todo o ano passado, somou R$ 150,5 bilhõese foi o segundo maior valor obtido pelo Fisco – maior apenas do que 2013 (R$ 190,1 bilhões). Se no segundo semestre as autuações aumentarem, como no ano passado, 2015 poderá bater um novo recorde.

Hugo Amano, sócio da consultoria tributária da BDO Foto: Divulgação

Recorde após recorde nas autuações apenas comprova que cada vez maissonegar impostos intencionalmente ou por falta de conhecimento virou missão quase impossível. Omissão de rendimentos é um dos fatores mais comuns que levam à malha fina. A falta de esclarecimentos e deretificações na base de dados da Receita Federal pode resultar em autuações cujas multas variam entre 75% e 225% do valor do imposto.

Segundo especialistas do grupo Skill, que mantém um blog sobre assuntos contábeis que interessam às micro e pequenas empresas, o crescimento das autuações relaciona-se, entre outros fatores, ao aumento no número de micro e pequenas empresas que solicitaram a adesão ao Simples (para empresas com faturamento anual até R$ 3,6 milhões), que subiu 125%, superando a marca de 10 milhões de empresas.

Valeria Zotelli,  advogada-sócia da área tributária do Miguel Neto Advogados, lembra que,desde a informatização introduzida pelo Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), alguns procedimentos adotados usualmente por quem está no regime do Simples ou enquadrado como Microempreendedor Individual (MEI) estão cada vez mais ao alcance da Receita.

“Abrir empresa em nome do filho ou do funcionário é bastante comum entre donos de redes de restaurantes, por exemplo – mas, ao fazer chegar o lucro de todas essas empresas para o dono principal, ele precisa declarar esses rendimentos e, como não tem como declarar sem pagar Imposto de Renda, acaba ficando exposto”, diz.

Quem está dentro das regras do MEI pode ter receita anual até R$ 60 mil reais e, neste caso, paga apenas R$ 50 por mês em impostos. Mas há a exigência de que o MEI só tenha um funcionário – porém alguns têm três funcionários, dos quais dois não registrados formalmente. Se um desses dois entrar na Justiça pedindo vínculo empregatício, por exemplo, o próprio juiz do Trabalho pode enviar a informação para a Receita, evidenciando que a pessoa enquadrada como MEI na verdade não cumpriu a regra, explica Valeria.

“Hoje em dia, mesmo empresas do Simples que sonegam estão correndo um sério risco. Elas pagam imposto com base no faturamento, e o Fisco tem como pegar com cruzamentos. Isso é mais simples do que parece. Por exemplo, quem vende com cartões de crédito não deve sonegar, pois as operadoras informam. Não pode mais fugir, tem que pagar imposto sobre o que vendeu”, reforça Hugo Amano, sócio da divisão de consultoria tributária da BDO.

Léa De Luca

Fonte: DCI (31/08)

 

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Batalhadores do Brasil

Guiherme Afif Domingos

Nesta semana comemoramos uma vitória da classe batalhadora de nosso país, formada pelos microempreendedores individuais (MEIs). Alcançamos a marca de cinco milhões de brasileiros formalizados, que passaram a contar com a segurança do Estado e o acesso a direitos previdenciários.

Fonte: Folha de São Paulo/Opinião (17/06)

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Câmara aprova projeto que permite terceirização da atividade-fim de empresa

Deputados aprovaram emenda que permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa privada. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Deputados aprovaram emenda que permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa privada. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira (22) a votação do projeto de lei da terceirização (PL 4330/04). Foi aprovada em Plenário uma emenda que permite a terceirização das atividades-fim das empresas do setor privado e que alterou diversos pontos do texto-base da proposta. O texto seguirá para o Senado.

A emenda, de autoria do PMDB e do Solidariedade, foi aprovada por 230 votos a 203. O texto não usa os termos atividade-fim ou atividade-meio, mas permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa.

Assinada pelo relator do projeto, deputado Arthur Oliveira Maia (SD-BA), e pelo líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), a emenda também ampliou os tipos de empresas que podem atuar como terceirizadas, abrindo a oferta às associações, às fundações e às empresas individuais (de uma pessoa só). O produtor rural pessoa física e o profissional liberal poderão figurar como contratante.

Outra mudança em relação ao texto-base é a diminuição, de 24 para 12 meses, do período de quarentena que ex-empregados da contratante têm de cumprir para poder firmar contrato com ela se forem donos ou sócios de empresa de terceirização. Os aposentados não precisarão cumprir prazo. A quarentena procura evitar a contratação de ex-empregados por meio de empresas individuais.

Já a subcontratação por parte da contratada (“quarteirização”) somente poderá ocorrer quando se tratar de serviços técnicos especializados.

 

Empregos ou precarização
O líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), criticou a proposta. “Querem transformar celetistas em PJ [pessoa jurídica]. O projeto original falava em 24 meses e, agora, está em 12. Vai facilitar a burla do projeto legítimo da terceirização”, afirmou.

Para o relator, Arthur Oliveira Maia, o projeto foi debatido durante bastante tempo. Ele ressaltou que a diferenciação entre atividade-meio e atividade-fim foi criada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). “Essa diferenciação só existe no Brasil e não foi criada por esta Casa, que tem a função de legislar”, criticou.

A terceirização da atividade-fim é condenada pelos sindicalistas com o argumento de que fragilizará a organização dos trabalhadores e, consequentemente, sua força de negociação com as empresas. Já os empresários argumentam que essa sistemática de contratação trará mais agilidade e redução de custos para a contratante, com efeitos na economia.

infografico da terceirização

Para acessar a íntegra da proposta: PL 4330/2004

Fonte: Agência Câmara de Notícias (22/04)

Mais da metade dos jovens empregados na América Latina está na informalidade

OITPelo menos 27 milhões de jovens entre 15 e 24 anos trabalham informalmente na América Latina e no Caribe, o que representa 55% do total de jovens ocupados na região, segundo o relatório “Formalizando a informalidade juvenil”, que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) apresentou nesta quarta-feira (22) em Lima.

A diretora regional da OIT para a América Latina e o Caribe, Elizabeth Tinoco, destacou que seis em cada dez postos de trabalho para jovens estão na informalidade, e isso constitui “uma preocupação maior ao desemprego juvenil porque afeta diretamente a qualidade e as condições do trabalho”.

Tinoco apresentou as principais conclusões do estudo junto à diretora do escritório da OIT para os países andinos, Carmen Moreno, e o especialista regional da OIT em emprego juvenil, Guillermo Dema.

Fonte: Portal R7 (22/04)

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Não podemos deixar a economia subterrânea voltar a crescer

Evandro Guimarães

 

A cada ano, um volume de dinheiro quase igual à soma do PIB do Rio de Janeiro e de Minas Gerais troca de mãos no Brasil por meio de atividades econômicas informais. Foge da fiscalização, põe em risco a saúde de consumidores, não paga imposto e atrapalha os negócios de empresas que agem dentro da lei. A economia subterrânea representa um dos maiores desafios para o crescimento da economia e a justa distribuição de seus benefícios entre toda a população.

Embora nos últimos anos o Brasil tenha conseguido avançar no combate a esse mal, ainda existe um longo caminho a percorrer. As estatísticas mostram que, depois de uma década de redução contínua, a informalidade estacionou no patamar de 16% do PIB. Só o fato de parar de diminuir já representa um perigoso sinal. Mais preocupante ainda é imaginar a possibilidade de haver um retrocesso nos níveis de formalização dos negócios, comum em momentos de crise econômica e aumento de impostos como o atual. Se nós, brasileiros, pretendemos resolver os entraves que impedem o desenvolvimento da economia de forma vigorosa e duradoura, evitar esse risco é uma missão inexorável.

Para combater de forma eficaz, é preciso antes entender o problema. A economia subterrânea não é uma característica exclusiva do Brasil e suas causas e consequências já foram muito bem estudadas. Uma parte importante dos negócios que se escondem da luz está relacionada com atividades criminosas. Contrabando, tráfico de drogas, roubo de cargas, falsificação de produtos e pirataria constituem as principais fontes de recursos ilícitos dos porões da economia. Para essas atividades, a única solução aceitável é o combate feroz e persistente, com fiscalização, policiamento e punição dos envolvidos.

Existe, no entanto, uma parcela da informalidade que não envolve ações criminosas, mas nem por isso deixa de provocar consequências graves ao país e à população, sobretudo os mais pobres. Ela se consubstancia em atitudes como a do médico que cobra mais barato por uma consulta sem recibo, do dono de imóveis que não declara rendimentos com aluguéis, da indústria que produz sem ter as devidas licenças, da empresa que importa produtos subfaturados, do comerciante que não declara suas vendas.

Esse tipo de informalidade estimula comportamentos oportunistas, cria um ambiente de transgressão às regras e, com isso, reduz a qualidade dos investimentos no país. Além disso, prejudica as finanças públicas, retirando recursos governamentais que poderiam ser destinados a programas sociais e a projetos de infraestrutura.

Do ponto de vista da arrecadação, é fácil calcular o tamanho do prejuízo. No ano passado, a economia subterrânea movimentou cerca de R$ 830 bilhões no Brasil sem pagar imposto. Considerando que a carga tributária brasileira encontra-se ao redor de 37% do PIB, pode-se deduzir que o país deixou de arrecadar em apenas 12 meses mais de R$ 300 bilhões em tributos, o equivalente a 12 anos de Bolsa Família ou 23 anos de financiamento público do ensino superior, o FIES.

Mas a informalidade também prejudica o desenvolvimento do setor produtivo e do país. Quando uma empresa tem de enfrentar concorrentes que não cumprem regras nem pagam impostos, perde a confiança e deixa de investir em fábricas mais modernas e eficientes. A produtividade cai, o país perde competitividade e o crescimento fica comprometido.

Desde 2003, o ETCO-Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro realizam uma pesquisa anual sobre o tamanho da economia informal no país, expresso por meio do Índice de Economia Subterrânea (IES). Nesse período, houve avanço expressivo na redução desse índice, que caiu de 21% do PIB em 2003 para 16,1% em 2014. O progresso foi decorrente de um conjunto de fatores, como a expansão do crédito, que demandou uma maior formalidade; melhorias nos sistemas de arrecadação, como a criação da Nota Fiscal Eletrônica, que contou com grande empenho do ETCO; sistemas de substituição tributária, nos quais o imposto passou a ser recolhido na fase principal da cadeia de produção e do consumo; iniciativas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o regime tributário do Simples e a instituição da figura do Microempreendedor Individual (MEI); o aumento do investimento público em educação, que contribui para a redução da informalidade no mercado de trabalho.

Avançamos sim, mas não podemos nos dar por satisfeitos. Temos de continuar os esforços para incorporar ao PIB um volume de recursos que é superior a tudo o que um país como Israel produz por ano. O momento é crucial. No índice divulgado no ano passado, a economia subterrânea reduziu-se em apenas 0,1%, e desde então as condições macroeconômicas se deterioraram. A economia desacelerou, o crédito diminuiu, o governo voltou atrás na política de desonerações e vem insistindo no caminho do aumento de impostos para atingir o equilíbrio de suas finanças.

Vários estudos já demonstraram que os momentos de crise econômica e austeridade fiscal trazem a reboque a elevação da clandestinidade, quando pessoas ou empresas afetadas pela crise tentam compensar suas perdas fugindo de suas obrigações tributárias. É nessa hora que o país precisa escolher a direção que pretende seguir: se a da complacência com o ilícito ou a da conformidade com as regras. Se escolhe o atalho fácil de aumentar ainda mais o fardo tributário de quem age dentro da lei ou toma o caminho mais difícil engendrando as reformas necessárias para reduzir a informalidade e aumentar a base de contribuintes.

A receita para combater a economia subterrânea é conhecida. Um ingrediente eficaz é a redução de impostos, que diminui a vantagem dos sonegadores. Outra medida de efeito comprovado é a simplificação tributária. Uma pesquisa do Banco Mundial mostra que as empresas brasileiras de médio porte gastam 2.600 horas por ano para cuidar de toda a burocracia relativa aos impostos, contra apenas 620 horas da média da America do Sul. Na era da informação e da tecnologia, não é aceitável desperdiçar nossa energia em tarefas inúteis e repetitivas. É hora de levar a cabo a tão esperada simplificação tributária para todos os segmentos empresariais.

Reforçar a fiscalização certamente é outra iniciativa eficaz. Não podemos mais tolerar, por exemplo, que produtos piratas ou contrabandeados sejam vendidos à luz do dia em endereços nobres e conhecidos das grandes cidades. Essa ilegalidade explícita é um escárnio para com os cidadãos e as empresas que agem dentro da lei.

Por fim, mas não menos importante, temos que prestigiar, apoiar, divulgar e valorizar as políticas públicas ou iniciativas de qualquer ordem que permitam um combate eficaz à falsificação, à adulteração de produtos, ao contrabando sofisticado, como a importação via subfaturamento. É preciso prestigiar esforços, ideias e movimentos de valorização de quem fabrica produtos seguros para o consumidor e recolhe os impostos devidos. Só assim conseguiremos construir um país mais rico e mais justo para todos.

 

* Evandro Guimarães é presidente do ETCO-Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial

Combate à informalidade

 

Evandro Guimarães em evento sobre o Dia Nacional de Combate ao contrabando. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Evandro Guimarães em evento sobre o Dia Nacional de Combate à corrupção. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Evandro Guimarães

Em um ano de mudanças na economia, com grande expectativa da sociedade sobre os rumos das finanças públicas e sobre o desenvolvimento do comércio e da indústria, o ajuste fiscal é condição para a retomada do crescimento do país.

A meta para 2015 é de superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, R$ 66,3 bilhões para todo o setor público –que inclui Estados, municípios e empresas estatais. No ano passado, pela primeira vez desde 2002, as contas públicas registraram deficit. Segundo os dados mais recentes do Banco Central, foram R$ 19,64 bilhões até novembro.

Se o país realmente tiver de enfrentar um arrocho fiscal, é fundamental que o governo tome medidas duras e permanentes frente a prejuízos causados por produtos comercializados à margem da formalidade. Esses produtos ilegais afetam a competitividade no ambiente de negócios, desestimulam o investimento nos setores afetados e incentivam a sonegação. Faz-se necessário, portanto, lançar uma ofensiva contra esses crimes.

Quando, em 19 de janeiro, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou medidas para equilibrar as contas púbicas, prevendo a arrecadação de mais R$ 20 bilhões em 2015, estava ao seu lado o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, que voltou ao cargo quase sete anos depois de deixá-lo.

“Não vamos dar trégua a quem não cumprir obrigação tributária”, disse Rachid. Não lhe falta experiência para isso. Já integrou o Conselho de Combate à Pirataria e criou, na Receita Federal, divisões especializadas na fiscalização e na repressão dessas práticas. Sua presença indica que o governo está disposto a recuperar o papel da Receita na elaboração de políticas tributárias e voltar o foco para a fiscalização.

Iniciativas para reforçar a fiscalização e o combate ao contrabando, à pirataria, à falsificação e à sonegação têm apoio do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) e do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco).

As duas entidades, em conjunto com 20 organizações empresariais e da sociedade civil, lançaram em setembro de 2014 o Manifesto em Defesa do Mercado Legal Brasileiro, sugerindo 12 medidas destinadas a alterar o quadro atual de descontrole e falta de fiscalização.

Esse quadro, que teve grave impacto na produção industrial brasileira, provocou prejuízos de mais de R$ 30 bilhões em 2013, segundo levantamento do FNCP. Nesse ano, os principais produtos ilegais apreendidos pela Receita foram cigarros, veículos, eletroeletrônicos, peças de vestuário e óculos de sol.

O Manifesto em Defesa do Mercado Legal Brasileiro prevê a criação do Dia Nacional de Combate ao Contrabando, em 3 de março. Conscientizar a população para as consequências de consumir produtos ilegais é mais um ingrediente fundamental na receita para que o Brasil tenha suas contas equilibradas e sua indústria cheia de vigor.

(artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, na seção OPINIÃO, em 03/03/2015)

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/03/1597119-evandro-guimaraes-combate-a-informalidade.shtml