Comissão de Finanças e Tributação debate contrabando, descaminho e falsificação de produtos

A Comissão de Finanças e Tributação promove nesta quarta-feira (20) o debate “O contrabando, o descaminho e a falsificação de produtos e seus impactos econômicos e sociais no Brasil”. O debate será realizado a pedido do deputado Renato Molling (PP-RS).

O parlamentar destaca dados levantados pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), que indicam que a venda de produtos ilegais no Brasil trouxe prejuízos de R$ 146 bilhões ao país no ano de 2017 em vários setores produtivos. Dentre os principais produtos ilegais estão: smartphones, eletroeletrônicos, cigarros, medicamentos, defensivos agrícolas, drogas ilícitas, calçados, roupas, bolsas, óculos, perfumes, autopeças, cervejas e outras bebidas.

Além disso, segundo Molling, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) mostra que os brasileiros acreditam que o contrabando de cigarros traz enormes prejuízos para o País. “Para 86% dos entrevistados, o contrabando incentiva o crime organizado e o tráfico de drogas e armas, e 87% afirmam que estes produtos aumentam os riscos à saúde”, acrescenta.

Foram convidados representantes do Departamento de Polícia Federal; da Secretaria do Tesouro Nacional; da Secretaria da Receita Federal do Brasil; Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; e o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, entre outros.

Confira a relação completa de convidados.

O debate será realizado às 14h30, em plenário a definir.

Fonte: Agência Câmara Notícias

 

Percepção do brasileiro sobre o contrabando – Pesquisa ETCO/Datafolha – fev2018

Brasileiros querem presidente mais duro no combate ao contrabando

Intenção foi apontada em pesquisa do Datafolha patrocinada pelo ETCO e revela conhecimento da ligação entre o mercado ilegal e a violência urbana

Em março, o ETCO patrocinou uma nova pesquisa do Datafolha sobre a percepção dos brasileiros em relação ao contrabando. Alguns resultados confirmaram o que já era conhecido: a população sabe que o contrabando financia o crime organizado, coloca no mercado produtos nocivos e rouba impostos de áreas como saúde, educação e segurança pública.

Uma novidade foi a revelação de que, nas eleições deste ano, os eleitores devem cobrar dos candidatos propostas para enfrentar o problema – e querem medidas mais duras do que as que vêm sendo adotadas até aqui.

A pesquisa mostrou que os brasileiros consideram que o País vem apresentando uma resposta fraca ao avanço do mercado ilegal. Para 79% dos entrevistados, por exemplo, o governo chega a ser conivente com o crime organizado em relação ao comércio de cigarros contrabandeados.

Tema eleitoral

Nesse contexto, as questões sobre o que esperam dos políticos que concorrem às eleições deste ano ganharam destaque. Nada menos do que 86% dos entrevistados afirmaram que não votariam em um candidato a presidente sem determinação para enfrentar o problema. A maioria também espera que o próximo governo e o Congresso aprovem e adotem medidas mais vigorosas, incluindo mais investimentos em controle de fronteira, leis mais duras e o fechamento de estabelecimentos comerciais que vendem produtos ilegais.

Chamou atenção também a opinião sobre como o Brasil deve tratar o Paraguai, principal origem dos produtos contrabandeados para cá. Nada menos do que 62% dos pesquisados aprovam uma medida extrema: fechar a fronteira entre os dois países.

Segundo o presidente executivo do ETCO, Edson Vismona, o estudo mostrou a importância que o tema vem ganhando. “No momento em que diversos estados atravessam crises na área de segurança, ficou claro na pesquisa que o brasileiro deseja que o governo atue de forma mais contundente e vai cobrar uma posição firme sobre o tema durante as eleições”, afirmou.

A pesquisa foi realizada em 129 municípios entre os dias 5 e 8 de fevereiro. O Datafolha ouviu 2.081 pessoas acima de 16 anos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

 

 

Como o problema deve ser enfrentado

 

 

 

Matéria publicada na Revista Exame, analisa a relação entre a ilegalidade e a alta carga tributária

(Matéria publicada na Revista Exame – Edição 1163)

por: Raphael Martins

A crise reduziu o poder de compra do brasileiro. A carga tributária asfixia os negócios formais. O controle sobre as fronteiras segue frágil. Quem ganha com tudo isso? A ilegalidade, que desde 2014 está em alta e bate novo record

MATERIA JB PIRATARIAÀs vésperas de uma copa do mundo, como a que começa em 14 de junho na Rússia, a paixão do brasileiro por futebol multiplica as vendas de camisas da seleção. Nessa época, a procura pelo uniforme canarinho é 20 vezes superior ao normal, de acordo com a Nike, marca fornecedora da Confederação Brasileira de Futebol (a empresa não divulga a quantidade). Até aí, é uma ótima notícia para a Nike e para os varejistas ansiosos por faturar com a ótima fase do time treinado por Tite. Mas uma importante parcela da torcida brasileira deve apelar para cópias piratas de origem duvidosa, agravando assim um problema conhecido no país: o da ilegalidade. Só um terço dos uniformes de craques como o polivalente Neymar e o atacante Gabriel Jesus vendidos por aí é, de fato, original. De acordo com a Ápice, a associação brasileira de fabricantes de artigos esportivos, a presença de muambas desse tipo atravanca os investimentos do setor, empacados em 1,2 bilhão de reais ao ano. “Poderíamos aportar até 35% mais no Brasil”, diz Marina Carvalho, diretora da Ápice.

A trava nos investimentos em artigos esportivos é só uma das consequências dos males causados pela venda de contrabando, mercadoria falsificada e todo tipo de produção que desrespeita direitos autorais nem paga impostos no Brasil. Esse mercado movimentou 1 trilhão de reais em 2017, o equivalente ao produto interno bruto da Colômbia e um recorde para padrões nacionais, segundo o Índice da Economia Subterrânea, calculado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo  (ETCO), organização social de combate a desvios empresariais como a ilegalidade. Os números reforçam uma tendência péssima: a “economia cinza”, dependente de bens e serviços ilegais, voltou a crescer. Depois de uma década em que a fatia perdida para a informalidade caiu, ano após ano, de 21% para 16% do PIB, desde 2014 a economia informal voltou a crescer — no ano passado, chegou a 16,6% da soma de riquezas produzidas no Brasil. Para discutir as causas do repique, a revista EXAME e o ETCO promoveram o Fórum Combate à Ilegalidade, realizado no dia 24 de maio em São Paulo. O evento teve a presença de autoridades como o ex-governador de São Paulo e pré-candidato pelo PSDB à Presidência Geraldo Alckmin, além de especialistas como o advogado Edson Vismona, presidente do ETCO, o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o ex-secretário de Segurança Pública paulista Eduardo Muylaert e o sociólogo Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, entidade sem fins lucrativos para a disseminação de boas práticas de governança. Para debater os efeitos da ilegalidade nos negócios, também participaram do debate o presidente da fabricante de cigarros Souza Cruz, Liel Miranda, o fundador da grife carioca de roupas e acessórios Osklen, Oskar Metsavaht, e o vice-presidente da fabricante de combustíveis Raízen, Antonio Ferreira Martins, além de Marina Carvalho, da Ápice.

shutterstock_1012271758Por trás do repique nas taxas de ilegalidade há uma porção de fatores que interagem entre si. “A informalidade é um problema complexo: vai desde a pressão na carga tributária por causa das transferências de renda até distorções causadas por pequenos grupos organizados que conseguem impor pautas de interesse privado, como desonerações, em detrimento da necessidade coletiva”, disse o economista Samuel Pessôa no evento organizado por EXAME. Um consenso do debate foi que a crise econômica, vivida desde 2014 e da qual o país ainda não saiu completamente, é parte importante do problema. A começar pelo empobrecimento do brasileiro. A recessão derrubou o PIB e dobrou a taxa de desemprego, que está em 12,9% da população ativa. A consequência: em quatro anos houve uma queda de 9% da renda média do brasileiro, que ficou mais tentado a trocar o original pela cópia. Segundo uma pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, realizada em 2016, no auge da crise, 96% dos 1 200 entrevistados afirmaram ter o preço baixo como maior atrativo para comprar um produto. Desse total, um terço admitia já ter consumido pirataria para economizar recursos.

Para piorar, as empresas que seguiram formalizadas na recessão foram penalizadas com a sanha arrecadatória do governo na luta contra o rombo nas contas públicas. Apesar de a crise ter deprimido a demanda de consumo país afora, a carga tributária aumentou meio ponto desde o início da crise: hoje é de 32,4% do PIB, bem acima da média da América Latina, de 13%, e perto do nível da OCDE, clube dos países mais ricos do mundo, onde a produtividade e a qualidade dos serviços públicos justificam a mordida média anual de 34% do PIB. No meio disso tudo, os cofres públicos minguados ajudaram a deflagrar uma crise de segurança pública em muitos estados. Resultado: houve uma escalada dos roubos de cargas, que praticamente dobraram desde 2013. No ano passado, a taxa fechou em 11 ocorrências a cada 100.000 habitantes, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um centro de estudos da criminalidade. A proliferação de assaltos a caminhoneiros em áreas onde a crise pegou mais forte, como o subúrbio do Rio de Janeiro, abriu mais espaço para o contrabando. Hoje em dia, o transporte público carioca está cheio de ambulantes com carne, leite, guloseimas e toda sorte de mercadoria roubada nas redondezas.

“MATA-RATO” PARAGUAIO

O dano causado pela economia cinza não é sentido de forma homogênea nas diferentes cadeias produtivas. Nada supera o estrago causado aos fabricantes de cigarros: 60% dos 20 bilhões de reais movimentados por fumantes no país em 2017 foram para a economia informal. Quase a totalidade desse mercado criminoso é ocupada por marcas contrabandeadas do Paraguai, país em que a carga tributária média é de 16% do PIB — no Brasil, a taxação sobre a indústria do tabaco equivale a 70% do faturamento do setor. Com tanto imposto sobre a produção nacional, e tamanha frouxidão nas fronteiras sobre a muamba vinda do Paraguai, não causa surpresa o fato de a marca de cigarro mais vendida no Brasil ser paraguaia. Trata-se do Eight, um verdadeiro “mata-rato” com níveis de nicotina 20 vezes superiores aos dos similares nacionais. Encontrado na internet e em botecos país afora por até 2 reais o maço — os cigarros brasileiros mais baratos, Belmont, Continental e Minister, custam pelo menos 5 reais —, o Eight detém 12% do mercado no país, à frente de concorrentes tradicionais como Derby, Free e Hollywood. “Precisamos garantir, por meio do Mercosul ou outros grupos de que o Brasil participa, uma pressão para equiparar a concorrência”, diz Liel Miranda, presidente da Souza Cruz. “Nossa taxação é regressiva. Penaliza o mais pobre no preço e o empurra para um produto de má qualidade.” A seguir na lista dos produtos mais pirateados estão óculos e roupas, incluindo as camisas da seleção brasileira: o mercado ilegal desses itens representa 31% e 15% do total, respectivamente.

O avanço da pirataria não se limita aos bens de consumo. Outro mercado afetado é o de TV por assinatura, quarto item mais consumido na economia subterrânea. Segundo a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, 3,3 milhões de domicílios têm conexões clandestinas de TV a cabo e internet — o serviço ilegal ficou conhecido como “gatonet”. Se fosse legalizado, o gatonet seria a terceira maior operadora do país. Um dos itens obrigatórios dos sacoleiros em Ciudad del Este, meca paraguaia da muamba na fronteira com o Brasil, são os receptores de sinal de satélite dos canais fechados vendidos a partir de 200 reais. Hoje, 13% dos gastos de brasileiros com TV por assinatura são direcionados às operadoras ilegais. A farra, porém, pode estar prestes a acabar. Um projeto que tramita no Senado prevê multa de 10 000 reais e prisão de seis meses a dois anos para quem distribuir ou receber sinal pirata de TV paga — apesar de uma consulta pública feita pelo próprio Senado mostrar que 95% dos brasileiros rejeitam a criminalização do gatonet. “Temos de sair da situação em que sonegação, roubo de carga e outros crimes podem se acomodar dentro do jeitinho brasileiro”, diz Antonio Ferreira Martins, vice-presidente jurídico da Raízen, que lembra que os carros no país consomem 6 bilhões de reais por ano em combustível adulterado.

Geraldo AlckminDiante de tanta pirataria, como combater o problema? Avançar em mudanças dos impostos seria um bom começo. A comissão do Congresso para a reforma tributária, encerrada no ano passado diante dos problemas do governo de Michel Temer, deve recomeçar os trabalhos em junho e espera-se que encaminhe uma proposta a plenário ainda em junho. A principal medida cogitada é transformar nove impostos sobre o consumo em dois: no imposto de valor agregado (IVA) e num adicional para determinadas categorias, como o cigarro. A ideia é taxar menos bens e serviços para baratear os produtos originais — e reduzir, portanto, a diferença em relação ao produto pirata, que custa menos. “Sairíamos do pior sistema tributário do mundo para o melhor”, diz o relator da medida, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). A proposta conta com o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de presidenciáveis. “No mundo inteiro, a tributação é feita com o IVA. É urgente simplificar nosso modelo tributário para recuperar a competitividade e reduzir a sonegação”, disse Geraldo Alckmin no evento organizado por EXAME. “Temos uma cultura cartorial no Brasil, de regras e mais regras. A mania de criar cobranças para cada caso é o que faz o sistema ser tão complexo.” Em paralelo, um projeto do setor privado tem ganhado força. Por iniciativa da Associação dos Industriais da Colômbia, um grupo de entidades empresariais de 15 países, incluindo o Brasil, criou em 2016 a Aliança Latino-Americana Anticontrabando para fiscalizar em conjunto a pirataria e pressionar os governos a atacar o problema. “O plano é que o grupo seja presidido por gente da iniciativa privada e do governo, como por membros do Itamaraty, do Gabinete de Segurança Institucional ou da Receita Federal”, diz Edson Vismona, presidente do ETCO. Não faltam propostas para combater a pirataria. Resta saber se elas serão adotadas com força e velocidade ante um problema que não para de crescer.

COMO RESOLVER O PROBLEMA DA ECONOMIA ILEGAL NO BRASIL

Lideranças empresariais, políticas e do terceiro setor debateram os efeitos perversos sobre a economia brasileira do consumo de bens e serviços que não pagam impostos nem respeitam as regras da concorrência — o que inclui cópias falsificadas e itens contrabandeados de países com carga tributária inferior à brasileira
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Em evento da revista Exame, patrocinado pelo ETCO, especialistas e autoridades falam sobre práticas ilegais que prejudicam o país.

Em um momento no qual o Brasil debate a complexidade do seu sistema tributário, os danos causados pela chamada “economia cinza” (pirataria e outras práticas ilegais) impressionam: todos os anos, 15 setores perdem mais de 100 bilhões de reais e o governo perde quase 50 bilhões de reais em tributos sonegados.

Leia matéria completa e assista aos vídeos produzidos pela Revista Exame, durante o Exame Fórum – Combate à ilegalidade

Fórum Exame discute o mercado ilegal

WhatsApp Image 2018-05-24 at 14.11.08A revista EXAME realizou hoje, 24/05, com o patrocínio do ETCO, o EXAME Fórum – Combate à ilegalidade. O evento reuniu empresários, economistas e representantes da sociedade civil para debater e discutir propostas sobre o tema.

Questões como a alta carga e tributária e sua complexidade, foram levantadas pelo presidente do ETCO em sua palestra de abertura, como um dos principais desafios no combate ao mercado ilegal.

Apesar dos prejuízos causados à sociedade e aos cofres públicos, todos concordaram que o tema não é debatido com a frequência que deveria.

“A falta de discussão é um desafio ao enfrentar o comércio subterrâneo, porque é no subterrâneo que ele atua e movimenta bilhões de reais”, afirmou Edson Vismona, presidente do ETCO.

Para o economista Samuel Pessoa a simplificação tributária é o principal caminho a ser percorrido para solucionar o problema.

“Há pequenos grupos econômicos com muito peso no congresso, que conseguem fazer barulho e, assim, aprovar exceções tributárias”. ele afirma que a construção de um sistema de impostos muito mais simplificado teria um impacto na economia brasileira semelhante ao Plano Real.

WhatsApp Image 2018-05-24 at 15.08.38 (1)O ex governador de São Paulo e pré candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, também esteve presente ao evento. Ele recebeu das mãos do presidente do ETCO, o Manifesto sobre Segurança e Desenvolvimento, documento que registra os princípios e propostas defendidas pelo Movimento em Defesa do Mercado Legal, liderado pelo ETCO e FNCP, que reúne mais de setenta entidades da sociedade civil. O ex governador também recebeu o Manifesto ETCO sobre Tributação e Desenvolvimento, este com princípios e propostas defendidas pelo Instituto.

Pirataria agride consumidor e dá rombo recorde

Fonte: Jornal de Brasília (07/05/2018)

Fraude em impostos deve atingir R$ 165 bilhões em 2018. Má qualidade de produtos amplia prejuízos. Poucos são punidos.

por Jéssica Antunes
jessica.antunes@grupojbr.com

Seja nas bancas das feiras ou nas prateleiras das lojas, produtos piratas ganham espaço no Distrito Federal. São itens falsificados e contrabandeados, que sonegam impostos e crescem à revelia dos produtores, das marcas e da fiscalização. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) estima que R$ 145 bilhões de impostos deixaram de ser arrecadados no Brasil em 2017. A previsão é de que chegue a R$ 165 bilhões neste ano. A punição é branda, e a reincidência, alta. Na capital, a polícia tenta cortar o mal pela raiz.

O crime de pirataria pode ser enquadrado em duas naturezas criminais: violação de direitos de autor ou de marca. O primeiro, se há comercialização, tem pena prevista de dois a quatro anos de reclusão, mas é passível de fiança. O segundo prevê até um ano de prisão, e geralmente a pena é convertida a prestação de serviços. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, neste ano foram 22 ocorrências relacionadas aos dois crimes que envolvem o mercado pirata, com 43 pessoas presas, conforme levantamento preliminar da Polícia Civil.

A investigação e a repressão desses casos são atribuições da Delegacia de Combate aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DCPim). O delegado Marcelo Portela conta que esse tipo de atividade pode estar relacionada a outros crimes, como suborno de agentes públicos e tráfico de drogas, por exemplo. O combate é feito, normalmente, em grandes operações. “Em virtude do pouco efetivo, as ações têm de ser mais certas, aprofundadas e detalhadas. Se há pouca munição, o tiro tem que ser certeiro”.

A maioria dos criminosos responde em liberdade. No Tribunal de Justiça do DF (TJDFT), 179 processos relacionados à propriedade intelectual foram abertos desde 2016. No período, 620 tramitaram e 257 foram julgados. Neste ano, já houve 21 julgamentos, 171 tramitações e 18 distribuições. A maior parte, em todos os casos e anos, se refere à violação de direito autoral.

Apreensão histórica

Em 20 de março, a Polícia Civil fez a maior apreensão de CDs e DVDs piratas da história do Distrito Federal e desmontou uma fábrica clandestina de produção em massa de mídias piratas. A Operação Perfídia teve início na Feira dos Importados de Taguatinga e chegou a uma fábrica clandestina no Itapoã. Foram apreendidas 30 mil mídias, impressoras, computadores e torres gravadoras. Nas feiras da cidade, mochileiros madrugavam e faziam fila para abastecimento.

Uma mulher foi presa em flagrante, mas liberada após pagamento de fiança. Segundo o delegado Portela, ela atuava com o companheiro: “São velhos conhecidos como distribuidores. Juntos, chegaram a ser presos 17 vezes. Dessa vez pegamos o laboratório de produção”. De acordo com ele, há o desafio de fazer operações dolorosas para os criminosos, “mas é muito difícil estancar se chega ao Judiciário e a pessoa é solta”.

Venda vai além das feiras e chega às lojas

As falsificações são produzidas especialmente na Região Metropolitana, mas vendas acontecem em plena luz do dia em comércios ilegais e formais da capital. A concentração é maior em locais de grande movimentação de clientes, como feiras. Taguatinga tem chamado a atenção da polícia pela comercialização de produtos falsificados ou pirateados. Há um mês, três lojas regulares próximas à Feira dos Goianos foram autuadas, e três pessoas presas em flagrante comercializando pijamas com estampas de desenhos da Disney sem autorização – considerado violação do direito de marca.

“Um empresário que se preze não abre as portas para vender produto pirata ou contrabandeado. Eu me sinto na obrigação de dizer que isso não é empresário, é bandido”, dispara o presidente da Associação Comercial do DF, Cléber Pires. Ele diz não ter conhecimento de comercialização desses produtos em estabelecimentos legalizados e pede que denúncias sejam feitas. “Toda pirataria afeta, de imediato, a economia local. Além de uma afronta à sociedade, causa perda na receita, na geração de emprego, na cadeia produtiva”, diz.

Do ponto de vista da legalidade, o comércio e a economia são diretamente afetados. Para Adelmir Santana, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), é preciso estimular a educação do cliente. “Muitas vezes, consumidores focam apenas nos custos. Mas esses produtos estão fora do controle do Estado, não pagam tributos e o diferencial é muito grande. Além de risco à saúde, a pessoa fortalece o mercado da pirataria”, afirma.

Cigarros no topo dos flagrantes de contrabando e descaminho

as e munições atravessam as divisas brasileiras clandestinamente por contrabando e descaminho. A estimativa é de que o comércio ilegal gere R$ 130 bilhões de perdas aos setores produtivos brasileiros anualmente, mas o enfrentamento esbarra na sensação de impunidade e na ação policial restrita por conta de baixo efetivo.

No Brasil e no DF, cigarros paraguaios têm maior volume nas apreensões de contrabando. Na capital, os produtos costumam chegar pelas estradas até a Região Metropolitana, de onde os produtos são distribuídos. De acordo com o chefe da DCPim, as vendas nos estabelecimentos comerciais da capital são veladas. Em outubro passado, um depósito com aproximadamente 15 mil maços de cigarros contrabandeados do Paraguai foi encontrado em Ceilândia.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, foram mais de cinco mil itens de vestuário, cem unidades de cosméticos, 15 caixas de medicamentos e mais de três mil outros não catalogados apreendidos nas rodovias federais que cortam o DF e Entorno em 2017, enquadrados nas duas tipificações penais.

Desde 2014, crimes de contrabando e descaminho são diferenciados pela legislação brasileira. O primeiro consiste na importação e exportação de produtos proibidos e tem pena de dois a cinco anos de prisão. O outro trata do não pagamento de impostos pela entrada ou saída de produtos, como no caso da compra de eletrônicos em viagens internacionais, com punição máxima de quatro anos. Geralmente, os dois são praticados ao mesmo tempo.

Pena baixa

Luciano Godoy, advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que os contrabandistas não se sentem acuados com a possibilidade de punição. “Como as penas são muito baixas, a maioria das pessoas nem chega a cumprir em regime fechado”, diz. Secretário Geral da Associação de Juízes Federais (Ajufe), Fernando Mendes acredita que ainda não há “ferramentas suficientes para combater a macro-criminalidade, e o modelo judicial contribui para a ineficiência do resultado”.

Presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) e do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a IIegalidade (FNCP), Edson Vismona não considera justo que comerciantes tenham de arcar com todas as taxas e concorrer com quem não faz o mesmo. “É desleal”, afirma.

Saiba mais

– Os produtos contrabandeados apreendidos pela Polícia Civil do DF são repassados à Receita Federal; os falsificados ficam à disposição da Justiça.
– Quem compra produtos pirateados não comete crime, mas pode enfrentar problemas. Brinquedos podem conter partes pequenas ou soltas, causando risco às crianças.
– Anabolizantes, cosméticos e bebidas alcoólicas podem ter componentes nocivos à saúde. Calçados têm baixa qualidade e podem provocar danos à coluna e ao joelho. Eletrônicos podem até explodir.
– Por uma semana, o Jornal de Brasília pediu quantidades de apreensões à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária Federal, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição. O TJDFT também não informou sobre os processos iniciados e sentenças decretadas.

Dicas

– Quando for comprar um produto, observe a embalagem. A falsificada nunca é exatamente igual à original.
– Desconfie se o preço anunciado estiver muito abaixo do encontrado em outras lojas ou sites.
– Observe o lugar em que o produto é vendido, porque há marcas comercializadas apenas por lojas credenciadas.
– Peça sempre nota fiscal e garantia de devolução e troca

 

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Contrabando financia crimes e ameaça presença do Estado

Afirmação foi feita por Edson Vismona, do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, durante o 12 º Enecob

 

A diferença de impostos entre países vizinhos é um dos principais problemas para o contrabando. A afirmação foi feita por Edson Vismona, do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, durante o 12º Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros (Enecob), que acontece em Foz do Iguaçu (PR). Ele explicou ainda que o contrabando, além de fazer com que o Brasil não arrecade impostos, vem crescendo cada vez mais e ameaça a presença e a força do Estado.

“O movimento que mais gera renda para as organizações criminosas transnacionais é o contrabando. Os contrabandistas são presos em flagrante, mas são soltos. Há um sentido de impunidade. Uma prática que se incentiva é o contrabando de cigarro. São números alarmantes que temos no Brasil, já que 67% das apreensões são de cigarros. A Receita Federal tem até uma máquina própria para destruir cigarros que funciona o dia inteiro”, diz o especialista.

Ele deu mais detalhes sobre os números do contrabando no Brasil. “Em cinco anos, o mercado ilegal aumentou 150%, enquanto os impostos no mercado legal subiram 48%. É inaceitável. O líder de mercado do Brasil é uma marca contrabandeada. É inaceitável que o mercado esteja entregue ao crime organizado, que opera com grande tranquilidade. Só de sonegação, são R$ 9 bilhões. Você não tem como sustentar esse processo com essas assimetrias de impostos”, explicou.

Por fim, ele explicou que o contrabando financia outros tipos de crime, como tráfico de drogas e corrupção. “Não é nada pequeno. Não é coisa de camelô. Há um mundo paralelo cada vez mais forte ameaçando nossos países. Esse dinheiro que vai para organização criminosa vai ocupar o espaço que era do Estado. No Rio de Janeiro, por exemplo, o crime organizado ocupou o espaço territorial. Você não pode fornecer serviços para esse espaço, como gás, luz etc. O Estado deixa de ocupar porque o crime ocupa. Nós não estamos falando de algo que pode acontecer, mas algo que está acontecendo. O Rio de Janeiro está sob intervenção federal porque perdeu a capacidade”, finalizou.

ETCO participa de audiência pública na Comissão de Segurança Pública da Alerj

Foto: Rafael Wallace (09/03/18)
Foto: Rafael Wallace (09/03/18)

O cigarro foi o maior alvo de contrabando no Brasil no ano passado. O crime foi um dos responsáveis pelos R$ 146 bilhões que o país deixou de arrecadar em 2017. A informação foi apresentada pelo presidente executivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), Edson Vismona, durante audiência pública realizada na manhã desta sexta-feira (09/03) pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

De acordo com Vismona, os cigarros representaram 67,44% dos produtos ilegais apreendidos no país em 2017. No ano passado, 48% dos cigarros consumidos no Brasil foram fruto de contrabando. “Esses itens vêm principalmente do Paraguai, devido aos impostos baixíssimos do país, que favorecem a produção. Dos 67 bilhões de cigarros que o Paraguai produz anualmente, apenas 2 bilhões são consumidos pelos próprios habitantes. O resto é exportado e, muitas vezes, contrabandeado”, afirmou.

Perdas com sonegação

A estimativa do ETCO é de que a sonegação de impostos causou a perda de pelo menos R$ 46 bilhões que seriam arrecadados em 2017. Desse número, pelo menos R$ 9 bilhões foram perdidos por conta dos cigarros comercializados no país ilegalmente. Os outros produtos campeões de perdas de arrecadação por conta de sonegação e contrabando foram roupas e medicamentos.

O deputado Paulo Ramos (PDT), integrante da Comissão de Segurança, afirmou que irá propor o debate do tema no Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégio do Estado do Rio. “No Fórum poderemos aprofundar esse debate, ao envolver mais entidades empresariais e fiscalizadoras do crime na discussão. Não podemos deixar que nosso país continue sofrendo tantas perdas financeiras por conta do comércio irregular de produtos ilegais”, declarou.

Também estiveram presentes na audiência o deputado Luiz Paulo (PSDB), Natan Schiper, representante da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Tatiana Abranches, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro(Firjan-RJ), o delegado Celso Ribeiro, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), e José Roberto Lima, Superintendente Regional da Polícia Rodoviária Federal.

Fonte: alerj.rj.gov.br (090/03/2018)