Momento ideal para repensar impostos

A simplificação do sistema tributário e a carga sobre diversos setores, como o de combustíveis, um dos que mais pagam impostos no país, foram alguns dos temas do Correio Debate. Autoridades, como João Otávio de Noronha, presidente do STJ e André Luiz Mendonça, advogado-geral da União, estiveram no encontro, que aconteceu em 21/08/2019. O presidente do ETCO, Edson Vismona, também foi um dos palestrantes e falou sobre a necessidade de simplificação do sistema tributário, como uma das ferramentas no combate aos devedores contumazes de impostos.

O Jornal Correio Braziliense, publicou a cobertura completa do evento em um caderno especial e também no site.

Veja aqui o link das principais matérias:

Modelo atual abre espaço à sonegação de impostos [clique aqui]

No setor que mais arrecada no país, o de combustíveis, além da complexidade, ainda há o caos de cada uma das unidades da Federação praticar alíquotas diferentes por produtos, aponta presidente do ETCO

 

 

 

 

 

 

 

Para melhoras, legislação tem de ser reformulada [clique aqui]

Devedor contumaz está protegido pela lei, que trata de forma igual contribuintes inadimplentes por motivos diferentes. Identificar o fraudador é fundamental

Mudar o pacto federativo para descentralizar a arrecadação [clique aqui]

Governo pretende avançar na discussão sobre reforma tributária, sem aumentar a carga, atualmente em 33% do Produto Interno Bruto. Para isso, terá de enfrentar vários desafios, diz advogado-geral da União

Reduzir custo com inadimplência frauda mecanismo concorrencial  [clique aqui]

A seleção do mercado coloca em melhores condições os mais eficientes e produtivos. Quando os desonestos se sobressaem, há uma distorção, aponta o secretário da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia

Complexo sistema do país leva à judicialização excessiva  [clique aqui]

A tributação desproporcional, com muita cumulatividade de impostos, provoca uma reação do contribuinte, que busca discutir a redução da carga na Justiça, Poder não apropriado para a discussão

Especialistas defendem poucas alíquotas para evitar caos [clique aqui]

Deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP) ressalta que muitos empresários que são taxados, hoje, como devedores de impostos são vítimas da complexidade do sistema tributário brasileiro

Impostos podem aumentar, diz Raul Velloso.

Para economista, sem corte de gastos, o setor público correrá o risco de ter que elevar ou taxar mais os cidadãos

É bom que todos os brasileiros se preparem, porque o próximo governo deverá ser pressionado a aumentar impostos, para equilibrar as contas públicas. O alerta é do consultor econômico, Raul Velloso. “Será um desastre se isso acontecer. Mas não podemos abstrair que há um momento econômico a ditar as coisas. E esse momento econômico mostra que o país está mergulhado num desequilíbrio fiscal gigantesco”, diz.

IMG_0358 Diante da difícil situação que as contas governamentais vivem no momento, com deficits sucessivos desde 2014, tudo é possível. A perspectiva é de que as contas públicas só voltem ao azul em 2021, na melhor das hipóteses. Segundo ele. o descalabro da situação fiscal do governo começou em 2010, quando a arrecadação da União em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) passou a cair. As receitas (ante o PIB) começaram a desabar antes mesmo de a recessão entrar em cena. E o gasto continuou seu curso ascendente”, frisa.

ParaVelloso, a situação fiscal do governo é das mais difíceis que o país já atravessou. E lançar mão do aumento de impostos será uma alternativa para o governo que tomará posse ano que vem. O rombo previsto nas contas deste ano é de R$ 159 bilhões. “Ninguém aceita fazer as outras coisas que poderiam ser feitas. Temos, hoje, o r maior desequilíbrio fiscal da nossa história, e uma situação com urna falta de disposição das lideranças políticas para enfrentar isso, do lado que tem que ser enfrentado, que é o lado do gasto”, assevera. Na opinião do economista, é natural que, para sanar o deficit fiscal, o governo traga para a mesa a discussão de uma nova rodada de aumento na tributação. “O problema é que não se consegue mexer em gasto no Brasil. É  impressionante”.  Para tentar mudar esse quadro, ele convoca entidades, como o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), e a sociedade em geral, que clama por uma carga tributária menor e de melhor qualidade, “para um esforço de controle e redução do gasto público”.

“Repito, o desequilíbrio fiscal é gigantesco. Virá uma pressão por aumento da carga tributária. Não sei dizer em que momento, mas certamente virá no próximo governo, porque agora é mais difícil”. afirma. Tal esforço conjunto precisa envolver “soluções realmente inovadoras. O esforço de melhoria do gasto público não pode esperar”, diz Velloso. No entender dele, é preciso olhar para frente, pois, se o país ficar simplesmente levantando problemas antigos e não enfrentando a questão da necessidade de corte dos gastos governa-mentais, a fatura virá pelo caminho mais fácil: a alta da carga tributária.

Fonte: Caderno especial Correio Braziliense, Tributação e Desenvolvimento Econômico (14/03/2018)

 

“A nação está inviabilizada”, diz o Ministro Augusto Nardes em seminário do Correio Braziliense

barra lateralAs contas do governo federal, de estados e de municípios estão cada vez mais sem espaço para pagar as aposentadorias e o salário dos servidores. Essas despesas crescem em ritmo muito mais acelerado do que o da arrecadação e, como não há controle efetivo dos gastos, os números não fecham e os rombos só aumentam.

E, para mudar esse quadro preocupante, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, avisa que, além da reforma da Previdência, é preciso melhorar governança na gestão das despesas públicas, enxugando o quadro de pessoal.  Só assim o governo voltará a investir para que o país tenha crescimento maior e sustentável.

Nardes é categórico ao afirmar que “a nação está inviabilizada”. Ele ressalta que, sem melhorar a eficiência do gasto público e sem as reformas estruturais, como a tributária e a da Previdência, o pais será obrigado a fazer o mesmo que Portugal e Espanha, que reduziram em 50% os salários dos funcionários públicos, como “forma de sobrar dinheiro para investimento” e melhorar a produtividade. “O próximo presidente precisará ter coragem de fazer isso para poder viabilizar o país, porque a nação está inviabilizada”, afirma.

Autor do livro Da governança à esperança, recém-lançado pela Editora Fórum, Nardes elogia o decreto que prevê a adoção de medidas de governança na administração pública a partir de maio, o de nº 9.203, assinado pelo presidente Michel Temer em novembro de 2017. Ele classifica a medida como primeiro passo na direção certa para garantir melhor eficiência do gasto público. Porque existem 15 milhões de pessoas trabalhando no Estado brasileiro (municípios, estados e União ) que são pouco avaliados e, às vezes, sequer são treinados.

0 ministro foi o relator das contas do governo da ex-presidente Dilma Rousseff de 2014, que foram rejeitadas pelo TCU, abrindo caminho para o processo de impeachment da petista. Ele vem acompanhando de perto as finanças públicas desde 2012 e admite que os dados não são animadores, mas precisam ser mostrados e discutidos pelos candidatos à Presidência da República.

“Temos que diminuir as despesas públicas e, com certeza, buscar eficiência e efetividade para evitar um colapso do Estado brasileiro”, destaca. Como exemplo da incapacidade de planejamento do governo, Nardes cita os prejuízos bilionários nas obras superfaturadas de quatro refinarias da Petrobras, que inviabilizaram os investimentos da estatal.

“O Comperj (RJ) já deu um prejuízo de R$ 12,4 bilhões. Na refinaria Abreu e Lima (PE), constatamos sobrepreço de R$ 2,4 bilhões. Sem contar as refinarias do Ceará e do Maranhão, que não foram iniciadas, só fizeram a terraplanagem, nas quais gastamos R$ 3,8 bilhões. Então, a incapacidade do Estado brasileiro é monstruosa”, frisa.

Previdência

Nardes também alerta para o deficit preocupante da Previdência. Pelas contas do ministro, União, estados e municípios apontam rombo conjunto de R$ 4 trilhões, em valores obtidos por cálculos atuariais trazidos para o presente. Desse montante, R$ 2,8 trilhões referem-se aos governos regionais e R$ 1,2 trilhão, à União, somando as previdências pública e privada. “Não temos capacidade nem de pagar quem vai se aposentar amanhã ou depois. Estamos em uma situação de inviabilidade econômica da nação “, reforça.

Para o ministro, este ano, devido às eleições, “será decisivo para o pais”, porque o próximo presidente precisará fazer uma racionalização do custo para viabilizar. Ele afirma que vem dando o alerta para as governantes desde 2014, mas não tem sido ouvido. Chegou até a fazer uma reunião com 22 dos 27 governadores eleitas, mas a ficha não caiu” entre os políticos. Exemplos de descasos não faltam, segundo Nardes. “Praticamente 50% das milhares creches construídas estão abandonadas porque não houve planejamento estratégico entre estados e municípios. Milhares de UPAs foram feitas e também  estão abandonadas. Bilhões de reais foram jogados fora”, critica. Pelos cálculos do ministro, o governo gastou R$ 45 bilhões nos jogos Olímpicos do Rio de 2016 e outros R$ 30 bilhões na Copa do Mundo de 2014, ou seja, R$ 75 bilhões que não tiveram uma constatação efetiva de qual foi o retorno para a sociedade.

Temos que partir para uma transformação de nação e a governança é o grande pano de fundo que o pais precisa para fazer uma reflexão. Arrecadar, nós sabemos. Gastar, nós sabemos. Jogar dinheiro na sarjeta e ao vento é a coisa mais simples e fácil no Estado brasileiro”, enfatiza.

Insegurança aumenta com desgovernança

O ministro acredita que a falta de governança no Estado brasileiro é um dos motives para a intervenção militar no Rio de Janeiro.
O colapso na segurança pública, segundo ele, é resultado da péssima gestão nas fronteiras, o que facilita o contrabando e aumenta a insegurança da população.

“A nossa capacidade nas fronteiras do país é um fiasco. Várias instituições que não se conversam. Hoje, a Receita Federal e a Policia Federal estão melhorando. Estou monitorando um acórdão em relação a isso”, destaca ele, citando dados apresentados pelo presidente do Instituto Brasileiro de Ética  Concorrencial (ETCO), Edson Vismona, de que o contrabando provoca perdas na arrecadação entre R$ 130 bilhões e R$ 140 bilhões por ano.

“É necessária uma transformação da nação. Os lideres têm que estar conscientes desse papel, que não é o de impor mas de motivar as pessoas para transformar”, destaca.

Na avaliação de Nardes, a solução do problema da violência crônica no Rio passa pela governança, não apenas na área administrativa de cada estado, mas também entre as polícias, que não se conversam, principalmente, as dos estados que fazem divisa com outros países. “Os militares não podem ficar muito tempo e é preciso ter uma estratégia de médio e longo prazos coordenada com os vizinhos”, afirma, ressaltando que a insegurança também ronda o entorno do Distrito Federal.

“Estamos diante de uma hecatombe também em Brasilia. Temos 1,5 milhão de pessoas morando de forma ilegal no Entorno do DF. É impressionante o número de áreas públicas sendo invadidas. E o estado não tem governança da sua terra, do seu patrimônio”, denuncia. “A falta de governança é total no entorno de Brasília. É total no entorno do Rio de Janeiro. Quem comanda é o crime, e, se formos para a rua, em boa parte das capitais brasileiras, o quadro é o mesmo. Incapacidade do Estado de governar. É serissimo o que vivemos no país”, destaca.  Apesar do quadro nada animador, o ministro demonstra otimismo em relação às eleições, porque ele espera que “a ficha caia” para os próximos lideres que serão eleitos, e que eles se comprometam a encarar esse problema como prioridade.

“Esperamos ter alguém com capacidade de trazer a confiança de volta, o sentimento de patriotismo e o investimento para o pais, porque boa parte já está indo embora para o Paraguai”, afirma.

Para Nardes, mais de 450 mil brasileiros e 150 empresas já migraram para o país vizinho.

Fonte: Caderno Especial do Jornal Correio Braziliense – Tributação e Desenvolvimento

“Competição fiscal sempre existiu e não vai terminar”, diz Everardo Maciel

Segundo ele, é preciso manter o limite da chamada extrafiscalidade, que é uma forma dos governos taxarem algum produto para induzir condutas

EVERARDO MACIEL

O consultor tributário e sócio-presidente da Logos, Everardo Maciel, defendeu durante o seminário “Correio Debate: Tributação e Desenvolvimento Econômico”, que a competição fiscal sempre existiu e não vai terminar, mas que é preciso manter o limite da chamada “extrafiscalidade”, que é uma forma dos governos taxarem algum produto para “induzir condutas”.
A prática da extrafiscalidade, na visão do consultor, é razoável quando serve para restringir o consumo daquele produto, mas avalia que o “excesso” gera problemas. “Depois que começa a exagerar, provocam reações”, declarou Maciel, exemplificando o caso da tributação sobre os cigarros no Brasil.
“Quando erram na mão. Vamos aumentar os impostos para fazer com que a pessoa deixe de fumar”, afirmou. “Na prática, as pessoas não vão deixar de fumar. Essa não é a via para induzir essa conduta. As pessoas vão para o contrabando”, acrescentou, destacando que isso gera a presença significativa e crescente do produto vindo dos países vizinhos. “Não adianta eu ter uma tributação que estimula esse tipo de conduta de natureza criminosa”, declarou.

Fiscalização e cobrança

Maciel destacou, ainda, que há “empresários” que criam negócios para atuar na ilegalidade, o que é potencializado pela insegurança jurídica. “Qualquer tema tributário que vai ao Supremo nós levamos 15 anos, 20 anos, para pacificar”, destacou. “Nós temos hoje 51% do PIB (sendo discutido. O drama é: se cobrar, quebra o país, e, se não cobrar, quebra o país”, completou.
Fonte: Jornal Correio Braziliense
07/03/2017