Eleição, sempre a eleição

Durante a ditadura, sim a tivemos, o clamor legítimo e justo da sociedade era por eleições livres e diretas em todos os níveis de governo. A democracia tinha que ser conquistada e, a partir desse patamar, a crença era que nossos problemas seriam enfrentados e teríamos governantes eleitos preocupados em apresentar propostas consistentes para retomarmos o desenvolvimento e diminuir as brutais desigualdades sociais.

Essa missão, sabíamos, não seria nada fácil. Saímos do bipartidarismo (situação e oposição) e foi se ampliando o espectro partidário, na expectativa de termos partidos estruturados em torno de programas de governo que seriam defendidos nas eleições.

Essa visão cartesiana demonstrou, na verdade, ser uma quimera.

Programas de governo, na maioria das vezes, são meras peças retóricas, plenas de chavões sem qualquer cuidado com a definição de recursos orçamentários, como se estes não fossem finitos. Os partidos políticos se multiplicaram, atrás dos recursos públicos dos fundos partidários, que aumentam, aprovados em tramitação legislativa sempre célere.

Todo o governo tem que montar sua base de apoio, e os partidos vão formando blocos, alguns sempre firmes no propósito de serem fiéis ao poder, pouco importa quem assume o executivo. Cargos devem ser distribuídos, e a competência técnica e a ética não são consideradas.

Assim, as promessas de campanha são esquecidas no dia seguinte da eleição, e a distância entre representantes e representados só aumenta, afetando a credibilidade do processo democrático. Quem prometia mudar “tudo que está aí” passa, sem qualquer pudor, a agir da mesma forma que tanto criticava. A política invertebrada domina a cena.

O impacto dessa anacrônica situação é profundo. Com o término do processo eleitoral já começa a ser discutido como se posicionar para o próximo, demonstrando que o meio, passou a ser o fim.

O mundo político parece girar em torno dos próprios interesses, a aprovação de urgentes reformas vai sendo empurrada, com o temor de afetarem o cacife eleitoral. Reforma administrativa só pode surtir efeitos na próxima década. A tributária, diante da complexidade e a dificuldade de se encontrar um mínimo consenso, vai sendo mitigada, e a política, de grande importância para reestruturar os partidos políticos e revitalizar o protagonismo no poder, é solenemente esquecida.

No âmbito do dever ser, após a eleição, o governo assume suas responsabilidades, o ônus e o bônus das necessárias decisões, e não deve almejar só manter o poder, que deixa de ter sentido ao priorizar o próximo escrutínio e não a execução das ações necessárias.

E assim avançamos rumo ao atraso, perdendo oportunidades e, com a trágica pandemia, a população, especialmente de baixa renda, afunda no desespero.

É verdade que o político é sensível aos humores do seu eleitorado e tem um aguçado sentido de sobrevivência, mas o momento dramático que vivemos exige que seja superado o círculo restrito dos seus seguidores. A postura de estadista deve ser incentivada, ir além da próxima eleição. Será que é esperar demais?

É inegável a importância da política. Todos dependem do seu exercício, que deve ser eficaz e sintonizado com a busca de soluções para o país, otimizando os recursos públicos e definindo prioridades voltadas para o estímulo do desenvolvimento social e econômico.

Esse universo paralelo que parece viver o mundo político, e que desanima qualquer um que avalie com mais critério o cenário nacional, não pode persistir.

Choramos centenas de milhares de mortos e, com o colapso da estrutura da saúde em todo o país, estamos perdendo o que retratou o grande musical da década de 70 “Brasileiro Profissão Esperança”.

Está mais do que na hora de termos os políticos demonstrando indignação e se dedicando a realizar um efetivo programa de salvação. A pandemia vai passar e, aprendendo com a tragédia, devemos avançar com as necessárias reformas, ainda que não agradem a todos (o que é impossível).

Vamos deixar que a eleição avalie, no momento oportuno, quem efetivamente se dedicou a enfrentar os enormes problemas que temos. Utopia? Talvez, mas o certo é que não podemos mais suportar tanto desrespeito com o sofrimento de todos.

Sem postergar as necessárias medidas, o que se espera dos dirigentes eleitos é que governem!

Termino com o poeta que na década de 80 perguntou em um clássico da música brasileira “Que país é esse?”.  A resposta, com certeza, não é esse o Brasil que merecemos”.

VACINA, ECONOMIA E A ÉTICA

No início da pandemia ninguém tinha ideia sobre a extensão que essa contaminação pelo COVID teria, imaginávamos que, como ocorrera com outras epidemias, não haveria consequências muito profundas e que logo seriam identificados seus limites.

Entretanto, a situação tomou um rumo assustador, com o crescimento geométrico de doentes e mortes, afetando duramente a saúde e a economia mundial. As difíceis e necessárias medidas indicadas pela ciência foram adotadas, determinando o isolamento, o uso de máscara e a higiene constante das mãos como as únicas ações capazes de mitigar os riscos.

A saúde de todos, como deve ser, foi a prioridade e governantes de todo o mundo, com pontuais exceções negacionistas, assumiram posturas inéditas de lockdown com forte impacto na economia, afetando a produção, o comércio, serviços e causando a perda de empregos.

Já em terras brasileiras, as primeiras reações foram desde o incentivo às ações humanitárias, até críticas às medidas de contenção indicadas, passando por ações criminosas de alguns que tiraram proveito: empresários que falsificaram produtos, superfaturaram preços e políticos que aproveitaram para ganhar com a desgraça.

Essas foram as iniciais demonstrações que a ética estava sendo afrontada e que a sociedade precisava reagir diante de tamanha desumanidade. Diversos políticos foram denunciados e um governador teve seu processo de impeachment iniciado.

As medidas de isolamento no Brasil foram, em comparação com outros países, mais brandas, mas causaram grande impacto no comércio, turismo, bares e restaurantes, com a indústria e os serviços essenciais mais preservados. Entretanto, o avanço da contaminação em ondas, causando milhões de infectados e mortes, demonstravam que só com uma vacina, na verdade muitas, seria possível viabilizar a chamada imunidade de rebanho pelo combate à contaminação e não pela morte, como alguns absurdamente defendiam.

Tivemos nesse momento de urgência a demonstração de que famosa frase “O Brasil não é para amadores” não é acertada. O Brasil, em termos de planejamento, especialmente em alguns setores públicos, é de amadores, que perderam a oportunidade de estruturar, com antecedência, a aquisição de vacinas em volume adequado e fortalecer a ação do reconhecido SUS, com equipamentos, leitos e, pasmem, oxigênio.

Em total contradição, há movimentos irresponsáveis que, ao mesmo tempo que defendem a economia acima de tudo, surpreendem, de um lado, com ataques, sem qualquer fundamento, às vacinas com insumo ativo chinês que, ironicamente, são as únicas que foram negociadas pelos governos federal e de São Paulo e, de outro, combatem todas as medidas de isolamento, ainda que não tão profundas.

Uma verdadeira sandice tropical, um delírio insustentável: não ao isolamento; não às máscaras; não às vacinas, mas sim à economia, ou seja, nenhuma seriedade, restando um vergonhoso veredicto: morram, mas preservem a economia, afinal, assim é a vida.

É evidente que só a vacinação em massa viabiliza a retomada do ritmo da economia.

Felizmente, a sociedade, de modo avassalador, entendeu que a vacina é o único caminho, porém, as teses absurdas e o cansaço das medidas de isolamento fizeram estragos e todos os alertas foram menosprezados, fomentando, nesse ano, o crescimento da contaminação.

Não bastasse tanto descalabro, mais uma vez, com o início da vacinação, temos a afronta à ética, com poderosos furando a fila e inovamos com a vacinação sem vacina, ludibriando criminosamente os idosos.

A situação, antes de melhorar, está piorando. A retomada da economia na velocidade necessária está atrelada à vacina, que deve ter acelerada a sua produção e distribuição, não há outro caminho.

Em meio a esse quadro insano o Brasil está diante do espelho, mostrando a nossa cara pasma. Em um momento que exige absoluta necessidade de termos coesão e lideranças firmes e responsáveis, nos deixamos levar por crendices, por teorias da conspiração que afetam o julgamento, desperdiçando tempo precioso e recursos que não temos em ações atabalhoadas. Triste retrato.

Resta saber se, em meio a tanta dor e perdas, vamos aprender. Oxalá!

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A ÉTICA como ferramenta de combate ao COVID-19

O ETCO é uma Organização da Sociedade Civil, que atua com o propósito de promover a integridade no ambiente de negócios. Acreditamos na prática da concorrência leal como um dos principais alicerces do desenvolvimento econômico e da construção de uma nação mais forte e justa.

Com a pandemia da COVID19, vivemos um momento sem precedentes na história mundial, com efeitos devastadores na economia global e brasileira. A OCDE estima que cada mês de confinamento irá tirar 2 pontos do PIB nas grandes economias e a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que comércio global recuará em até 32% neste ano.

Para combater os efeitos nefastos na economia e no sistema público de saúde, temos assistido a um enorme esforço do poder executivo (em todas as suas esferas), do legislativo, judiciário e da sociedade civil, no sentido de amenizar os efeitos da crise principalmente junto às populações vulneráveis e grupos de risco.  E é principalmente em momentos como este, que o comportamento ético de empresas e da sociedade civil pode fazer toda a diferença.

O ETCO defende o isolamento social, como a forma mais eficaz de combate à epidemia, respeitando as orientações das autoridades de saúde e de governos municipais e estaduais.  É um momento que exige o exercício pleno da cidadania, respeito às leis e ao próximo.

Não é hora de aumentar preços, nem fazer estoques desnecessários.  Não é hora para demissões, que resultarão em custos imediatos e desnecessários.  É preciso buscar o diálogo, negociar de forma justa e leal com fornecedores, colaboradores, funcionários e clientes.

O ETCO se mantém firme e solidário a todas as ações que fortaleçam o combate ao COVID-19 e ajudem a preservar vidas.

Apoie também. Da forma que puder, como puder.

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