Maioria dos cigarros comercializados no Paraná é contrabandeada

A cadeia produtiva do tabaco no Brasil gera milhares de empregos e renda. O país é o maior exportador do mundo. Em 2016 foram produzidas 538 mil toneladas de tabaco e exportadas 483 mil toneladas.

144 mil famílias produzem tabaco com valor bruto de produção de R$ 5,2 bilhões. Mas este mercado está sob ameaça devido ao crescimento significativo, nos últimos 3 anos, da venda ilegal de cigarros.

Em entrevista à Rádio CBN de Curitiba, o presidente do ETCO fala sobre a principal porta de entrada de cigarros contrabandeados no País, que é o estado do Paraná.

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Fantástico investiga a rota do contrabando de cigarros no Brasil. Assista

No Brasil, cigarros clandestinos representam 48% do mercado

No Rio, onde o número chega a 44%, eles movimentaram R$ 1 bilhão em 2017. Renda que chamou a atenção de milícias que atuam em comunidades.

 

Qualquer banquinha na rua tem para vender, até o ambulante do milho completa a renda do dia com cigarro. O maço, oferecido no Centro do Rio de Janeiro, vem de outro país e é bem mais barato do que os concorrentes fabricados no Brasil. O pacote de dez maços sai ainda na promoção: R$ 25. É tudo cigarro paraguaio e chega aqui clandestinamente.

Da fronteira, o produto ilegal percorre rodovias importantes até chegar ao comércio. A embalagem da marca Gift informa que o produto não pode ser comercializado fora do Paraguai. Mesmo assim, já é o campeão de vendas no estado do RJ.

No país, quatro das dez marcas mais vendidas são clandestinas. Os cigarros paraguaios são mais baratos porque os impostos no país vizinho são menores do que aqui. A margem de lucro é grande. Quando sai da fábrica, cada maço custa cerca de 20 centavos e chega ao consumidor final ao preço de R$ 2,50 a R$ 3.

No Brasil, os cigarros clandestinos já representam 48% do mercado. Só no Rio, onde esse número chega a 44%, eles movimentaram R$ 1 bilhão, em 2017, uma fonte de renda que chamou a atenção das milícias que atuam em comunidades. Veja na reportagem do FANTÁSTICO.

Matéria publicada na Revista Exame, analisa a relação entre a ilegalidade e a alta carga tributária

(Matéria publicada na Revista Exame – Edição 1163)

por: Raphael Martins

A crise reduziu o poder de compra do brasileiro. A carga tributária asfixia os negócios formais. O controle sobre as fronteiras segue frágil. Quem ganha com tudo isso? A ilegalidade, que desde 2014 está em alta e bate novo record

MATERIA JB PIRATARIAÀs vésperas de uma copa do mundo, como a que começa em 14 de junho na Rússia, a paixão do brasileiro por futebol multiplica as vendas de camisas da seleção. Nessa época, a procura pelo uniforme canarinho é 20 vezes superior ao normal, de acordo com a Nike, marca fornecedora da Confederação Brasileira de Futebol (a empresa não divulga a quantidade). Até aí, é uma ótima notícia para a Nike e para os varejistas ansiosos por faturar com a ótima fase do time treinado por Tite. Mas uma importante parcela da torcida brasileira deve apelar para cópias piratas de origem duvidosa, agravando assim um problema conhecido no país: o da ilegalidade. Só um terço dos uniformes de craques como o polivalente Neymar e o atacante Gabriel Jesus vendidos por aí é, de fato, original. De acordo com a Ápice, a associação brasileira de fabricantes de artigos esportivos, a presença de muambas desse tipo atravanca os investimentos do setor, empacados em 1,2 bilhão de reais ao ano. “Poderíamos aportar até 35% mais no Brasil”, diz Marina Carvalho, diretora da Ápice.

A trava nos investimentos em artigos esportivos é só uma das consequências dos males causados pela venda de contrabando, mercadoria falsificada e todo tipo de produção que desrespeita direitos autorais nem paga impostos no Brasil. Esse mercado movimentou 1 trilhão de reais em 2017, o equivalente ao produto interno bruto da Colômbia e um recorde para padrões nacionais, segundo o Índice da Economia Subterrânea, calculado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo  (ETCO), organização social de combate a desvios empresariais como a ilegalidade. Os números reforçam uma tendência péssima: a “economia cinza”, dependente de bens e serviços ilegais, voltou a crescer. Depois de uma década em que a fatia perdida para a informalidade caiu, ano após ano, de 21% para 16% do PIB, desde 2014 a economia informal voltou a crescer — no ano passado, chegou a 16,6% da soma de riquezas produzidas no Brasil. Para discutir as causas do repique, a revista EXAME e o ETCO promoveram o Fórum Combate à Ilegalidade, realizado no dia 24 de maio em São Paulo. O evento teve a presença de autoridades como o ex-governador de São Paulo e pré-candidato pelo PSDB à Presidência Geraldo Alckmin, além de especialistas como o advogado Edson Vismona, presidente do ETCO, o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o ex-secretário de Segurança Pública paulista Eduardo Muylaert e o sociólogo Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, entidade sem fins lucrativos para a disseminação de boas práticas de governança. Para debater os efeitos da ilegalidade nos negócios, também participaram do debate o presidente da fabricante de cigarros Souza Cruz, Liel Miranda, o fundador da grife carioca de roupas e acessórios Osklen, Oskar Metsavaht, e o vice-presidente da fabricante de combustíveis Raízen, Antonio Ferreira Martins, além de Marina Carvalho, da Ápice.

shutterstock_1012271758Por trás do repique nas taxas de ilegalidade há uma porção de fatores que interagem entre si. “A informalidade é um problema complexo: vai desde a pressão na carga tributária por causa das transferências de renda até distorções causadas por pequenos grupos organizados que conseguem impor pautas de interesse privado, como desonerações, em detrimento da necessidade coletiva”, disse o economista Samuel Pessôa no evento organizado por EXAME. Um consenso do debate foi que a crise econômica, vivida desde 2014 e da qual o país ainda não saiu completamente, é parte importante do problema. A começar pelo empobrecimento do brasileiro. A recessão derrubou o PIB e dobrou a taxa de desemprego, que está em 12,9% da população ativa. A consequência: em quatro anos houve uma queda de 9% da renda média do brasileiro, que ficou mais tentado a trocar o original pela cópia. Segundo uma pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, realizada em 2016, no auge da crise, 96% dos 1 200 entrevistados afirmaram ter o preço baixo como maior atrativo para comprar um produto. Desse total, um terço admitia já ter consumido pirataria para economizar recursos.

Para piorar, as empresas que seguiram formalizadas na recessão foram penalizadas com a sanha arrecadatória do governo na luta contra o rombo nas contas públicas. Apesar de a crise ter deprimido a demanda de consumo país afora, a carga tributária aumentou meio ponto desde o início da crise: hoje é de 32,4% do PIB, bem acima da média da América Latina, de 13%, e perto do nível da OCDE, clube dos países mais ricos do mundo, onde a produtividade e a qualidade dos serviços públicos justificam a mordida média anual de 34% do PIB. No meio disso tudo, os cofres públicos minguados ajudaram a deflagrar uma crise de segurança pública em muitos estados. Resultado: houve uma escalada dos roubos de cargas, que praticamente dobraram desde 2013. No ano passado, a taxa fechou em 11 ocorrências a cada 100.000 habitantes, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um centro de estudos da criminalidade. A proliferação de assaltos a caminhoneiros em áreas onde a crise pegou mais forte, como o subúrbio do Rio de Janeiro, abriu mais espaço para o contrabando. Hoje em dia, o transporte público carioca está cheio de ambulantes com carne, leite, guloseimas e toda sorte de mercadoria roubada nas redondezas.

“MATA-RATO” PARAGUAIO

O dano causado pela economia cinza não é sentido de forma homogênea nas diferentes cadeias produtivas. Nada supera o estrago causado aos fabricantes de cigarros: 60% dos 20 bilhões de reais movimentados por fumantes no país em 2017 foram para a economia informal. Quase a totalidade desse mercado criminoso é ocupada por marcas contrabandeadas do Paraguai, país em que a carga tributária média é de 16% do PIB — no Brasil, a taxação sobre a indústria do tabaco equivale a 70% do faturamento do setor. Com tanto imposto sobre a produção nacional, e tamanha frouxidão nas fronteiras sobre a muamba vinda do Paraguai, não causa surpresa o fato de a marca de cigarro mais vendida no Brasil ser paraguaia. Trata-se do Eight, um verdadeiro “mata-rato” com níveis de nicotina 20 vezes superiores aos dos similares nacionais. Encontrado na internet e em botecos país afora por até 2 reais o maço — os cigarros brasileiros mais baratos, Belmont, Continental e Minister, custam pelo menos 5 reais —, o Eight detém 12% do mercado no país, à frente de concorrentes tradicionais como Derby, Free e Hollywood. “Precisamos garantir, por meio do Mercosul ou outros grupos de que o Brasil participa, uma pressão para equiparar a concorrência”, diz Liel Miranda, presidente da Souza Cruz. “Nossa taxação é regressiva. Penaliza o mais pobre no preço e o empurra para um produto de má qualidade.” A seguir na lista dos produtos mais pirateados estão óculos e roupas, incluindo as camisas da seleção brasileira: o mercado ilegal desses itens representa 31% e 15% do total, respectivamente.

O avanço da pirataria não se limita aos bens de consumo. Outro mercado afetado é o de TV por assinatura, quarto item mais consumido na economia subterrânea. Segundo a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, 3,3 milhões de domicílios têm conexões clandestinas de TV a cabo e internet — o serviço ilegal ficou conhecido como “gatonet”. Se fosse legalizado, o gatonet seria a terceira maior operadora do país. Um dos itens obrigatórios dos sacoleiros em Ciudad del Este, meca paraguaia da muamba na fronteira com o Brasil, são os receptores de sinal de satélite dos canais fechados vendidos a partir de 200 reais. Hoje, 13% dos gastos de brasileiros com TV por assinatura são direcionados às operadoras ilegais. A farra, porém, pode estar prestes a acabar. Um projeto que tramita no Senado prevê multa de 10 000 reais e prisão de seis meses a dois anos para quem distribuir ou receber sinal pirata de TV paga — apesar de uma consulta pública feita pelo próprio Senado mostrar que 95% dos brasileiros rejeitam a criminalização do gatonet. “Temos de sair da situação em que sonegação, roubo de carga e outros crimes podem se acomodar dentro do jeitinho brasileiro”, diz Antonio Ferreira Martins, vice-presidente jurídico da Raízen, que lembra que os carros no país consomem 6 bilhões de reais por ano em combustível adulterado.

Geraldo AlckminDiante de tanta pirataria, como combater o problema? Avançar em mudanças dos impostos seria um bom começo. A comissão do Congresso para a reforma tributária, encerrada no ano passado diante dos problemas do governo de Michel Temer, deve recomeçar os trabalhos em junho e espera-se que encaminhe uma proposta a plenário ainda em junho. A principal medida cogitada é transformar nove impostos sobre o consumo em dois: no imposto de valor agregado (IVA) e num adicional para determinadas categorias, como o cigarro. A ideia é taxar menos bens e serviços para baratear os produtos originais — e reduzir, portanto, a diferença em relação ao produto pirata, que custa menos. “Sairíamos do pior sistema tributário do mundo para o melhor”, diz o relator da medida, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). A proposta conta com o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de presidenciáveis. “No mundo inteiro, a tributação é feita com o IVA. É urgente simplificar nosso modelo tributário para recuperar a competitividade e reduzir a sonegação”, disse Geraldo Alckmin no evento organizado por EXAME. “Temos uma cultura cartorial no Brasil, de regras e mais regras. A mania de criar cobranças para cada caso é o que faz o sistema ser tão complexo.” Em paralelo, um projeto do setor privado tem ganhado força. Por iniciativa da Associação dos Industriais da Colômbia, um grupo de entidades empresariais de 15 países, incluindo o Brasil, criou em 2016 a Aliança Latino-Americana Anticontrabando para fiscalizar em conjunto a pirataria e pressionar os governos a atacar o problema. “O plano é que o grupo seja presidido por gente da iniciativa privada e do governo, como por membros do Itamaraty, do Gabinete de Segurança Institucional ou da Receita Federal”, diz Edson Vismona, presidente do ETCO. Não faltam propostas para combater a pirataria. Resta saber se elas serão adotadas com força e velocidade ante um problema que não para de crescer.

COMO RESOLVER O PROBLEMA DA ECONOMIA ILEGAL NO BRASIL

Lideranças empresariais, políticas e do terceiro setor debateram os efeitos perversos sobre a economia brasileira do consumo de bens e serviços que não pagam impostos nem respeitam as regras da concorrência — o que inclui cópias falsificadas e itens contrabandeados de países com carga tributária inferior à brasileira
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Em evento da revista Exame, patrocinado pelo ETCO, especialistas e autoridades falam sobre práticas ilegais que prejudicam o país.

Em um momento no qual o Brasil debate a complexidade do seu sistema tributário, os danos causados pela chamada “economia cinza” (pirataria e outras práticas ilegais) impressionam: todos os anos, 15 setores perdem mais de 100 bilhões de reais e o governo perde quase 50 bilhões de reais em tributos sonegados.

Leia matéria completa e assista aos vídeos produzidos pela Revista Exame, durante o Exame Fórum – Combate à ilegalidade

Fórum Exame discute o mercado ilegal

WhatsApp Image 2018-05-24 at 14.11.08A revista EXAME realizou hoje, 24/05, com o patrocínio do ETCO, o EXAME Fórum – Combate à ilegalidade. O evento reuniu empresários, economistas e representantes da sociedade civil para debater e discutir propostas sobre o tema.

Questões como a alta carga e tributária e sua complexidade, foram levantadas pelo presidente do ETCO em sua palestra de abertura, como um dos principais desafios no combate ao mercado ilegal.

Apesar dos prejuízos causados à sociedade e aos cofres públicos, todos concordaram que o tema não é debatido com a frequência que deveria.

“A falta de discussão é um desafio ao enfrentar o comércio subterrâneo, porque é no subterrâneo que ele atua e movimenta bilhões de reais”, afirmou Edson Vismona, presidente do ETCO.

Para o economista Samuel Pessoa a simplificação tributária é o principal caminho a ser percorrido para solucionar o problema.

“Há pequenos grupos econômicos com muito peso no congresso, que conseguem fazer barulho e, assim, aprovar exceções tributárias”. ele afirma que a construção de um sistema de impostos muito mais simplificado teria um impacto na economia brasileira semelhante ao Plano Real.

WhatsApp Image 2018-05-24 at 15.08.38 (1)O ex governador de São Paulo e pré candidato à Presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, também esteve presente ao evento. Ele recebeu das mãos do presidente do ETCO, o Manifesto sobre Segurança e Desenvolvimento, documento que registra os princípios e propostas defendidas pelo Movimento em Defesa do Mercado Legal, liderado pelo ETCO e FNCP, que reúne mais de setenta entidades da sociedade civil. O ex governador também recebeu o Manifesto ETCO sobre Tributação e Desenvolvimento, este com princípios e propostas defendidas pelo Instituto.

Orçamento baixo emperra combate ao contrabando, afirma Rodrigo Maia

Presidente da Câmara abre seminário Segurança e Desenvolvimento: a importância
do combate ao mercado ilegal

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fala na abertura do seminário Segurança e Desenvolvimento: a importância do combate ao mercado ilegal, em Brasília - Keiny Andrade/Folhapress
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fala na abertura do seminário Segurança e Desenvolvimento: a importância do combate ao mercado ilegal, em Brasília – Keiny Andrade/Folhapress

A diminuição da presença do Estado e a criação de ambientes juridicamente seguros aos investimentos foram apontados por Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, como medidas para o país avançar em diversas áreas, inclusive no combate à violência e o contrabando nas fronteiras.

Segundo Maia, é necessário discutir e reformular a legislação atual para mudar o cenário de um modelo burocrático e que inviabiliza o crescimento do país. “Vivemos hoje uma grande anomalia quanto às leis, o Estado brasileiro e a sua execução. Deveríamos ter um objetivo claro e pactuado para que esses temas fossem tratados de uma forma mais transparente e com mais seriedade”, disse.

A fala do deputado abriu o seminário de Segurança e Desenvolvimento: a importância do combate ao mercado ilegal, realizado pela Folha, com patrocínio do ETCO, na manhã desta terça-feira (20), em Brasília.

O parlamentar afirmou que são necessárias reformas estruturais em todas as esferas políticas. “Se não tivermos coragem de enfrentar esse sistema, ano após ano, teremos o avanço do contrabando, da falsificação e da violência.”

Segundo ele, “alguns têm coragem de enfrentar temas polêmicos e com rejeição na sociedade. Outros preferem que o tempo dê solução para esses problemas”. Em diversos momentos, o presidente da Câmara dos Deputados afirmou ser necessário repensar o papel estatal na sociedade.

Para Maia, a máquina pública atrapalha e afasta o interesse dos investidores. “Muitas vezes, no meio de um processo de investimento, o governo tenta mudar regras para aumentar sua arrecadação. Precisamos garantir essa segurança para que o setor privado possa investir mais no nosso país”, afirmou.

 
AGÊNCIAS REGULADORAS

Maia também criticou a atuação das agências reguladoras brasileiras. Segundo ele, a nomeação por cargo político mina a eficiência das entidades. “Pode ter gente muito boa lá, mas isso é por sorte. Não há regra clara para ter na agência pessoas que de fato têm preocupação com o tema que estão lidando. As regras de nomeação devem ser mais rígidas para que tenhamos pessoas representando o Estado brasileiro, e não o governo.”

 
FALTA DE GESTÃO E ORÇAMENTO

O deputado afirmou que o baixo Orçamento prejudica o combate ao crime organizado e à violência. Como exemplo, citou os dois programas de controle de fronteiras desenvolvidos pelo governo federal : o de áreas secas, comandado pelo Exército, e as fronteiras marítimas, sob responsabilidade da Marinha, e que estão atrasados pela falta de gestão e investimentos.

“Já se sabe onde está o problema, qual a fronteira com mais problema, onde estão as facções criminosas, como elas comandam o crime de dentro dos presídios. Mas estamos todos imobilizados”, disse.

CONTROLES FINANCEIROS

A modernização dos sistemas de controle financeiros foi mencionada como parte das soluções aos déficits em diversos âmbitos da fiscalização brasileira.

“A inclusão de plataformas digitais coibirá diversas práticas ilícitas, desde a sonegação fiscal às movimentações que financiam o crime organizado”, disse Maia.

O presidente da Câmara afirmou que também é necessário dar atenção aos espaços públicos para evitar a disseminação de práticas criminosas.

“Não tem um espaço público degradado que a ilegalidade não comande e se beneficie”, afirmou.

Fonte: Folha de São Paulo (20/02/2018)

Comunicação entre órgãos de controle é essencial para coibir o comércio ilegal

Especialista explica a ligação entre associações de contrabando na América Latina e organizações terroristas

A integração e o reforço da comunicação entre as diferentes organizações de combate ao contrabando e ao comércio ilegal, no Brasil e
em outros países, são a principal forma de coibir com sucesso a prática desses crimes, que, em alguns casos, têm ligação com ações de terrorismo no exterior.

Essa foi uma das conclusões de especialistas que debateram o tema durante o seminário Segurança e Desenvolvimento, organizado pela Folha, com patrocínio do Instituto ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), nesta terça-feira (20), no teatro do Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília. O debate foi mediado pelo jornalista da Folha Fernando Canzian.

Segundo o secretário-adjunto da Receita Federal, Paulo Ricardo Cardoso, o combate a esses crimes, altamente organizados, é um passo importante para a melhoria do ambiente de negócios no país e para ajudar a garantir a agilidade no fluxo do comércio exterior.
“Hoje o volume de apreensões é crescente. Quanto mais se apreende, mais tem contrabando. Ficamos com a impressão de que estamos enxugando o chão com a torneira aberta”, afirmou.

Paulo Ricardo Cardoso, secretário-adjunto da Receita Federal, Antonio Carlos de Sousa, diretor de inteligência do Coaf, Edson Vismona, presidente do Instituto Etco, e Emanuele Ottolenghi, membro sênior da FDD, durante o seminário, em Brasília - Keiny Andrade/Folhapress
Paulo Ricardo Cardoso, secretário-adjunto da Receita Federal, Antonio Carlos de Sousa, diretor de inteligência do Coaf, Edson Vismona, presidente do Instituto Etco, e Emanuele Ottolenghi, membro sênior da FDD, durante o seminário, em Brasília – Keiny Andrade/Folhapress

AÇÕES DE INTELIGÊNCIA

Apesar de elogiar a intervenção federal no Rio de Janeiro, Cardoso disse que ela não solucionará o problema da criminalidade e que a única forma de combatê-la é promovendo incentivos a ações de inteligência investigativa e uma integração cada vez maior de instituições nacionais e internacionais de combate ao contrabando.

“Semanas atrás foi preso um grande traficante de armas nos EUA, que vendia para o Brasil. Chegamos a ele através da integração das estruturas brasileira e americana de inteligência. É isso que reforça o combate a esses crimes”, disse.

Para o presidente do ETCO, Edson Vismona, o fortalecimento dos mecanismos de comunicação e aproximação de informações dos órgãos de inteligência é o caminho mais efetivo e menos custoso para deter o contrabando. Ele defendeu a criação de uma aliança latino-americana contra esse tipo de crime e também um maior engajamento da sociedade civil, solicitando e
apoiando providências na área. “O mal faz ligações, se une, interage, então temos de fazer o mesmo. Senão, as cidades e os cidadãos são quem sofre as consequências desses crimes”, afirmou.

TERRORISMO

Emanuele Ottolenghi, membro sênior da FDD (Foundation for Defense of Democracies, instituto de produção de conhecimento estratégico sobre segurança nacional), comentou a ligação entre organizações de contrabando na América Latina e órgãos terroristas.

Ele deu como exemplo uma associação criminosa americana que se uniu à máfia da Calábria, na Itália, para contrabandear cocaína da Colômbia para o mercado europeu. Dentre os que foram presos na rede de contrabando, segundo Ottolenghi, apenas um não era da organização criminosa americana nem da máfia da Itália.

“Havia um libanês, que residia a mais de mil quilômetros do sul da Itália. Era o homem responsável por receber, lavar o dinheiro e redistribui-lo aos traficantes de droga da Colômbia”, contou.

“Por que chamar um estrangeiro, que não fazia parte de nenhum dos dois lados do negócio, para gerir a parte mais sensível da transação? A razão é que ele trabalhava para o Hezbollah, organização terrorista que tem uma rede global capaz de lavar dinheiro e entregá-lo de volta ao cartel criminoso, ficando com 20% do lucro.”

Ainda segundo Ottolenghi, na América Latina, o contrabando nem sempre explora apenas a fraqueza geográfica das fronteiras nacionais, mas também a corrupção estrutural das pessoas que as controlam, fazendo pagamentos a juízes e autoridades para facilitar a passagem da mercadoria.

Ele afirmou que, além de estar financiando o terrorismo, é preciso se preocupar com o contrabando porque é ele que permite o funcionamento de sindicatos criminosos dentro de países latino-americanos como Brasil e Paraguai, levando indiretamente à escalada da violência na região.

SECAR A TORNEIRA

Uma das principais formas de coibir o contrabando e a lavagem de dinheiro é suprimir as fontes financeiras dessas organizações, de acordo com o diretor de inteligência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Antonio Carlos de Sousa.

“Você pode só prender o bandido, mas ele vai sair de lá rico. É necessário quebrar economicamente as associações criminosas”, afirmou.

No caso do Brasil, Sousa defendeu a criação de uma estratégia nacional de combate à lavagem de dinheiro e corrupção, ressaltando o papel importante do setor econômico na iniciativa.

Uma ação que Sousa citou como fundamental foi a obrigação para os bancos de comunicar automaticamente ao Coaf mais informações sobre saques em dinheiro vivo feitos acima de R$ 100 mil. Em dezembro de 2017, esse valor caiu para R$ 50 mil.
“Quando você suprimir esse pagamento, essas organizações sentirão o baque”, disse.

Fonte: Folha de São Paulo (20/03/2018)

 

É impossível controlar fronteiras sem tecnologia, diz Ministro Etchegoyen

“É impossível fazer o controle das fronteiras brasileiras sem tecnologia, que também deve ser feito em parceria com os países vizinhos, locais de nascimento da maioria dos crimes transnacionais praticados dentro do Brasil.”  As afirmações foram feitas pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, durante o seminário Segurança e Desenvolvimento, promovido nesta terça-feira (20) pela Folha, com patrocínio do Instituto ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília.

“É absolutamente impossível controlar as fronteiras sem tecnologia. Não há a menor possibilidade de que venhamos a monitorar áreas tão largas, terrestres e marítimas, que têm trânsito tão intenso, em regiões tão remotas, sem tecnologia”, afirmou. De acordo com o ministro, os trabalhos estão sendo desenvolvidos para a criação de um sistema integrado para monitorar as fronteiras, em parceria com outros países.

Etchegoyen, em seu pronunciamento, também falou das características dos crimes transfronteiriços e transnacionais. “É preciso diferenciar um do outro. O transfronteiriço é o pequeno delito, com alcance limitado à sua área geográfica de atuação. O transnacional tem estruturas de um lado e de outro da fronteira, tem alcance nacional e até fora. E esse é obviamente a prioridade que foi estabelecida.”

O ministro ainda afirmou que as diferentes características da fronteira são um obstáculo, mas que nelas não há discussões envolvendo ódio e preconceitos, como em outros locais do mundo. “[As fronteiras são] nossa riqueza e nosso grande desafio. São 16.700 km das mais variadas naturezas. Ao mesmo tempo há algumas vantagens competitivas. Em nenhum metro identificamos as tragédias fronteiriças que ocorrem mundo afora, com exclusão, ódio e preconceito.”

Ainda conforme o ministro, crimes transnacionais nascem em sua maioria fora do Brasil e, por isso, é importante estreitar as relações com os países vizinhos. Ele disse que o governo tem conversado sobre o assunto com todos os países sul-americanos, exceto a Venezuela, por causa dos problemas enfrentados no país do ditador Nicolás Maduro. “Mas não estão ali as fontes maiores das preocupações em relação aos crimes transnacionais.

Fonte: Folha de São Paulo (20/03/2018)