Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos

Em seu primeiro livro, a socióloga Ludmila Costhek Abílio, professora da PUC-Campinas, investiga o trabalho de revendedoras de cosméticos da indústria de beleza brasileira. O ponto de partida desse estudo inovador é um exército de aproximadamente 1 milhão de revendedoras (equivalente à população da cidade de Campinas-SP), responsável pelo sucesso comercial de uma das mais importantes e reconhecidas empresas de cosméticos do país, a Natura. Ancorada em um rico estudo de campo, a pesquisadora propõe uma abordagem original sobre o trabalho informal feminino dentro de um segmento denominado Sistema de Vendas Diretas.

Além de analisar aspectos da produção e distribuição da empresa e da economia informal, a autora traça o perfil socioeconômico das revendedoras, suas motivações e como se dá o relacionamento com o trabalho e a empresa. Para isso, entrevistou desde faxineiras a mulheres de altos executivos, passando por professoras, donas de casa e até uma delegada da Polícia Federal, que vende os cosméticos no prédio da própria corporação.

Ao finalizar a pesquisa, Ludmila constatou certa ambiguidade na relação dessas mulheres com a empresa, uma vez que começam a vender seus produtos com o intuito de consumi-los. Também percebeu que nessa dinâmica de trabalho o empregador transfere os riscos para as revendedoras, como a inadimplência de clientes, não lhes dando garantia de rendimento, ao mesmo tempo que as encoraja a investir em estoques que podem nunca ser vendidos.

Dentro do contexto que faz com que as revendedoras se tornem propaganda viva dos produtos, seu capital social pessoal se transforma em um meio para alavancar os lucros da companhia; um dos pontos centrais da discussão levantada pela socióloga diz respeito às indistinções entre tempo de trabalho e de não trabalho, às formas atuais de envolvimento subjetivo do trabalhador. Esse embaralhamento das fronteiras entre produção e consumo, inseparável das influências sociais e culturais, é um fenômeno novo, assim como a perda da centralidade do trabalho.

Fonte: Portal Carta Maior

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Entra em vigor penalidade para quem não registar empregado em carteira

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) fechou o cerco contra os empregadores que mantêm os trabalhadores domésticos na informalidade. Após definir uma multa mínima de R$ 805,06 para o patrão que não assinar a carteira, a pasta publicou uma norma que define como será feita a fiscalização das relações trabalhistas. Especialistas avaliam que as medidas tomadas pelo governo são importantes para garantir os direitos dos empregados.

Publicada no último dia 07/08, no Diário Oficial da União, a Instrução Normativa nº 110 define que os auditores do trabalho farão uma fiscalização indireta, a partir de denúncias e informações. Eles enviarão uma notificação postal, com hora, data e local em que os patrões deverão comparecer para comprovar o vínculo empregatício. Os empregadores terão de apresentar uma cópia da Carteira de Trabalho com os dados do trabalhador e do contrato.

Quem não puder comparecer poderá indicar outra pessoa da família, desde que tenha pelo menos 18 anos. Os empregadores que não atenderem a notificação serão multados e responderão um processo administrativo. Os auditores ainda poderão fazer uma visita na casa em que há suspeita de trabalho informal. Após apresentar sua Carteira de Identidade Fiscal (CIF), poderão ingressar na residência com o consentimento por escrito do empregador.

Fonte: Correio Braziliense

Programas sociais ajudaram a frear aumento da pobreza no Brasil

O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2014, divulgado na última quinta-feira, 24/07, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), defende que a ampliação dos gastos públicos e dos programas sociais ajudaram o Brasil a impedir o retorno das camadas mais vulneráveis da população à pobreza, após a crise econômica global de 2008.

De acordo com o documento, a política anticíclica (aumento de gastos públicos em momentos de baixo crescimento econômico), os programas de transferência de renda e a política de valorização do salário mínimo fizeram o consumo dos 40% mais pobres da população continuar a crescer em ritmo maior que a média da população.

Para o presidente do Pnud no Brasil, Jorge Chediek, a estratégia de aumentar gastos públicos para conter crises econômicas deveria ter sido seguida pelos países mais ricos. “Recomendamos a adoção de políticas anticíclicas em momentos de instabilidade econômica. A receita não foi seguida nos países desenvolvidos, que cortaram gastos e agravaram o desemprego, e a vulnerabilidade da população”, comparou.

Segundo Andréa Bolzon, coordenadora do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, a ajuda às populações mais pobres não se resumiu aos programas sociais. A ampliação do crédito e a valorização do salário mínimo ajudaram a manter a formalização do mercado de trabalho por meio do estímulo ao consumo interno.

“No mundo inteiro, existe a tendência de queda do emprego e aumento da informalidade. O Brasil é um dos poucos países a registrar aumento do emprego e diminuição do trabalho informal entre 2007 e 2010”, apontou Andréa.

Para saber mais, acesse.

Pesquisa revela: trabalhador não sabe como se formalizar

Estudo realizado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas mostra que metade dos trabalhadores informais brasileiros não sabe o que fazer para regularizar o próprio negócio.

Aplicada entre trabalhadores informais de todas as capitais brasileiras, a pesquisa, recentemente publicada, mostra que 49% dos entrevistados não sabem o que fazer para regularizar o próprio negócio. O dado, preocupante, revela que as medidas adotadas pelo governo para facilitar a formalização do pequeno empreendedor precisam ter maior divulgação.

Realizado com o objetivo de observar o comportamento dos empreendedores que trabalham no mercado informal e identificar os motivos da informalidade, o estudo revelou ainda que 46% dos trabalhadores informais nunca ouviram falar, por exemplo, sobre o Microempreendedor Individual (MEI). Essa modalidade de formalização é destinada a pessoas que faturam até R$ 5 mil por mês, exatamente o perfil de 97% dos comerciantes e prestadores de serviço entrevistados. A pesquisa revelou que os informais ganham, em média, R$ 1.305,00 por mês. Ao todo, 59% trabalham com comércio e 41%, no setor de serviços.

Quando indagados sobre as principais razões para ficar na ilegalidade, as respostas mais frequentes foram o alto custo e a burocracia para abrir um negócio formal. Na avaliação do Presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, isso só reforça o dado de que eles realmente desconhecem as ferramentas de regularização.

A pesquisa revela também que três em cada cinco (61%) trabalhadores informais pretendem fazer investimentos no próprio negócio este ano. No entanto, 75% afirmam que, para isso, terão de colocar a mão no próprio bolso, enquanto apenas 14% vão recorrer a bancos ou financeiras. A maioria afirma querer ampliar a atividade, mas não pretende formalizá-la porque diz temer a burocracia, a queda no rendimento e novos custos.

O Gerente Financeiro do SPC Brasil, Flávio Borges, explica que, ao se manter na clandestinidade, o trabalhador informal não consegue crédito em instituições financeiras e perde a oportunidade de ampliar o próprio negócio. “Além disso, eles deixam de ter acesso a benefícios como direito a aposentadoria, auxílio-maternidade, emissão de nota fiscal ou possibilidade de ter um funcionário registrado”, argumenta.

Com os dados em mãos, representantes da CNDL e do SPC Brasil vão apresentar o estudo ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), para debater maneiras de intensificar o trabalho de esclarecimento a esses trabalhadores informais. “A ideia é juntar forças e auxiliá-los no excelente trabalho que já prestam à sociedade”, disse Pellizzaro Junior.

Foram ouvidos para a pesquisa 612 empreendedores autônomos informais (sem inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) dos setores de comércio e serviços nas 27 capitais brasileiras.

(com informações da Assessoria de Imprensa/SPC Brasil)

 

 

PEC dá mais direitos às domésticas, mas informais ainda são maioria

Fonte: G1

Pesquisador do Ibre/FGV diz que informalidade deve aumentar com lei.
Secretaria de Políticas para Mulheres e sindicato apostam em regularização.

Aprovada na última terça-feira (26) pelo Senado, a chamada PEC das domésticas dá mais direitos aos profissionais da categoria. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, a maioria desses trabalhadores ainda está na informalidade.

De cada dez trabalhadores domésticos, só três tinham registro na carteira de trabalho, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2011. A taxa de informalidade entre esses empregados chega a 69%, e é ainda mais alta entre as mulheres, que são mais de 93,6% deste mercado. Para elas, a informalidade é de 70,7%, contra 53% entre os homens.

Trabalhadores domésticos - formalização (Foto: Editoria de Arte/G1)

Os dados levam em conta trabalhadores como motoristas, cuidadores, empregadas mensalistas e até as diaristas, formando um universo de 6,6 milhões de trabalhadores.

Segundo o Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos de São Paulo (Sindoméstica-SP), a informalidade entre as mensalistas alcança 63%, sendo que as outras 47% têm registro em carteira.

“É um dos setores com mais informalidade da economia, com certeza”, diz o professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Fernando de Holanda Barbosa Filho.

A informalidade é ainda mais acentuada na região Nordeste, onde apenas 14% das domésticas têm carteira assinada, contra 36% no Sudeste.

Entre 2001 e 2011, a taxa de formalização entre as domésticas cresceu 31,8%, enquanto o número de trabalhadores domésticos cresceu 11,95%. Entre 2009 e 2011, a taxa subiu apenas 3 pontos percentuais, de 26,4% para 29,3%, uma diferença considerada pequena pela Secretária Nacional de Avaliação de Políticas e Autonomia Econômica das Mulheres, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Tatau Godinho.

Maior ou menor formalização?
Tatau acredita, no entanto, que a formalização irá aumentar com a PEC das Domésticas.

“A expectativa é que a legislação eleve a formalização porque avaliamos que há um aumento do reconhecimento na sociedade brasileira de que isso é um direito”, diz Tatau. “Não acredito que vai diminuir, até porquê quem está com muito medo é porque não cumpre os que elas já têm hoje.

Mesma opinião tem a presidente do Sindoméstica-SP, Eliana Gomes Menezes: “deve melhorar porque o patrão vai respeitar mais os empregados. Hoje mesmo, diversas pessoas vieram tirar dúvidas sobre como formalizar”, afirma.

Mas o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Ibre, acredita que a PEC das Domésticas vai elevar o grau de informalidade no mercado por conta da elevação dos custos trabalhistas. “Sobre a lei, o que se observa é que ela tende a aumentar a informalidade, possivelmente vai haver uma troca (de domésticas para diaristas), substitui um tipo por outro. O governo vai antecipar um processo natural, já que esse trabalho estava sendo reduzido, mas ia demorar alguns anos”, diz Barbosa.

O salário médio dos trabalhadores domésticos está aumentando em ritmo elevado, entre 2009 e 2011, segundo a PNAD. A alta foi de 18% para os trabalhadores com carteira assinada e 29,7% para os sem carteira.

O pesquisador, que desenvolve o Índice de Economia Subterrânea (IES) em parceria com o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), acredita que o ajuste não será imediato; deve acontecer gradativamente.

Para a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, já há diminuição do número de trabalhadoras domésticas no país, em parte porque as mulheres buscam outras formas de trabalho e em parte porque as famílias estão se organizando de outra maneira.

Citando a redução de 12% para menos de 3% no número de empregadas domésticas que moravam na casa em que trabalham, entre 1995 e 2009, Tatau Godinho vê uma “mudança brutal das relações de trabalho, da vida domestica, divisão do trabalho entre mulheres e homens”. “A sociedade vai aprendendo a convier com relação que não é servil, é de trabalho”.

Formalização movimenta mercado do patchwork e artes afins

Fonte: SEGS – Portal Nacional de Seguros & Saúde –  09/09/2012
 
 
Desde julho de 2009, está em vigor o programa Microempreendedor Individual (MEI) do Governo Federal, que vem proporcionando aumentos significativos no faturamento para mais da metade dos empreendedores que se formalizam. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e do Instituto Brasileiro da Ética Concorrencial (ETCO), a economia informal brasileira reduziu pelo oitavo ano consecutivo.
 
Para o consultor do Sebrae/PR, Claudinei Guilherme, essa mudança no cenário econômico pode ser explicada pelas facilidades que a formalização exerce sobre o negócio do microempreendedor. “A forte redução da informalidade é decorrente do aumento da carta de crédito disponibilizada pelas instituições financeiras. Para ter acesso ao sistema, é necessário que o empresário se formalize”, explica.
 
A expansão do emprego formal não é caracterizada, apenas, pelo fácil acesso às linhas de crédito, mas, também, pelo recolhimento de impostos com taxas reduzidas e benefícios previdenciários. “A preocupação maior do empreendedor é poder expandir seu negócio e isso é motivado por valores agregados, como poder emitir nota fiscal, vender seus produtos a outras empresas e recolher INSS”, afirma Guilherme.
 
Mercado artesanal
 
Nos últimos 10 anos, o mercado nacional de consumo de artesanato tem sido ampliado e se tornou referência pelas oportunidades de negócios. “Antes, o perfil dos quilters era de uma pessoa aficionada pelas artes manuais. Contudo, atualmente, muitos se tornam artistas por ocasião, iniciando as atividades sem interesse comercial, apenas com a finalidade de se distrair e encontrar pessoas. E, ao final, com o incentivo e apreciação de familiares e amigos, se profissionalizam e se tornam empresários do segmento”, explica Emília Aoki, promotora da feira Quilt & Craft Show.
 
O patchwork e artes afins deixaram de ser apenas hobbies e passaram a contribuir para os bons índices econômicos do País. Uma pesquisa, não oficial, realizada junto aos expositores do 2° Quilt & Craft Show, apontou um crescimento de 20% no segmento, na Região Sul, em comparação com o ano passado. Apesar disso, a alta demanda sofre com a escassez da produção industrial interna. “O mercado do patchwork e outras técnicas de arte com tecido, cresceu rapidamente e as indústrias brasileiras não conseguiram acompanhar esse ritmo. Para atender à demanda, é necessário importar produtos estrangeiros”, declarou Emilia Aoki.
 
A formalização dos pequenos artesãos, neste sentido, não só beneficiaria o empreendedor, mas aqueceria a produção de insumos em larga escala. “Sair da informalidade é importante para o pequeno empresário, pois facilita a aquisição de matérias-primas, no atacado, e desenvolve a própria indústria, aumentando o número de fornecedores”, afirma Aoki.
 
Mudança de planos
 
Foi seguindo por outros caminhos que a empresária Eliane Castelan deixou o sonho primário de ser enfermeira para consagrar-se como artista na técnica do patchwork. Após um período de cinco anos, morando na França, Eliane conheceu as artes manuais e desenvolveu suas habilidades. “Em 1988, fui morar na França e passei a ter aulas de patchwork, uma atividade que, desde então, faz parte da minha vida e é a minha principal fonte de renda”.
 
Ao regressar para o Brasil, a empresária, informalmente, ministrou aulas e comercializou seus produtos por um longo período. No entanto, há sete anos, ela abriu sua própria empresa e, hoje, gera emprego para 14 pessoas, direta e indiretamente. “A partir do momento que formalizei meu negócio, tive um retorno significativo nas vendas e na captação de alunos e pude ampliar meu quadro de colaboradores. Sei que não posso parar porque outras pessoas dependem desse trabalho”, conclui.
 
Para saber mais como formalizar um negócio, o Sebrae manterá um estande durante todo o 2º Quilt & Craft Show, que acontece de 05 a 08 de setembro, no Expo Unimed Curitiba. Mais informações no site: www.quiltshow.com.br.

Artigo – A boa notícia, um alerta e os impostos

Fonte: O Estado de S. Paulo (São Paulo – SP) – 23 de julho de 2012

por Roberto Abdenur*

Traz uma boa notícia o Índice de Economia Subterrânea (IES), estudo que estima os valores de atividades deliberadamente não declaradas aos poderes públicos com o objetivo de sonegar impostos e das de quem se encontra na informalidade por força da tributação e da burocracia excessivas. Em 2011 ele representou 16,8% do produto interno bruto (PIB), o que corresponde a R$ 695,7 bilhões.

A notícia é muito boa porque, no ano anterior, o tamanho estimado do IES foi de 17,7% do PIB, ou R$ 715,1 bilhões. O estudo sobre o IES vem sendo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) desde 2003, quando a economia subterrânea foi estimada em 21% do PIB.

Entre 2004 e 2006 o tamanho estimado dessa economia ficou em torno de 20%. Em 2007 baixou para 19,5%, como resultado do aumento do trabalho formal. A situação econômica do País, o crescimento da classe C e as boas perspectivas para o futuro comprovavam a tendência de formalização do emprego. Em 2008 e 2009, o IES foi de 18,7% e 18,5%, respectivamente, o que seguiu confirmando a tendência de redução das atividades que correm à margem da economia formal.

Aí vem o alerta. Chegar aos níveis dos países desenvolvidos – onde o IES fica ao redor de 10% – parece distante, apesar do número de 2011 (16,8%). É que a tendência de queda pode estar chegando temporariamente ao limite no Brasil, em razão da perda do dinamismo da economia e da redução do ritmo de aumento do crédito.

A perda do dinamismo da economia traduz-se pela perspectiva de um PIB menor. Isso tende a afetar o mercado de trabalho, o que agrava o endividamento das famílias e dificulta o crédito. Passou o momento de deslumbramento com o consumo da nova classe média, ao se perceber que tudo dependia de numerosas prestações a serem honradas.

Ademais da desaceleração da economia, a alta carga tributária também é fator de informalização das atividades no País. O atual sistema tributário eleva o custo da produção da indústria, prejudica a competitividade interna e externa, desestimula os investimentos, diminui o consumo, aumenta o desemprego, estimula a sonegação fiscal e, como resultado geral, contribui para a informalidade e a economia subterrânea.

Comparando carga tributária e PIB per capita, o Brasil fica muito mal colocado, segundo dados do Banco Mundial. Os tributos no País (36% do PIB) estão no mesmo nível da Rússia, Irlanda e Austrália e superam Estados Unidos e Coreia do Sul. Mas esses países têm PIB per capita maior (de três a cinco vezes) que o nosso. Por outro lado, nossos impostos superam os de países como China e Índia, além de Argentina e México, que têm PIB per capita mais semelhante ao brasileiro e conosco competem.

A cobrança de tributos é vital para o Estado, mas o sistema tributário deve estar em harmonia com outros fatores inerentes à atividade econômica. No Brasil, além da carga tributária elevada, o problema reside na complexidade para o pagamento de impostos e na rigidez da legislação para quem atua na legalidade.

Outro estudo do Banco Mundial, denominado Paying Taxes, mostrou que, em 2008, uma empresa-padrão gastava nada menos que 2.600 horas no ano para pagar os impostos básicos no Brasil. Foi o pior resultado em todo o mundo. Nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, eram 12 horas; na Suíça, 63; na Venezuela, 864.

O tempo gasto é consequência direta da complexidade da legislação tributária, que de 1988 a 2005 teve incríveis 3,4 milhões de normas editadas. A demora na simplificação e racionalização do sistema tributário tem sido um dos maiores obstáculos à modernização da economia brasileira. Na medida em que tal complexidade é usada como justificativa para a sonegação de impostos, beneficia transgressores, deteriora o ambiente de negócios, afasta investimentos e reduz o potencial de crescimento do País.

Um sistema mais simples, ao contrário, fomenta o setor produtivo, incentiva o consumo, promove o emprego formal, eleva a renda dos trabalhadores, diminui a sonegação fiscal e reduz a informalidade. Não se trata, na presente etapa, de promover uma ampla reforma tributária – que pode exigir anos de debates e ajustes -, mas de estudar propostas pontuais que poderão ter resultados quase imediatos. Entre essas propostas estão a unificação de impostos e taxas com os mesmos base de cálculo e fato gerador, como bens e serviços (IPI, ICMS, ISS), faturamento (PIS, Cofins), renda (IR, Contribuição Social) ou importação (IPI, ICMS, ISS, Cofins, tarifas).

Diante da tendência apontada pelo Índice de Economia Subterrânea e do cenário global, é preciso, agora, um esforço conjunto – dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário com a sociedade – para estimular a formalidade na economia brasileira.

Vivemos um momento ímpar em nossa história econômica, propício para a revisão de uma série de regras que, historicamente, impedem o crescimento saudável da nossa economia. O louvável esforço da presidente Dilma Rousseff para pôr fim à chamada guerra fiscal e avançar na modernização das regras tributárias, bem como a instituição do microempresário individual – apenas para citar dois fatos recentes -, são exemplos dentre inúmeras propostas que devem ser avaliadas e postas em prática.

Está claro que só existe um caminho para reduzir o tamanho da economia subterrânea. E esse caminho consta de cinco medidas: aprimorar o sistema tributário, reduzir a sonegação fiscal, reduzir o comércio ilegal e a pirataria, reduzir a economia informal e, não menos importante, combater a corrupção. Temos avançado nessas frentes, mas ainda há muito por fazer.

* DIPLOMATA, É PRESIDENTE EXECUTIVO DO ETCO

Digitalização fiscal colabora para reduzir informalidade

Fonte: DCI (São Paulo – SP) – 05/06/2012

De acordo com o professor Roberto Dias Duarte, especialista no Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), essa digitalização fiscal ajudou a diminuir a taxa da chamada economia subterrânea, também conhecida com a economia informal.

De 2007 para 2008, o indicador com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 19,5% para 18,7%. “Isto porque neste período [entre outros fatores] houve a implantação no Sped no Brasil”, avalia. Nos anos seguintes, 2009 e 2010, a taxa – calculada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) – foi de 18,6% e 18,4%, respectivamente.

A explicação, de acordo com o especialista, é porque o Sped , ao facilitar a inclusão dos empreendedores brasileiros no sistema formal (Simples Nacional ou Micro Empreendedor Individual), possibilitou racionalização das obrigações acessórias. Ou seja, o maior entendimento do que deve pagar de imposto ao governo.

“Neste ecossistema fiscal digital, que integra empresas e autoridades, a existência de uma economia subterrânea torna-se cada dia mais difícil e cara”, entende, ao acrescentar que o combate à concorrência desleal é um dos objetivos do Sped e faz com que diminua a informalidade no País.

Por outro lado, Duarte lembra que a taxa da economia subterrânea com relação ao PIB do Brasil, que representa mais de R$ 660 bilhões, é “quase o tamanho de uma Argentina”, além de estar muito acima da média mundial, que é de 10%.

Dificuldades

Para Duarte, a dificuldade em se adaptar ao sistema de digitalização fiscal e contábil, principalmente aos micro e pequenos empreendedores, é uma questão de gestão. “Muitos não se informam sobre essa adequação”.

Para o professor Edgar Madruga, “o maior problema do Sped é cultural”. “O dono de uma empresa tem que saber que é de responsabilidade dele se adaptar ao sistema da melhor forma possível. O risco é todo dele”, analisa.

Segundo a também especialista em Sped, e membro da Associação Brasileira de Advocacia Tributária (Abat), Tânia Gurgel, existe um alto custo para as micro e pequenas empresas, que varia R$ 200 mil a R$ 300 mil, ao envolver desde tecnologia própria para cada obrigação dentro do Sped, até treinamento da equipe interna. “E para as grandes companhias, pode chegar a um custo de R$ 30 milhões”, acrescenta Jorge Campos, especialista fiscal da Aliz, e é também administrador do blog Sped Brasil.

Os comentários dos especialistas foram feitos ontem durante o 1° Fórum Nacional sobre a Era Digital Fiscal e o Cruzamento Eletrônico de Informações Fiscais, realizado pela Aba.

Pesquisa

Pesquisa da JAPS Sped, coordenada pelos consultores José Adriano Pinto e Roberto Dias Duarte, mostra que existem diversos problemas que as empresas enfrentam com relação à Escrituração Fiscal Digital (EFD).

O levantamento, realizado entre 15 e 18 de março de 2012, contou com a participação de 470 profissionais responsáveis pela Escrituração de mais de cinco mil corporações.

De acordo com o estudo, apesar de 90,2% terem transmitido os arquivos no prazo inicial (14 de março), a maioria (60,4%) enfrentou problemas na operação. O ponto de maior destaque foi a insegurança quanto à qualidade do conteúdo. Quase 70% afirmaram que pretendem retificar a Escrituração, sendo que 79,1% declararam enfrentar problemas quanto aos dados da EFD.

“Uma das maiores dificuldades está na preparação dos cadastros das empresas, no alicerce. Como a grande maioria das empresas não possui essas informações centralizadas, esse fato compromete todas as demais operações”, afirma Miriam Negreiro, diretora de consultoria da ABC71.

Ela ressalta que a responsabilidade dessa problemática começa por quem cria ou dá manutenção adequada aos cadastros que possuem implicações fiscais e contábeis e na forma de operar ou usar esses dados.

O estudo também mapeou o perfil dos profissionais que responderam aos questionários e constatou que 30% integram organizações contábeis. O comércio varejista e atacadista também merece destaque com 8,3% e 3,6%, respectivamente.

O setor de serviços apresentou participação de 7,5%. Já o industrial obteve uma participação expressiva, em suas diversas especializações, com destaque para: automobilística (3,4%), bens de consumo (2,8%), siderurgia e metalurgia (2,3%). O setor da construção foi representado por 3,2%.