Cultura das Transgressões – Cenários do Amanhã

A estabilidade econômica consolidada após 17 anos do Plano Real, o respeito às regras democráticas e a ascensão da classe C são fatores que pavimentam o caminho para mudança de uma cultura que vem emperrando a máquina da sociedade brasileira desde o século 16: a cultura das transgressões.

Certos de que, para estar à altura das sociedades mais desenvolvidas da História, é fundamental que o País consiga avançar dentro do ambiente da legalidade, o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) estão determinados a liderar um processo que leve a transgressão a se tornar um termo do passado.

Cultura das Transgressões – Cenários do Amanhã é o terceiro livro da série iniciada em 2008 com Cultura das Transgressões – Lições da História, seguida de Cultura das Transgressões – Visões do Presente, de 2009. Assim como os dois anteriores, esta obra é fruto de debate homônimo, realizado no iFHC em abril, reunindo quatro dos seus cinco autores: Aristides Junqueira; Marcílio Marques Moreira; Paul Singer e Renato Janine Ribeiro para discutir formas de modificar essa cultura, arraigada em uma parte da população brasileira.

“A parceria entre o iFHC e o ETCO tem sido valiosa para sustentar a discussão sobre o tema da transgressão, uma vez que as inovações e transformações da sociedade têm de obedecer a balizamentos permanentes no que diz respeito a princípios éticos. Não é porque o próximo desrespeita princípios éticos que possamos fazer o mesmo. É preciso unir forças para agirmos sem transgressões e exigirmos de nossos representantes nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que não transgridam. Aí, sim, teremos o amanhã que queremos para o Brasil.” (Roberto Abdenur, presidente executivo do ETCO)

 

Sobre os autores:

Aristides Junqueira Alvarenga é mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi Procurador-Geral da República por três mandatos. É autor do livro “A competência criminal da Justiça Federal de primeira instância” (Saraiva) e de dezenas de artigos e ensaios sobre temas jurídicos. Recebeu várias condecorações oficiais, bem como títulos de cidadania honorária de Estados e Municípios.

Gilmar Ferreira Mendes é ministro do Tribunal Superior Eleitoral, do qual foi presidente entre os anos de 2008 e 2010. Também exerceu a presidência do Conselho Nacional de Justiça (2008/2010) e do Tribunal Superior Eleitoral (2006). É professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e do Instituto Brasiliense de Direito Público. Doutor em Direito pela Universidade de Münster, Alemanha, é membro individual da Comissão de Veneza. Tem dezenas de obras publicadas, entre elas “Curso de Direito Constitucional” (Saraiva).

Marcílio Marques Moreira, presidente do Conselho Consultivo do ETCO, é bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Georgetown. É membro honorário do conselho Universitário da PUC e efetivo do Conselho de Administração da Universidade Católica de Petrópolis e da Fundação Getulio Vargas, entre outras instituições de caráter acadêmico e cultural no Brasil e nos Estados Unidos. Professor universitário desde 1956, exerceu uma série de cargos públicos, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ministro da Fazenda.

Paul Israel Singer é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego e professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Foi secretário municipal de Planejamento de São Paulo (1989-1992). É autor de “Aprender economia”, “O Brasil na crise – perigos e oportunidades”, “Economia política de urbanização”, “Globalização e desemprego”, “O que é economia” e “Para entender o mundo financeiro”, e co-autor de “A economia solidária no Brasil”, todos pela Editora Contexto.

Renato Janine Ribeiro Atual ministro da Educação, é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual também se doutorou, depois de defender o mestrado na Sorbonne. Entre outros, publicou os seguintes livros: “A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil” (Companhia das Letras, 2000, Prêmio Jabuti) e “A última razão dos reis” (Companhia das letras, 2002) e “Por uma nova política” (Ateliê Editorial, 2003). Foi diretor de avaliação da Capes (2004-2008), bem como professor visitante da Universidade de Columbia.

Um mundo, entre boas e más transgressões

Valor Econômico – 23/08/2011

Trata-se aqui da transgressão “ruim”, aquela que, particularmente difundida em Brasília, dá demonstrações inequívocas de que, eticamente, este país vai muito mal. Houve, sem dúvida, mudanças importantes em anos recentes – transgressões virtuosas -, movidas por uma vontade nacional de acertar o passo com o que de melhor o exercício da cidadania, pelo voto e outras formas de participação política, pode fazer numa sociedade moderna. A própria derrubada da ditadura militar foi conduzida num processo de transgressão de uma ordem ideológica que se tornara insustentável.

A Constituição de 1988, por exemplo, por que foi chamada de “cidadã”? Por que fez valer uma outra forma de se ver o Brasil e de se organizar a convivência entre brasileiros (ainda que sujeita a ressalvas, pelo entusiasmo desabrido com que se pôs a distribuir recursos sem mencionar exatamente onde buscá-los todos).

O Plano Real foi transgressivo. Romperam-se os grilhões que prendiam o brasileiro às garras do monstrengo inflacionário (e também foi transgressivo o Plano Cruzado; só que não deu certo). O respeito às regras democráticas e mesmo a ascensão das classes de menor renda a patamares superiores de consumo – inclusive de bens públicos – são outras conquistas obtidas pela via de transgressões em relação ao que estava ideologicamente estabelecido.

Deram-se, então, transgressões benéficas, aquelas que incorporam recusa à preservação de uma situação corrente que por algum motivo deva ser superada, para que haja “progresso”. Mas, falou-se em “transgressão”, hoje, e a associação de ideias com o malfeito é imediata. Não se pensa nas “transgressões criativas” de que fala Renato Janine Ribeiro, um dos articulistas que assinam a autoria deste “Cultura das Transgressões no Brasil – Cenários do Amanhã”.

Percorrem-se caminhos, durante e depois das transgressões, criativas ou repulsivas. Pelo lado da luz, diz Roberto Abdenur, que organizou o livro com Fernando Henrique Cardoso, há o registro das estimulantes conquistas feitas e o desafio de se persistir no combate ao lado escuro, essa “cultura das transgressões” que “vem emperrando a máquina da sociedade desde o século XVI” e que precisa dar lugar a uma outra – aquela que permita ao país “avançar dentro do ambiente da legalidade”, de maneira a por-se ” à altura das sociedades mais desenvolvidas da História”.

O Instituto de Ética Concorrencial (Etco), presidido por Abdenur, e o Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC) “estão determinados a liderar esse processo, para ajudar os brasileiros a atingir um grau de maturidade tal que transgressão seja um termo do passado – a “ruim”, por certo, a que irriga a lavoura dos malfeitos e que se nutre também dos desacertos e disfuncionalidades na distribuição da justiça.

“Não se veem sinais de progresso na capacidade do Estado de punir efetivamente o desrespeito à lei, de modo a dissuadir a transgressão às normas legais”, observa Sergio Fausto, superintendente executivo do IFHC. “A percepção é justamente a inversa”. Essa constatação é o ponto de partida deste terceiro volume da série “Cultura das Transgressões”, que o IFHC e o Etco editam em parceria. Antes, foram publicados “Cultura das Transgressões – Lições da História” (2007) e “Cultura das Transgressões – Visões do Presente” (2009).

No livro, questões relacionadas ao ramo da Justiça são temas para Gilmar Ferreira Mendes, ministro do Tribunal Superior Eleitoral, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, e Aristides Junqueira Alvarenga, procurador-geral da República por três mandatos. Mendes trata do desrespeito às garantias que a Constituição oferece às pessoas sujeitas a processos judiciais. Junqueira expõe e analisa a falência do sistema de execuções penais.

Em seu artigo sobre transgressões na economia pública, Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, circula pelos assuntos que mais têm encorpado o noticiário e as análises da vida política brasileira nos últimos tempos, com cenas explícitas de assalto ao patrimônio público. O economista explica a lógica das grandes compras do governo, que parece feita sob medida para proporcionar oportunidades de ação aos fraudadores de dentro e fora do governo. Essa mesma lógica, contudo, pela qual transitam circunstâncias que cercam as compras de vulto, torna a comprovação de fraude quase impossível.

“Obviamente, todas as classes são prejudicadas pela corrupção governamental, mas só os pobres e sobretudo os muito pobres sentem a insuficiência dos serviços públicos de saúde, escola, transporte e saneamento no próprio corpo”, reflexo direto das falcatruas, assinala Singer. Algumas formas de controle social já existem, são atuantes. O trabalho de fiscalização da Controladoria Geral da União é importante. Contudo, “como aos escândalos não se seguem punições e nem novas medidas de prevenção, a opinião pública encara com ceticismo os políticos e – o que é pior – a própria democracia. Daí a necessidade vital de combater a cultura das transgressões, principalmente no gasto público”.

O ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira escreve sobre “Estado e mercado: o desafio de melhor articulá-los”. A escolha do tema “Estado versus mercado” deveu-se à sua convicção de que “a adequada articulação entre um e outro é o elo essencial do inadiável processo de modernização das instituições e dos costumes políticos e econômicos do país e de sua integração competitiva em um mundo que avança a galope”. Para isso, serão essenciais a reforma do Estado, “para capacitá-lo a exercer plenamente o papel que lhe cabe no almejado “aggiornamento”, e a criação de condições indispensáveis ao florescimento de uma economia de mercado eficaz, movida por concorrência leal, sujeita a regras do jogo, fiscalizada por agências reguladoras confiáveis e consciente de suas responsabilidades sociais”.

Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo, pergunta se é possível superar a cultura das transgressões. Seu artigo dilui o tema na questão maior da qualidade da convivência social. “Talvez, mais que a transgressão, o que ameace nossa vida em conjunto seja a indiferença. E o que é mais promissor para nosso viver juntos é uma agenda que recomponha a política a partir das questões que, para uns e outros, discutem o que dá sentido à vida.” Esta seria uma boa transgressão.

Lançado terceiro livro da série Cultura das Transgressões

(da esquerda para direita: Moreira, Cardoso, Junqueira, Abdenur, Ribeiro, e Hoche Pulcherio, presidente do Conselho de Administração do ETCO)

No dia 18 de agosto, o ETCO e o iFHC reuniram-se com autores e convidados no Museu de Arte Moderna de São Paulo para o lançamento do livro Cultura das Transgressões – Cenários do Amanhã, obra que completa a série iniciada em 2008, com “Lições da História”, seguido de “Visões do Presente” em 2009. Neste volume, coordenado por Fernando Henrique Cardoso e Roberto Abdenur, colaboraram Aristides Junqueira; Gilmar Mendes Ferreira; Paul Singer; Renato Janine Ribeiro e Marcílio Marques Moreira.

(Roberto Abdenur e Fernando Henrique Cardoso)

A estabilidade econômica consolidada após 17 anos do Plano Real, o respeito às regras democráticas e a ascensão da classe C são fatores que pavimentam o caminho para mudança de uma cultura que vem emperrando a máquina da sociedade brasileira desde o século 16: a cultura das transgressões.

Certos de que, para estar à altura das sociedades mais desenvolvidas da História, é fundamental que o País consiga avançar dentro do ambiente da legalidade, o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) e o Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) estão determinados a liderar um processo que leve a transgressão a se tornar um termo do passado.

Segundo Roberto Abdenur, presidente executivo do ETCO, “a parceria entre o iFHC e o ETCO tem sido valiosa para sustentar a discussão sobre o tema da transgressão, uma vez que as inovações e transformações da sociedade têm de obedecer a balizamentos permanentes no que diz respeito a princípios éticos. Não é porque o próximo desrespeita princípios éticos que possamos fazer o mesmo”.

Cultura das Transgressões – Cenários do Amanhã é o terceiro livro da série iniciada em 2008 com Cultura das Transgressões – Lições da História, seguida de Cultura das Transgressões – Visões do Presente, de 2009. Assim como os dois anteriores, esta obra é fruto de debate homônimo, realizado no iFHC em abril, reunindo quatro dos seus cinco autores: Aristides Junqueira;  Marcílio Marques Moreira; Paul Singer e Renato Janine Ribeiro para discutir formas de modificar essa cultura, arraigada em uma parte da população brasileira.

“É preciso unir forças para agirmos sem transgressões e exigirmos de nossos representantes nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que não transgridam. Aí, sim, teremos o amanhã que queremos para o Brasil”, completa Abdenur.

Sobre os autores:

Aristides Junqueira Alvarenga é mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi Procurador-Geral da República por três mandatos. É autor do livro “A competência criminal da Justiça Federal de primeira instância” (Saraiva) e de dezenas de artigos e ensaios sobre temas jurídicos. Recebeu várias condecorações oficiais, bem como títulos de cidadania honorária de Estados e Municípios.

Gilmar Ferreira Mendes é ministro do Tribunal Superior Eleitoral, do qual foi presidente entre os anos de 2008 e 2010. Também exerceu a presidência do Conselho Nacional de Justiça (2008/2010) e do Tribunal Superior Eleitoral (2006). É professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília e do Instituto Brasiliense de Direito Público. Doutor em Direito pela Universidade de Münster, Alemanha, é membro individual da Comissão de Veneza. Tem dezenas de obras publicadas, entre elas “Curso de Direito Constitucional” (Saraiva).

Marcílio Marques Moreira, presidente do Conselho Consultivo do ETCO, é bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Georgetown. É membro honorário do conselho Universitário da PUC e efetivo do Conselho de Administração da Universidade Católica de Petrópolis e da Fundação Getulio Vargas, entre outras instituições de caráter acadêmico e cultural no Brasil e nos Estados Unidos. Professor universitário desde 1956, exerceu uma série de cargos públicos, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos e ministro da Fazenda.

Paul Israel Singer é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego e professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Foi secretário municipal de Planejamento de São Paulo (1989-1992). É autor de “Aprender economia”, “O Brasil na crise – perigos e oportunidades”, “Economia política de urbanização”, “Globalização e desemprego”, “O que é economia” e “Para entender o mundo financeiro”, e co-autor de “A economia solidária no Brasil”, todos pela Editora Contexto.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, na qual também se doutorou, depois de defender o mestrado na Sorbonne. Entre outros, publicou os seguintes livros: “A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil” (Companhia das Letras, 2000, Prêmio Jabuti) e “A última razão dos reis” (Companhia das letras, 2002) e “Por uma nova política” (Ateliê Editorial, 2003). Foi diretor de avaliação da Capes (2004-2008), bem como professor visitante da Universidade de Columbia.

CULTURA DAS TRANSGRESSÕES NO BRASIL
Cenários do Amanhã
Coordenação: Fernando Henrique Cardoso e Roberto Abdenur
Prefácio: Sergio Fausto
Colaboradores: Aristides Junqueira; Gilmar Ferreira Mendes; Marcílio Marques Moreira; Paul Singer e Renato Janine Ribeiro
Editora Saraiva
1ª edição, 2011, brochura, 156 páginas
Preço sugerido: R$ 45,00
ISBN 978-85-02-13689-2

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