3 ideias do novo ministro da Educação sobre desrespeito às leis

Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O filósofo Renato Janine Ribeiro assumiu em 6 de abril o posto de ministro da Educação. Intelectual respeitado, ele é professor-titular de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Há quatro anos, Janine Ribeiro escreveu um dos artigos que compõem o livro Cultura das Transgressões no Brasil – Cenários do Amanhã (Saraiva, 200 páginas, R$ 55). Foi o terceiro volume de uma trilogia sobre as razões do descompromisso de muitos brasileiros com a ética, idealizada pelo ETCO-Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial e pelo instituto iFHC, do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Em seu artigo, o agora ministro da Educação fala da importância de haver uma instância superior para vigiar e punir quem ameaça a sociedade para evitar a desconfiança mútua que, em termos metafóricos, poderia transformar todos em serial killers; do atraso da sociedade brasileira em reagir contra os transgressores; da bem-vinda intolerância contra a corrupção; da mentalidade de querer a lei apenas para os outros; e do risco de que, na era do individualismo do Facebook, as pessoas percam o interesse pelas causas comuns.

Confira a seguir 3 trechos do artigo de Janine Ribeiro.

 

1)    A importância de um poder repressor

Suponhamos a seguinte cena: suspeitamos que numa sala esteja um serial killer. Não sabemos quem ele é nem, a rigor, se existe. Mas, se existe e está lá, é alguém espertíssimo. Desmascará-lo é difícil. Tentar uma aliança com os outros contra ele seria a maior das ingenuidades. Qual a melhor estratégia, então, para cada um salvar a própria vida?  É matar todos os outros. Ou seja, temos uma hipótese que se auto-cumpre, uma self-fulfilling prophecy; a mera suspeita de que um, dentre os outros, não seja confiável pode me levar, racionalmente e sem nenhuma ira, a entrar em guerra contra todos.

O que resulta da suspeita de um assassino entre nós, se não houver instância superior e poderosa que investigue e puna, é que cada um fica entregue a sua própria sorte – o que significa: a seu uso da fraude e da violência.

 

2)    A sociedade contra a transgressão

Por uma série de razões, que o trânsito bem expressa, no Brasil acreditamos que o acesso a bens que não existem para todos depende mais de nossa própria astúcia e força do que da boa ordenação social, seja esta espontânea e efetuada pela própria sociedade, seja ela imposta verticalmente pela autoridade política. Quando o trânsito aperta, é frequente que uns procurem ganhar dos outros, indo pelo acostamento, forçando a passagem de seu carro.

Evidentemente, se tivéssemos uma tradição maior de nos organizarmos, como os norte-americanos e os franceses, seria muito difícil apelar à transgressão. O transgressor teria contra ele, não apenas a polícia ou o Estado, mas a própria sociedade. Os prejudicados com o fura-filas teriam facilidade em lhe dizer que ele está errado, que é egoísta, que perturba os outros, em suma, que, longe de resolver o que quer que seja, ele apenas está agravando a situação.

3)    O perigo de só conviver com os iguais

Corremos o risco de que os laços sociais se reduzam ao que tenham de mais narcisista, cada um só convivendo bem com quem é seu similar ou semelhante. Aqui, o grande princípio da igualdade, que inclui a diferença, é substituído pelo da identidade, que não admire quem difira de nós, por natureza, cultura ou crença.

Hoje, as notícias são segmentadas. A ideia, enunciada na década de 1990, de que um jornal em papel teria edições customizadas para cada leitor, de modo que não haveria dois exemplares iguais, não se realizou do modo previsto, mas existe no éter: não há, por exemplo, dois Facebooks iguais. Em síntese, estamos perdendo o referente comum da humanidade. São poucos os momentos em que uma sociedade reage à mesma questão. Note-se que não se trata de reagir igualmente; isso não seria democrático; trata-se, isto sim, de haver perguntas a que todos respondam, mesmo que de maneira diferente. Quando tais questões deixam de existir, é possível que percamos o metro comum, a noção do que é a vida social.

 

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