Os desafios de tributar a economia digital

O advogado, professor de direito e presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF), Gustavo Brigagão, falou sobre passado e futuro da tributação. Ele traçou um breve panorama histórico das escolhas feitas pelo Brasil em matéria tributária e dos reflexos que elas produziram em termos de insegurança jurídica. Em seguida, tratou dos novos desafios que o mundo enfrenta no campo da tributação.

“Nosso sistema tributário é de 1965, quando o mundo era completamente diferente”, lembrou. “As mercadorias eram bens corpóreos que circulavam entre a indústria, o atacado e o varejo, até chegar ao consumo. O serviço era resultado de uma atividade humana, necessariamente.”

Naquela época, segundo ele, enquanto a maioria dos países caminhava na direção de um imposto nacional sobre valor agregado, o Brasil optou por criar impostos distintos para cada ente federativo – o IPI, federal; o ICM, depois ICMS, para estados; e o ISS, municipal. Na avaliação de Brigagão, essa escolha gerou muitos dos problemas jurídicos que surgiriam nas décadas seguintes, conforme a economia ia se tornando mais complexa e as unidades federadas passavam a disputar o direito de tributar as novas atividades que passaram a existir.

Ele citou vários conflitos e suas idas e vindas pelos tribunais, como a distinção entre mercadoria e serviço, a caracterização do local de prestação dos serviços e a definição de insumos. Depois, apresentou uma longa lista de novos desafios que os países estão enfrentando em virtude da globalização e da revolução tecnológica das últimas décadas. “Essas novas tecnologias tornaram o sistema tributário, não só o brasileiro, mas o sistema tributário internacional, caótico”, comentou.

Segundo ele, inovações como e-commerce, cloud computing, internet das coisas, impressão 3D, assinatura de softwares, serviços de streaming, aluguel de imóveis por aplicativo, venda de dados sobre consumidores, publicidade digital e criptomoeda trouxeram uma série de desafios tributários que ainda não encontram respostas satisfatórias em nenhum lugar do mundo. “Hoje, a mercadoria pode ser vendida através de um e-mail. E a impressão é feita na casa do consumidor. Ou seja, a cadeia que existia de circulação de mercadorias passa a ser uma cadeia de valores”, afirmou.

Iniciativas internacionais

Para dimensionar o tamanho desses negócios, lembrou que as cinco gigantes da tecnologia que compõem o acrônimo GAFAM (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft) faturaram 767 bilhões de dólares em 2017. “Isso equivale ao PIB da Suíça”, comparou.

Brigagão destacou três características específicas desses negócios que impõem grande dificuldade à sua tributação: não precisar de presença física no país de prestação do serviço; ter a maior parte do seu valor concentrada em ativos intangíveis; e gerar receita a partir do próprio usuário. “O fornecimento de dados desses participantes cria um valor que faz essas empresas passarem a valer bilhões. Seja através do uso que eles fazem desses dados, seja através da propaganda, do nível de público que o marketing dessas empresas consegue atingir”, explicou.

Ele fez um relato das iniciativas que vêm sendo estudadas ou propostas por organizações como a OCDE, o G20 e o Conselho Europeu e outras adotadas recentemente por países como França, Espanha e Reino Unido para tributar esses novos negócios. Mas ressaltou que elas ainda não apontam em uma direção clara sobre a melhor forma de tributar essas empresas.

Brigagão falou também sobre as dificuldades que as empresas globais têm em entender o sistema brasileiro e fez uma avaliação sobre as propostas de reforma tributária em discussão hoje no País. Defendeu a adoção do IVA para resolver alguns dos principais problemas do modelo atual, como a sua complexidade e cumulatividade, e lembrou que ele é adotado por 165 dos 193 países do mundo. Mas considerou inadequada e possivelmente inconstitucional a forma como ele é proposto na PEC 45.

A compreensão dos investidores

Ao final da palestra, o tributarista Everardo Maciel, coordenador do seminário, reforçou os pontos trazidos por Brigagão sobre os desafios que os países enfrentam para tributar os gigantes da tecnologia. No entanto, apresentou ponto de vista contrário à adoção do IVA, por considerá-lo um tributo do passado, sem deixar de reconhecer os problemas do sistema atual. “Nós estamos discutindo a solução de 1949 para o século XXI”, observou.

Brigagão concordou com a obsolescência do IVA, mas reforçou sua crítica ao caráter cumulativo da tributação nacional e voltou a defender sua adoção para resolver problemas que afetam o desenvolvimento do Brasil. ”Eu gostaria muito de poder dizer a investidores estrangeiros que nós temos uma forma de tributação que é compatível com aquilo que eles conhecem. E hoje eu não consigo dizer isso”, lamentou.

Seminário Tributação e Segurança Jurídica discute caminhos para aperfeiçoar sistema de tributação brasileiro

Promovido pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), evento reuniu alguns dos principais juristas para fortalecer as discussões e levantar as propostas inevitáveis para o atual momento do país

 

Edson Vismona (Presidente executivo do ETCO)

Em meio às discussões sobre a reforma Tributária, o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO) realizou no último dia 25, em São Paulo, o seminário Tributação e Segurança Jurídica. Reunindo alguns dos principais juristas do país, o evento teve como objetivo fortalecer as discussões e levantar as propostas inevitáveis para o atual momento do Brasil. “A tributação é hoje um dos grandes problemas que enfrentamos para atração de investimentos e geração de empregos. Por isso, é nossa obrigação debater o tema e sugerir caminhos que possam aperfeiçoar o sistema”, afirmou Edson Vismona, presidente do ETCO.

O seminário abordou a interpretação da Norma Tributária, o processo tributário, a reforma e a tributação do século XXI. Todas as apresentações foram mediadas por Everardo Maciel, presidente do Conselho Consultivo do ETCO e ex-secretário da Receita Federal, que reforçou a importância do evento. “Essa iniciativa traz à tona o que eu considero como o tema mais relevante para a determinação de investimentos no Brasil, que é justamente a segurança jurídica. É necessário que haja uma definição mais clara, não apenas para o contribuinte, mas, sobretudo, para o investidor dos conceitos que integram e constituem o direito tributário brasileiro”, destacou.

Da esquerda para direita: Dr. Heleno Torres (Titular de Direito Financeiro da USP), Dr. Roberto Quiroga (Prof. de Direito Tributário da USP) e Dr. Humberto Ávila (Titular de Direito Tributário da USP e da UFRGS)

 

 

Primeiro palestrante do dia, Heleno Torres, professor Titular de Direito Financeiro da USP, chamou a atenção para a importância da reforma tributária. “Não haverá recuperação da economia apenas com a reforma da Previdência. É imprescindível uma reforma Tributária que venha para garantir uma previsibilidade dos tributos incidentes sobre as operações comerciais e que reduza a complexidade do nosso sistema”, disse.

Dr. Hamilton dias de Souza, mestre e especialista em Direito Tributário pela USP

A opinião de Heleno foi compartilhada por Roberto Quiroga. Durante sua palestra, o jurista, que é professor de Direito Tributário da USP e do Mestrado Profissional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou a necessidade de um esclarecimento maior em relação ao funcionamento do sistema tributário brasileiro para empresas e para a população. “É fundamental que todos participem das discussões que cerceiam a reforma tributária, principalmente no que diz respeito às regras que poderão sofrer algum tipo de alteração.”

Hamilton Dias de Souza, mestre e especialista em Direito Tributário pela USP, explicou que o Brasil possui um sistema tributário caótico e prejudicial para o ambiente de negócios, o que impacta nos investimentos no país e na geração de empregos. O jurista foi enfático ao defender a reforma, mas com algumas ressalvas. “Deve ser a reforma absoluta e total? Disruptiva? Uma reforma que, ao invés de aproveitar o que funcione bem, crie formas jurídicas totalmente novas? Eu penso que não. Eu sou a favor de uma reforma tributária pontual, que aproveite alguns dos pontos positivos que temos hoje”, afirmou.

Desenvolvimento da segurança jurídica e a tributação do século XXI

Humberto Ávila, referência nacional e internacional em segurança jurídica reforçou o conceito do tema. “A segurança jurídica é o princípio dos princípios. É ela que instrumentaliza a validade e a eficácia de todos os outros”, explicou. Para o professor Titular de Direito Tributário da Universidade de São Paulo (USP) e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o que acontece no Brasil hoje é uma falta de entendimento do Poder Judiciário sobre sua função. “Em muitos casos, ele está preocupado com questões que não são fundamentais”, disse.

 

Dr. Gustavo Brigagão, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF)

Gustavo Brigagão, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF), trouxe o cenário da segurança jurídica e da tributação no século XXI“As novas tecnologias revolucionam o nosso modo de viver e negociar. Para discutir sobre o futuro, é preciso ter consciência sobre os erros do passado em relação a tudo que tange nosso sistema tributário para que, assim, não voltem a ser cometidos”, afirmou.

 

O seminário Tributação e Segurança Jurídica foi realizado no hotel Renaissance, em São Paulo. O evento, idealizado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), contou com o apoio da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE) e do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA).

 

ETCO realiza o seminário Tributação e Segurança Jurídica – Inscrições encerradas

Banner de convite para o seminário realizado no dia 25/6/2019

Uma pesquisa realizada em 2019 pela consultoria EY, a pedido do ETCO, mostrou que o estoque de contencioso tributário apenas do governo federal já equivale a mais da metade do PIB.

No dia 25 de junho de 2019, o ETCO realizou em São Paulo o seminário Tributação e Segurança Jurídica, que reuniu grandes juristas para discutir soluções para os problemas do sistema tributário brasileiro.

Câmara aprova projeto que permite terceirização da atividade-fim de empresa

Deputados aprovaram emenda que permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa privada. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Deputados aprovaram emenda que permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa privada. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira (22) a votação do projeto de lei da terceirização (PL 4330/04). Foi aprovada em Plenário uma emenda que permite a terceirização das atividades-fim das empresas do setor privado e que alterou diversos pontos do texto-base da proposta. O texto seguirá para o Senado.

A emenda, de autoria do PMDB e do Solidariedade, foi aprovada por 230 votos a 203. O texto não usa os termos atividade-fim ou atividade-meio, mas permite a terceirização de qualquer setor de uma empresa.

Assinada pelo relator do projeto, deputado Arthur Oliveira Maia (SD-BA), e pelo líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), a emenda também ampliou os tipos de empresas que podem atuar como terceirizadas, abrindo a oferta às associações, às fundações e às empresas individuais (de uma pessoa só). O produtor rural pessoa física e o profissional liberal poderão figurar como contratante.

Outra mudança em relação ao texto-base é a diminuição, de 24 para 12 meses, do período de quarentena que ex-empregados da contratante têm de cumprir para poder firmar contrato com ela se forem donos ou sócios de empresa de terceirização. Os aposentados não precisarão cumprir prazo. A quarentena procura evitar a contratação de ex-empregados por meio de empresas individuais.

Já a subcontratação por parte da contratada (“quarteirização”) somente poderá ocorrer quando se tratar de serviços técnicos especializados.

 

Empregos ou precarização
O líder do PDT, deputado André Figueiredo (CE), criticou a proposta. “Querem transformar celetistas em PJ [pessoa jurídica]. O projeto original falava em 24 meses e, agora, está em 12. Vai facilitar a burla do projeto legítimo da terceirização”, afirmou.

Para o relator, Arthur Oliveira Maia, o projeto foi debatido durante bastante tempo. Ele ressaltou que a diferenciação entre atividade-meio e atividade-fim foi criada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). “Essa diferenciação só existe no Brasil e não foi criada por esta Casa, que tem a função de legislar”, criticou.

A terceirização da atividade-fim é condenada pelos sindicalistas com o argumento de que fragilizará a organização dos trabalhadores e, consequentemente, sua força de negociação com as empresas. Já os empresários argumentam que essa sistemática de contratação trará mais agilidade e redução de custos para a contratante, com efeitos na economia.

infografico da terceirização

Para acessar a íntegra da proposta: PL 4330/2004

Fonte: Agência Câmara de Notícias (22/04)

Marketing multinível: comissão pode votar relatório que regulamenta atividade

A comissão especial que analisa a regulamentação do marketing multinível (PL 6667/13) pode votar nesta terça-feira (9), às 14h30, o relatório elaborado pelo deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA) sobre o assunto.

O marketing multinível é um modelo comercial de distribuição de bens ou serviços em que os ganhos podem vir da venda dos produtos ou do recrutamento de novos vendedores. Ou seja, o revendedor que indicar outros revendedores também ganha uma porcentagem em cima dessas vendas.

Fonte: Portal EBC (9/12)

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