Especialistas discutem novo sistema IP para computadores

Anatel garante que compartilhamento de IP será feito somente durante a transição para o novo sistema, e que é possível a identificação de investigados em crimes cibernéticos

O Conselho de Comunicação Social discutiu nesta segunda-feira (7) a atualização do sistema IP na Internet brasileira. Em junho do ano passado, o sistema usado para designar endereços IP (Ipv4) no Brasil esgotou-se devido ao uso mais intenso da Internet, principalmente na telefonia móvel. Desde então, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Comitê Gestor da Internet e as operadoras de telecomunicações discutem como fazer a transição para um novo sistema (Ipv6) com número quase ilimitado, porque cada aparelho conectado com a Internet deve ter um número de endereço IP.

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Seminário “Transição do IPv4 para IPv6: acesso, privacidade e coibição de ilícitos”

Até que a transição para o sistema novo ocorra, a Anatel autorizou o compartilhamento dos números IP, ou seja, um grupo de usuários usando simultaneamente o mesmo endereço do sistema. Esse compartilhamento foi duramente criticado pelo Ministério Público na CPI da Câmara que investiga os crimes cibernéticos por dificultar a identificação de computadores e usuários investigados.

O representante da Anatel que falou nesta segunda-feira (7) ao Conselho de Comunicação Social, Rodrigo Zerbone, destacou que o compartilhamento de IP é temporário, somente durante a transição para o novo sistema, e que é possível a identificação pelas autoridades dos investigados em crimes cibernéticos.

“Ainda que haja cem pessoas compartilhando esse endereço IP, existem outros elementos técnicos que conseguem identificar aquela pessoa, aquele dispositivo, aquele terminal específico. Isso está sendo utilizado pelos órgãos de segurança pública para conseguir identificar autores de crimes e outros ilícitos. Existem elementos para identificação, isso torna obviamente um pouco mais complexo, mas a gente tem que lidar com isso, porque o número de endereços IPv4, que é a antiga versão, já se esgotou; então a gente tem que trabalhar com compartilhamento inexoravelmente”

A Anatel já publicou uma portaria com regras para certificação de equipamentos que atendam aos dois sistemas de IP e estabelece prazos para que seja feita a troca pelas operadoras de telecomunicações.

Vice-presidente do Conselho de Comunicação Social, Ronaldo Lemos quer ampliar a discussão sobre o tema. “Esse é um tema que não pode ser analisado apenas no aspecto criminal. Como deixou claro esse seminário, esse é um tema que tem a ver com inclusão digital, com empreendedorismo, com acesso à informação. Outras dimensões precisam ser incluídas no debate. Corre o risco, por exemplo, de se gerar custos exorbitantes especialmente aos pequenos provedores, aos pequenos sites que não são os provedores mundiais, que são mais fortes que os pequenos”.

Todos os agentes que atuam na Internet – usuários, provedores de conexão e conteúdo, o próprio governo e o Legislativo – terão que atualizar o sistema de IP.

Fonte: Agência Câmara de Notícias (7/12)

Novas tendências no combate aos crimes eletrônicos

Da esquerda para direita: Lucimara Desiderá, analista de segurança do CERT.br/NIC.br; Luiz Filipe Couto, especialista em segurança da informação e CEO da Jeenga; Renato Leite Monteiro, professor de direito digital do Mackenzie; Thiago Tavares Nunes de Oliveira, Presidente da SaferNet Brasil e Conselheiro Titular do CGI.br; Vanessa Fonseca, Diretora da Área de Combate a Crimes Digitais da Microsoft e Edgar D'Andrea, sócio da PwC Brasil e especialista em Cyber Security
Da esquerda para direita: Lucimara Desiderá (CERT.br/NIC.br); Luiz Filipe Couto (Jeenga); Renato Leite Monteiro ( Mackenzie); Thiago Tavares Nunes de Oliveira (SaferNet Brasil); Vanessa Fonseca (Microsoft) e Edgar D’Andrea (PwC Brasil )

Assunto foi tema de Congresso da FecomercioSP, com apoio do ETCO

A internet trouxe muitos benefícios aos cidadãos, aos governos e às empresas. Mas muitos riscos também, que exigem mais cuidados por parte de todos. As pessoas, por exemplo, devem ser mais criteriosas aos divulgar seus dados pessoais na rede; governos precisam criar e aperfeiçoar a legislação e a fiscalização; as empresas têm de melhorar as políticas de segurança para proteger sua propriedade intelectual e os dados de seus clientes.

Esses foram alguns dos principais assuntos discutidos no VII Congresso de Crimes Eletrônicos e Formas de Proteção, promovido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O evento, realizado nos dias 18 e 19 de agosto, na sede da FecomercioSP, em São Paulo, contou com palestras de alguns dos maiores especialistas em internet do País, autoridades e representantes de empresas de segurança para internet. O congresso reuniu 800 pessoas e teve apoio do ETCO-Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial.

Um dos temas mais debatidos foi a proteção de dados pessoais disponibilizados na internet. Demi Getschko, presidente do Núcleo de Informação do Ponto BR, entidade que contribui na regulamentação da internet no País, e Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, destacaram a importância da criação da Lei para a Proteção de Dados Pessoais. O anteprojeto, que estabelece regras sobre o que as empresas podem ou não fazer com as informações de seus clientes, está atualmente em fase de consulta pública. Pela internet (neste endereço) é possível ler o texto básico e fazer sugestões que poderão ser incorporadas ao Projeto de Lei.

 

A importância de unir forças

Uma opinião compartilhada por vários palestrantes é a de que o combate aos crimes digitais exige a cooperação de várias instituições. Como lembrou Ronaldo Lemos, muitos atos ilícitos são praticados por pessoas ou sites localizados fora do país, portanto, fora do alcance da legislação brasileira. “O Brasil precisa firmar novos acordos de cooperação judicial”, ressaltou.

A diretora da Unidade de Combate a Crimes Digitais da Microsoft no Brasil, Vanessa Pavilavicius Fonseca, também enfatizou a importância das parcerias. “Na Microsoft, atuamos há muitos anos em iniciativas para melhorar a segurança na internet”, afirmou. “Nossa principal conclusão é que não fazemos nada sozinhos.” Segundo ela, a empresa já fez várias parcerias no País, com órgãos como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Outro tema abordado no Congresso foram os riscos que as empresas correm de ter seus sistemas invadidos. Vários conferencistas discutiram boas práticas para prevenir o roubo de dados valiosos. Craig Moss, Chief Operating Officer do Centro para Empreendimento e Comércio Responsável (CREATe.org), chamou a atenção para o erro comum de achar que a solução depende basicamente de sistemas de proteção de dados e outros instrumentos de TI. “Não dá para resolver o problema só com tecnologia”, alertou Moss, que participou do evento por teleconferência dos Estados Unidos. A melhor abordagem, segundo ele, envolve criar tambén processos de trabalho mais seguros e treinar as pessoas. O CREATe.org é parceiro do ETCO na difusão de boas práticas de segurança da informação no Brasil.

 

Missão do evento

O congresso da FecomercioSP é o maior evento sobre crimes eletrônicos do Brasil. “Hoje, o grande problema é que você tem um avanço colossal da tecnologia, mas não tem proporcionalmente a percepção da sociedade sobre os riscos desse avanço”, afirmou Renato Opice Blum, presidente do Conselho de IT Compliance e Educação Digital da FecomercioSP. “A missão do evento é diminuir essa distância, promover a conscientização sobre os perigos, debater as soluções e compartilhar com o público as novas tendências do mundo digital.”

Na avaliação dele, as grandes empresas que atuam no País, em especial as multinacionais, estão razoavelmente protegidas dos crimes eletrônicos. “O problema maior está nas pequenas, que não dispõem de conhecimento nem cultura para enfrentar esses novos desafios.” Opice Blum acredita que o combate aos crimes digitais depende de uma ação mais efetiva por parte do governo. Há um atraso importante na adoção de políticas públicas específicas, principalmente em relação à educação digital”, afirmou. “Com relação ao legislativo, infelizmente, falta gente especializada no assunto. Deveríamos ter grupos focados em tecnologia, com um grau de dedicação maior, mais centrados e produzindo resultados em menos tempo. Não adianta ficar discutindo 4, 5, 7 anos uma lei que fica obsoleta em 1 ou 2 anos”.

Opice Blum também destacou a importância dos parceiros que ajudaram a viabilizar o VII Congresso de Crimes Eletrônicos. “Hoje, não se faz nada sem bons parceiros que tenham o mesmo foco e as mesmas preocupações”, disse, enfatizando o apoio do ETCO. “O Instituto tem uma participação importante na construção da ética, da legislação e do comportamento, então foi muito importante para o congresso contar com essa parceria”.