Economia baseada no conhecimento

Por ETCO

Autor: Fábio de Castro

Fonte: Agência FAPESP, 06/06/2007

Águas de Lindóia (SP) – “Custos e salários baixos não são boas vantagens competitivas no mercado global. Se o Brasil quiser realmente se desenvolver, a indústria precisa basear sua competitividade no conhecimento e na inovação”, disse o cientista inglês Simon Campbell na 30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), encerrada no último domingo (3/6) em Águas de Lindóia, no interior paulista.

O ex-presidente da Royal Society of Chemestry, da Grã-Bretanha, conhecido por ser o autor da proposta de pesquisa que levou à descoberta do Viagra, usou o exemplo de seu país para defender a importância, para o futuro de nações como o Brasil, dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e da interação entre universidade e indústria.


Segundo Campbell, que foi vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Pfizer, onde trabalhou de 1972 a 1998, a indústria química britânica passou por uma importante transformação nos últimos 20 anos: houve um grande aumento no número de pequenas empresas químicas de base científica que tentam transformar as descobertas derivadas da pesquisa acadêmica em oportunidades comerciais.


“Para criar um contexto em que essas empresas apareçam, a questão-chave é reconhecer que o investimento em pesquisa e desenvolvimento traz grandes benefícios econômicos. Quando começamos o trabalho na Pfizer de Sandwich [em Kent, Inglaterra], éramos cerca de 200 pesquisadores. Hoje, depois da descoberta de vários novos medicamentos por meio de pesquisa, a equipe tem mais de 3,5 mil cientistas”, disse Campbell à Agência FAPESP.


Segundo ele, além de compreender a importância do investimento em P&D, é fundamental construir uma economia baseada no conhecimento. “Sempre haverá um país que venderá mais barato. Por isso, apenas custos não são boa vantagem competitiva. Temos que competir com base em nossas inovações e idéias”, disse.



Entraves burocráticos


Reconhecer o valor da pesquisa acadêmica é outro ponto importante. “Muitas idéias inicialmente parecem ser puramente acadêmicas, mas podem ser transformadas em produtos comerciais. Além disso, é preciso vontade política do governo, como ocorre em São Paulo por meio da FAPESP, de fazer com que agências de fomento estimulem esse modelo de crescimento econômico”, destacou.


Na Grã-Bretanha, de acordo com Campbell, a indústria química é um dos principais setores manufatureiros, que movimenta anualmente 100 bilhões de libras (cerca de R$ 387 bilhões), com faturamento de 6 bilhões de libras e balança comercial positiva de 10 bilhões de libras. Há mais de 400 empresas no setor, a maioria com base em pesquisa. “O setor responde por 25% da P&D industrial”, afirmou.


O vigor do setor ajudou a estimular a explosão de empresas surgidas a partir de universidades. “Houve uma tomada de consciência de que a maior parte da pesquisa básica feita nos laboratórios universitários poderia ser transformada em produtos. Se você olhasse há 50 anos, não veria ninguém fazendo isso. Hoje, os pesquisadores acadêmicos estão se perguntando: depois que fizer meu trabalho acadêmico, como vou comercializá-lo?”, disse.


Para Campbell, um dos principais entraves para o Brasil chegar a uma situação semelhante é o ambiente burocrático que dificulta a tomada de decisões. “Não posso fazer uma análise detalhada, porque não tenho dados precisos sobre o país. Mas, no contato com a comunidade acadêmica daqui, o que tenho ouvido é que a universidade tem dificuldades com uma imensa barreira burocrática cuja transposição é muito difícil”, disse,


Além do Viagra, que hoje rende à Pfizer cerca de U$ 6 bilhões ao ano, Campbell teve participação central nas equipes de pesquisa que descobriram o Cardura, para tratar de pressão alta e problemas de próstata, e o Norvasc, bloqueador de canais de cálcio também para pressão alta e angina.