Pelo fim das transgressões

Por ETCO
02/12/2011

A excelente receptividade que o livro Cultura das Transgressões – Cenários do Amanhã vem recebendo, tanto por parte do público quanto da imprensa, traz consigo matéria de reflexão a todos aqueles que se preocupam com o desenvolvimento saudável da sociedade brasileira, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista social.

Cultura das Transgressões, expressão cunhada pelo ETCO e pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), designa o conjunto de ideias e atitudes que, como o próprio nome já diz, privilegia o ilícito como forma de obter vantagens, um conceito que, infelizmente, está arraigado na sociedade brasileira. Essa cultura coloca o interesse pessoal acima do interesse coletivo e das leis, e o nosso ofício é entender e combater a tolerância com as transgressões historicamente existentes no Brasil, não apenas aquelas relativas ao mundo dos negócios, mas, a partir de uma visão histórica e sociológica, desvendar como esse problema nasceu e se desenvolveu no País.

Da experiência que trago como embaixador do Brasil em países com culturas extremamente diversas, lamento observar que, apesar de existir no mundo inteiro, a corrupção observada hoje no Brasil tem um nível bastante alto, comparado com sociedades organizadas, desenvolvidas e com sistemas políticos mais maduros. O que nós brasileiros temos que fazer é reconhecer nossas limitações e enfrentar nossos problemas, pois temos um longo histórico de transigência com a transgressão, no sentido mais amplo da palavra, seja do aluno que “cola” no trabalho da escola, seja das incompreensíveis, e cada vez mais violentas, infrações no trânsito. É aquela antiga ideia de levar vantagem, que ficou cristalizada num determinado momento em nossa sociedade.

Atualmente, cada vez mais temos visto como o problema da corrupção está literalmente explodindo na cara da sociedade brasileira, mas, por outro lado, felizmente, provocando uma reação saudável da sociedade civil. A sociedade brasileira está evoluindo com o desenvolvimento econômico, com a democracia, com o surgimento de ONGs, com a imprensa investigativa, trazendo à luz histórias de corrupção e, mais do que isso, com a juventude atenta a esses problemas.

Há uma evolução interna na sociedade que é muito saudável. É claro que as mudanças levarão tempo, pois não se supera uma cultura muito arraigada da noite para o dia, mas o processo está em curso e iremos chegar a bons resultados.

Cabe ao ETCO, e às entidades da sociedade civil organizada, entender esse momento e acompanhar essa evolução. E isso não acontecerá com uma atitude paternalista, julgando-nos capazes de mudar a sociedade, mas sim tornando-nos parceiros, apoiando boas iniciativas e usando nossa capacidade de produzir informações que sirvam como ferramentas para dar vida ao combate à transgressão no Brasil. Trabalhar com empenho é a nossa maior garantia de que um dia a cultura das transgressões será esquecida e teremos apenas a cultura da ética em nosso País.

Roberto Abdenur é presidente do ETCO