A ética é um valor indispensável em qualquer sociedade que realmente procure o melhor para os seus membros, porque ela corrige os desvios de conduta que nos afastam do bem comum. No Brasil, nós ainda sofremos muito um tipo de desvio que é a captura de políticas públicas para interesses de grupos específicos: partidários, ideológicos, materiais… Essa captura ocorre diuturnamente. Alguns dizem que esse desvio ético é um legado do patrimonialismo, que justamente coloca o patrimônio pessoal acima do patrimônio geral. Infelizmente, percebo que nos últimos tempos houve uma deterioração do respeito à ética no Brasil.

Cultura das Transgressões

A existência de organizações como o ETCO para combater os desvios é muito importante no mundo todo. No exterior, existem instituições assim ligadas à OCDE, à União Europeia e a outros órgãos com atuação muito decidida em defesa da ética.

Quando assumi a presidência do Conselho Consultivo do ETCO, um dos primeiros projetos que realizamos foi a trilogia Cultura das Transgressões no Brasil: Lições da História, Visões do Presente, Cenários do Amanhã, editada por mim, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e por outros nomes. Em três edições, reunimos grandes pensadores para tratar das raízes históricas, da situação presente e das perspectivas futuras da cultura de corrupção e desvios éticos no País.

Confiança e perseverança

No futuro, gostaria de ver o Brasil enfrentando com mais vigor os frequentes desvios nas relações entre o público e o privado, as capturas e os sequestros das políticas públicas por interesses particulares, que se vê muito inclusive no Congresso Nacional. Esses sequestros são muito danosos ao País.

Deveria haver um esforço intenso, institucional, no combate aos desvios e na defesa da ética, com a característica de uma profunda atenção a dois aspectos: confiança e perseverança. Porque, se não houver confiança, é um desperdício de tempo e de esforços. A perseverança é também essencial.

Na Carta aos Romanos, São Paulo diz que devemos nos alegrar também no infortúnio e na turbulência, porque a turbulência exige a perseverança, boa virtude que leva à esperança, que, quando autêntica, não costuma decepcionar.