Controladoria-Geral da União tem novo Ministro-Chefe

Valdir Moysés Simão, novo Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União (CGU)
Valdir Moysés Simão, novo Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União (CGU)

O novo Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Valdir Moysés Simão, tomou posse no dia 2 de janeiro, recebendo o cargo do ex-ministro Jorge Hage Sobrinho, que ficou oito anos à frente da instituição. Hage participou de vários eventos com o ETCO, especialmente em discussões sobre combate à corrupção.

Em seu discurso, Simão afirmou que a CGU “angariou a credibilidade e o respeito do povo brasileiro em doze anos de atuação, tendo inserido o tema ‘Prevenção e Combate à Corrupção’ na agenda pública do País de forma irreversível”. Ele assegurou que o órgão será “implacável” com aqueles que praticarem corrupção. Também fez uma homenagem ao antecessor: “Um grande país se faz com o trabalho de grandes mulheres e grandes homens, e o ministro Jorge Hage é um deles.”

Jorge Hage, por sua vez, defendeu uma reforma política para evitar a corrupção e também uma reforma no processo judicial para acabar com a morosidade da Justiça, que “alimenta a sensação de impunidade que precisamos superar”. Ao fazer um balanço de sua gestão, afirmou que nos últimos meses foram instaurados mais de 30 processos contra dirigentes, ex-dirigentes e empregados da Petrobras, além de nove ações contra empresas suspeitas de fraude e pagamento de propina.

Simão, formado em Direito e auditor fiscal da Receita Federal há 27 anos, presidiu o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de 2005 a 2007 e de 2008 a 2010. Durante o ano passado, foi secretário-executivo da Casa Civil. Anteriormente, por sete meses, coordenou o Gabinete Digital da Presidência da República. De 2011 a 2013, foi secretário-executivo do Ministério do Turismo.

Três perguntas para Gustavo Ungaro

Gustavo Hungaro, Presidente da Corregedoria-Geral de Administração do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Controle Interno (Conaci)
Gustavo Hungaro, Presidente da Corregedoria-Geral de Administração do Estado de São Paulo e do Conselho Nacional de Controle Interno (Conaci)

Qual é a importância do combate à corrupção, especialmente diante do cenário de elevada impunidade em que vivemos atualmente?

 Certamente, a impunidade é um estímulo à corrupção. Por isso, é necessária a adoção de providências dos governos e da sociedade civil para reduzir as situações em que possam ocorrer desvios. Nesse sentido, a nova Lei Anticorrupção [Lei 12.846/13] representa um instrumento extremamente relevante. A norma traz a possibilidade de punir financeiramente empresas que mantiverem relações impróprias com o Estado e desestimula ações indevidas no meio empresarial. Ela vale também para as entidades da sociedade civil. Portanto, é um universo grande de instituições que está abarcado pela nova lei. Outro ponto importante é que a norma pode ser colocada em prática no âmbito do direito administrativo, sem a necessidade de providências judiciais, e propiciar um resultado com mais rapidez e simplicidade. E, se houver alguma situação inadequada no âmbito administrativo, nada impede que a correção seja feita no âmbito judicial. A Lei Anticorrupção está em acordo com a expectativa da sociedade. Os órgãos de controle interno estão se preparando para aplicá-la. O Estado de São Paulo já regulamentou o dispositivo e a Corregedoria-Geral de Administração já está preparada para aplicá-lo.

 

As empresas estão um pouco temerosas em relação à possibilidade de a norma ser eventualmente mal utilizada e gerar novas situações de corrupção. Como o senhor vê essa questão?

 Eu quero crer que nós vivemos num Estado democrático de direito, que tem instituições maduras e fortes, zelosas pela segurança jurídica, e que tudo isso possa gerar um cenário favorável à aplicação da lei, sem que haja injustiça, perseguição ou uso indevido da norma. O Brasil tem um precedente importante nesse sentido. Desde a década de 90, a Lei Geral de Licitações dá poder à esfera administrativa para aplicar sanções contra empresas, que podem ficar cinco anos sem fazer novos contratos com a administração pública em todo o Brasil. Isso já está em vigor há mais de 20 anos, sem que, no entanto, tenhamos de fato um problema. Portanto, isso é um precedente favorável e otimista para a aplicação da Lei Anticorrupção. No entanto, temos de ter o pé no chão e clareza de que a lei não é tão atraente para quem quiser fazer confissão de um ato ilícito, como é, por exemplo, a Lei de Defesa da Concorrência. Essa norma prevê imunidade em relação à pena prevista para empresas que voluntariamente comuniquem desvios à autoridade, por meio de um acordo de leniência. No caso da Lei Anticorrupção, não há imunidade como resultado desse tipo de acordo. Há apenas redução da sanção cabível. Do ponto de vista da moralidade, a solução da Lei Anticorrupção talvez seja mais adequada. Mas isso pode, naturalmente, fazer com que seja mais difícil que empresas reconheçam a própria falha e gerar uma situação em que a aplicação da lei dependa de investigação e de denúncias. Esse será um desafio à implementação da Lei 12.846/13. Mas a norma já tem seu valor ao difundir uma cultura de comportamento ético, de integridade para evitar situações indevidas. Nesse sentido é muito benéfica para a sociedade.

 

Um dos gargalos da lei é a necessidade de equipar os órgãos da administração pública responsáveis por sua aplicação com ferramentas que permitam, por exemplo, viabilizar investigações. O que pensa a esse respeito?

Isso é um aspecto muito importante. Os órgãos de controle interno no Brasil precisam ser valorizados pelos governantes, ter orçamento adequado, pessoal concursado e preparado para o trabalho. Considerando que governos são grandes aparatos institucionais, é natural que demandem estruturas de controle proporcionais. Eu presido o Conaci, o Conselho Nacional de Controle Interno. Nossa instituição tem o fortalecimento dos órgãos de controle interno como pauta prioritária. Existe no Congresso a proposta de Emenda Constitucional nº 45, de 2009, que estabelece que o controle interno seja exercido por órgãos próprios, com carreiras concursadas. No Brasil, há situações díspares, com órgãos muito bem estruturados, equipados, com condições, experiência e gente capacitada, e também órgãos em situação muito precária. Interessa à sociedade que haja esse avanço no autocontrole da administração. Ao longo do processo histórico recente da democracia brasileira, com a Constituição de 88, houve o fortalecimento do controle externo, representado pelo Ministério Público e pelos Tribunais de Contas, o que é muito bom para a cidadania. Também no controle interno há bons resultados, os quais devem estimular melhorias institucionais a favor da defesa da legalidade e da moralidade.

 

Setor farmacêutico se reúne em torno da Lei Anticorrupção

Atenção e urgência na implantação de programas de Compliance. Esses foram os principais pontos abordados pelos participantes de seminário realizado, em novembro, pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) em parceria com o ETCO, sobre a Lei 12.846.

Em sua palestra de abertura, o ex-CEO de laboratórios internacionais, Jorge Raimundo, lembrou que há dois anos foi concluído o código de ética das empresas farmacêuticas e que a assinatura no documento é pré-requisito para qualquer companhia do setor. “As empresas que querem ter história de mais de 100 anos não podem errar no dia-a-dia. Na indústria farmacêutica é fundamental respeitar os princípios éticos e as empresas têm que seguir códigos de conduta que protejam os investidores de atos ilegais que possam comprometer seu valor de mercado”, acrescentou.

O Presidente-Executivo do ETCO, Evandro Guimarães, destacou o objetivo do instituto de sensibilizar e mobilizar a sociedade para que a nova medida consiga reduzir a corrupção entre os agentes públicos. Já o Presidente-Executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini, citou as denúncias de corrupção levantadas pela Operação Lava Jato para ilustrar a importância de uma mudança de postura das empresas quando o assunto é corrupção. “Quando se vê tudo o que acontece no Brasil hoje, entende-se a importância de se começar a viver a ética dentro do País”.

Durante o seminário, o Diretor de Compliance da CVS Caremark, Alexandre Serpa, destacou que as altas cifras envolvendo as companhias farmacêuticas e o já conhecido modus operandi do setor o coloca na mira da Lei Anticorrupção. Ele salientou que esses fatores intensificam ainda mais a necessidade de empresas do ramo desenvolverem programas sérios de Compliance que, de acordo com a lei, podem servir de atenuantes em casos de condenação. Além disso, ele acrescentou que os riscos para o segmento mudaram nos últimos anos, exigindo uma revisão das ações de prevenção já existentes. “Há 10 anos a corrupção estava em pagar viagens e presentes para médicos. Hoje, envolve medicamentos de alto custo e relações com associações médicas e governo”.

O responsável do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados na área de Compliance, Leonardo Machado, enfatizou a importância que o segmento deve dar ao tema. “A indústria farmacêutica possui características peculiares no contato com o setor público e deve estar atenta aos impactos inerentes ao novo texto legal. Experiências na aplicação de leis anticorrupção similares em outros países, deixam claro que o setor é um dos que mais chama a atenção das autoridades”, afirmou.

Também presente no evento, o Analista de Segurança e Controle da Controladoria Geral da União (CGU), Flávio Rezende Dematté, disse que a Lei 12.846 veio para corrigir um gap do Brasil em relação à responsabilização da Pessoa Jurídica por atos de corrupção. A medida se destaca ainda, segundo ele, por seu foco no viés econômico da corrupção ao impor altas multas e a publicação da condenação dos negócios envolvidos em atos ilícitos.

Adesão a boas práticas é arma contra a corrupção

Ministro Jorge hage, abrindo a Conferência Lei da Empresa Limpa na FGV
Ministro Jorge Hage, abrindo a Conferência Lei da Empresa Limpa na FGV

Diante de tantos fatos envolvendo os setores público e privado no Brasil, falta ao País desenvolver ações que coloquem os colaboradores das duas esferas ao lado de iniciativas anticorrupção. Essa é a opinião do Presidente-Executivo do ETCO, Evandro Guimarães, que participou, em novembro, da Conferência Lei da Empresa Limpa, organizada pela Controladoria-Geral da União (CGU).

O evento, realizado na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, dividiu a discussão sobre a Lei Anticorrupção em painéis. Foram abordados, entre outros pontos, o impacto da medida nas empresas, as adaptações necessárias aos programas de integridade, a efetivação de acordos de leniência.

O Ministro-Chefe da CGU, Jorge Hage, destacou que a Lei 12.846, chamada por ele de Lei da Empresa Limpa, representa mais uma etapa na busca do Brasil por mecanismos de combate à corrupção. Ele acrescentou, contudo, que medidas como o fim do financiamento privado de campanhas políticas e uma reforma política são essenciais para que o País ganhe novo rumo sobre o tema.

A Lei Anticorrupção é o primeiro marco legal brasileiro a prever punições importantes (de até 20% do faturamento ou no limite de R$ 60 milhões quando não for possível aferi-lo) para empresas que atentem contra a ética na administração pública nacional ou estrangeira. As companhias podem ser penalizadas ainda com a publicação ampla da ação condenatória.

Apesar da punição severa, as corporações brasileiras aprovam o mecanismo. Durante o evento da CGU, o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Dalton Sardenberg apresentou pesquisa que mostra que 50% das empresas consultadas são favoráveis à nova legislação. Outros 31% são contra e 19%, neutros. Já a compreensão sobre a lei cresce de acordo com o tamanho do negócio – 70% das grandes corporações entendem a lei. Nas médias e pequenas, o porcentual cai para 39% e 37%, respectivamente. Enquanto 63,6% das multinacionais compreendem a Lei Anticorrupção, o índice é de 40% no caso das companhias familiares.

Mas, independentemente do tamanho, os participantes do evento da CGU reforçaram a importância de todas as corporações desenvolverem e seguirem um código de conduta e uma cultura anticorrupção. “Gostaríamos que todos os negócios pensassem em mecanismos anticorrupção como pensam na CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Que compliance seja preocupação e orgulho de todos os funcionários”, enfatizou Guimarães.

Machado Meyer e ETCO discutem impactos da Lei Anticorrupção

Parte da agenda das empresas desde que entrou em vigor em janeiro último, a Lei Anticorrupção tem gerado novas demandas no ambiente de negócios brasileiro. O assunto, que ainda levanta muitas dúvidas e questionamentos, foi debatido na sexta-feira, 19/09, em evento promovido pelo Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, em parceria com o escritório norte-americano Norton Rose Fulbright e com o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO).

Durante café da manhã, advogados, membros do poder público e da iniciativa privada discutiram cases e mecanismos para enfrentar a corrupção dentro do ambiente empresarial. No evento “Investigar ou prevenir? Como autoridades e empresas estão reagindo às leis anticorrupção”, o presidente-executivo do ETCO, Evandro Guimarães, afirmou que a corrupção está por trás de crimes, como a pirataria, o contrabando e a falsificação, que causam prejuízos bilionários ao ambiente de negócios brasileiro.

Para ele, embora a Lei Anticorrupção tenha sido inicialmente criada para proteger o agente público do assédio de empresas, ela fez com que o setor privado se preocupasse com a integridade interna, minimizando a ocorrência de práticas ilícitas. A implementação da lei, entende o dirigente, será mais difícil nos municípios. “É nessa esfera que existe o risco de mau uso da norma, em especial a instauração de processos baseados em denúncias vazias. É necessário bom senso de todos”.

Além de Guimarães, participaram do evento o líder da área de Compliance do Machado Meyer, Leonardo Machado, o sócio da área Trabalhista do escritório, Sólon Cunha, o coordenador do centro de inteligência da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Fábio Bechara, o advogado do escritório Norton Rose Andrew Raines e o compliance officer da empresa canadense SNC Lavalin, Diogo Moretti.

Colaboração e comunicação são essenciais na implantação de programas de compliance nas empresas

Profissionais de compliance atuantes em empresas associadas ao ETCO reuniram-se na última terça-feira (23) na sede do Instituto, em São Paulo (SP), para discutir como aprimorar os programas de integridade de suas organizações. O workshop, coordenado pelo ETCO, foi conduzido pelo Chief Operating Officer da Create.org, Craig Moss.

Em sua segunda visita ao Brasil, o especialista diz acreditar que há crescente interesse das organizações aqui instaladas no aprimoramento de práticas de compliance. Esse interesse tem sido ainda mais motivado pela entrada em vigor da Lei Anticorrupção (12.846/13), em janeiro, e também pela crescente internacionalização das empresas, que em outros mercados têm de seguir marcos similares, como o FCPA (Estados Unidos) e o UK Bribery Act (Reino Unido).

Para o executivo, uma das chaves para reduzir o custo da implementação de programas de compliance é coletar subsídios de todos os departamentos da empresa antes da elaboração dos códigos de conduta. O RH também deve ser envolvido. Esse departamento tem uma expertise na comunicação com empregados que deve ser utilizada durante toda a implantação, entende o especialista. Craig ressalta ainda que o comprometimento da alta direção com o programa é essencial para sua aceitação na organização. Só então deve ter início a criação dos códigos de conduta, que é, geralmente, a primeira iniciativa das empresas.

Craig observa que o maior desafio nessa fase é fazer um código de conduta que se traduza em procedimentos fáceis de ser seguidos por qualquer pessoa. “É com base nesses procedimentos que serão elaborados os treinamentos dos funcionários, cujo registro e realização devem ser frequentes. Só assim uma política anticorrupção será viva. Conheço companhias no mundo todo que têm boas políticas de compliance, com reconhecimento por seus CEOs da importância delas, mas nada além disso. Então não conseguem ter programas efetivos”, diz.

Outro ponto importante é a realização de uma boa análise de riscos, especialmente quando a empresa depende de uma cadeia de fornecedores muito grande. “Se você tem mil fornecedores para controlar, nunca vai conseguir prestar atenção em todos ao mesmo tempo. Então precisa alocar seus recursos onde o risco é maior, fazendo sempre um programa condizente com o tamanho da sua empresa”, diz Moss.

O especialista acredita que o compliance deve ser visto pelas organizações como uma “jornada”. Problemas podem ocorrer mesmo em empresas com programas já estruturados. Durante o workshop, Moss citou casos de diversas organizações, e destacou o do Morgan Stanley, envolvido em 2012 num esquema de suborno na China. O banco de investimentos conseguiu provar na Justiça americana que tinha feito tudo a seu alcance para coibir fraudes internas e, dessa forma, foi inocentado das acusações e de multas milionárias.

Durante o evento, os participantes puderam fazer ainda uma autoavaliação de seus respectivos programas de compliance. “Leva tempo para avançar sistematicamente em cada um dos passos, mas cada empresa tem sua própria necessidade. É preciso saber o que cada uma precisa”, diz Craig. Ele garante que mesmo empresas de porte médio podem ter um compliance eficiente. “Não precisa ser complicado nem extremamente tecnológico. Só deve ser funcional.”

Confira abaixo os materiais da Create.org:

Compliance Anticorrupção: reduza seus riscos

Guia para melhorar seu programa Anticorrupção

Proteção da Propriedade Intelectual e Prevenção da Corrupção: uma nova abordagem

Evento gratuito de compliance mostra cases de grandes empresas

A consultoria ICTS promove no dia 30 de setembro, no auditório do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo (SP), o evento Compliance na Prática. A proposta é discutir a implementação de práticas anticorrupção em empresas e sua adequação aos novos dispositivos da Lei Anticorrupção (12.846/13). Durante o evento serão mostrados cases de empresas como Ambev, Cielo, Grupo Embraer e Hypermarcas. O evento é gratuito e as vagas são limitadas. A participação deve ser confirmada pelo e-mail eventos@icts.com.br

Data: 30 de setembro de 2014
Horário: 8h15
Local: Auditório do Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Ibirapuera
Endereço: Avenida Pedro Alvares Cabral, s/n°, São Paulo (SP)
Inscrições: eventos@icts.com.br

Seminário realizado pelo ETCO e Valor discute Lei Anticorrupção

Depois do “arrastão” da Lei da Ficha Limpa, que colocou no limbo centenas de candidaturas suspeitas, o país tem agora a Lei da Empresa Limpa (ou Lei Anticorrupção). Em vigor desde janeiro, a lei 12.846 responsabiliza empresas e seus funcionários pela prática de atos contra a administração pública. Com a legislação, o Estado quer punir o agente corruptor e também a empresa que se deixa corromper. Espera, com isso, que o Brasil deixe a incômoda posição de 72º no ranking da corrupção numa lista global de 180 países. A nova lei prevê para os infratores punições que podem chegar a R$ 60 milhões ou 20% do faturamento, sem isentá-los de reparar os prejuízos aos cofres públicos.

Antes de tudo, o propósito da lei é inibidor e educativo. Mais que isso, a lei pretende premiar as empresas “limpas” com melhores condições de competitividade. “A lei tem o poder de igualar as condições de competitividade entre as empresas, fazendo com que o mercado premie aquelas que investem em ética, integridade e eficiência”, disse Sérgio Nogueira Seabra, secretário de Transparência e Prevenção da Corrupção. “Quando se cria igualdade de competição baseada na eficiência, a empresa, o cidadão e o governo se beneficiam. É um jogo onde todos ganham”, comentou Seabra, um dos palestrantes no seminário realizado pelo ETCO e jornal Valor Econômico “A nova Lei Anticorrupção e seus impactos nas empresas”, no último dia 25 de agosto, em São Paulo.

“Trata-se de uma lei destinada a mudar realmente o nível do ambiente de negócios no Brasil”, disse Jorge Hage, ministro de Estado Chefe da Controladoria Geral da União, que também participou do evento. O ministro, no entanto, vê dois obstáculos. Um deles é a “necessária reforma para agilização do processo judicial tanto civil como criminal, de forma que os processos não demorem de 10 a 20 anos”. O outro é a “abolição do financiamento empresarial das campanhas políticas que, aliás, são as duas grandes metas que temos pela frente”.

Para o ministro, a Lei da Empresa Limpa, como ele prefere chamar a Lei Anticorrupção, é mais um marco em um combate que começou uma década atrás, com “os portais de transparência, com a lei de acesso à informação, com a instituição do sistema de corregedorias”. Esses mecanismos, enumerou Hage, “tiraram 4.016 agentes corruptos dos quadros da administração federal, impediram de participar de licitações 3.866 empresas e barraram 2.690 ONGs de receber convênios”.

Para o presidente executivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), Evandro Guimarães, as empresas têm papel importante no combate à corrupção. “É preciso que cada empresa tenha a sua comissão interna para prevenção pró integridade.” Segundo ele, “no Brasil, a sonegação, o contrabando, a pirataria, a adulteração equivalem a um Produto Interno Bruto (PIB) dos países da América Latina”. “O maior patrimônio de uma nação é o mercado interno que tem que ser preservado e não podemos poupar esforços para fazer com que as empresas participem desse movimento anticorrupção”, disse.

Mario Vinícius Claussen Spinelli, controlador geral do município de São Paulo, defende a tese de que “é preciso mudar a relação de promiscuidade entre o setor público e privado no Brasil”. Ele sugeriu que o país adote modelos internacionais que responsabilizem as redes de corrupção. Segundo Spinelli, o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento que não tinham uma lei anticorrupção. Na cidade de São Paulo, os resultados são ilustrativos. Por exemplo, só no mês passado, a arrecadação de ISS Habite-se aumentou 74%. As ações levaram a um esquema de corrupção que envolvia mais de 400 empresas e que agia há uma década. Do total – diz Spinelli -, “apenas cinco delas procuraram a controladoria para colaborar com a investigação e apenas uma delas de livre e espontânea vontade”.

Fonte: Valor Online

Apresentação Gustavo Hungaro

Apresentação Jorge Hage

Apresentação Mario Spinelli

Apresentação Sérgio Seabra

Apresentação Gabriela Freitas

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